Ciclista relata agressão em ciclovia invadida por carros em SP
Carros estacionados irregularmente em ciclovias são uma cena comum para quem pedala em São Paulo, mas nessa segunda-feira (07) a transgressão acabou em confusão na frente de uma escola em São Paulo.
Em postagem que ‘viralizou’ no Facebook, a ciclista Ingrid Godoy relata agressão e ameaças de motoristas na rua Inglês de Sousa, na Chácara Klabin, zona sul da capital paulista. Tudo aconteceu, segundo ela, quando se deparou com vários veículos parados na pista para bicicletas, impedindo a passagem no horário de saída das crianças do colégio.
Ingrid parou no trecho da ciclovia que fica em frente à saída da escola para reclamar com os motoristas. “Eu falava com um perueiro: ‘Imagina se eu ficasse aqui, que é meu lugar, parada, sem deixar os carros saírem? É isso que vocês estão fazendo’”, explica.
De acordo com a ciclista, uma mulher desceu do carro para discutir. “Ela começou a gritar comigo dizendo que ia me atropelar e me tirar dali. Tentou pegar a minha bike e jogar longe. Puxou e puxou, gritando e me ameaçando enquanto suas filhas pequenas aguardavam no carro”, conta.
A situação piorou quando um outro pai foi até Ingrid, que, desta vez, registrou em vídeo (assista abaixo). “Se sou eu, passo por cima de você”, ameaça o motorista, de mãos dada com uma criança. Os dois continuam discutindo até o motorista entrar em seu carro, estacionado do outro lado da rua, também em local proibido. “Ele me empurrou, agarrou minha bike e jogou longe. Enquanto eu filmava a placa, ele acelerou, quase me atropelou e depois ainda engatou a ré”, diz Ingrid.
Desembarque em metade da ciclovia
Procurada, a escola Maple Bear diz que lamenta o ocorrido. De acordo um funcionário da área administrativa do colégio ouvido pela reportagem, os motoristas foram orientados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a usar parte da ciclovia nos horários de chegada e saída de crianças – o órgão não confirma essa versão. (leia mais abaixo)
Em teoria, os carros parariam com apenas duas rodas em cima da faixa para bicicletas, deixando espaço suficiente para os ciclistas passarem. No entanto, no vídeo de Ingrid é possível notar que alguns carros estavam parados sobre toda a ciclovia.
“Vejo esse caso como um problema pontual. Essa solução que a CET nos deu não é o ideal, mas nunca tivemos problemas, dá pra ter um meio-termo”, diz o funcionário da Maple Bear, que pediu para não ter o nome divulgado. Segundo ele, mesmo antes da ciclovia, o colégio fez solicitações de um projeto de sinalização escolar específica no local, mas nunca foi atendido pela prefeitura.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), estacionar sobre ciclovias ou ciclofaixas rende 5 pontos na carteira e multa de R$127,69. Em breve, essa infração deve ser elevada de grave para gravíssima, seguindo projeto que tramita na Câmara dos Deputados e já foi aprovado na Comissão de Viação e Transportes. Em 2016, a CET registrou 2.065 autuações do gênero.
Diretor da Ciclocidade e pesquisador em políticas públicas, Rene Fernandes critica a parada em metade da ciclovia. “É estapafúrdio. Jamais deveriam propor esse tipo de situação e, se fizeram, foi ao arrepio da lei. Nesse caso, o lado contrário poderia servir como uma área de parada para pegar as crianças ao invés das vagas de estacionamento fixas. Inclusive, essa é uma medida usada pela CET em diversos colégios”.
A rua Inglês de Sousa tem mão dupla e uma faixa de rolamento em cada sentido, com ciclovia de um lado e vagas de estacionamento do outro. “Na pior das hipóteses poderia deslocar a ciclovia para o outro lado e ter essa sinalização de embarque/desembarque para as crianças não precisarem atravessar, mas há de se levar em conta todo o custo desse processo”, completa Fernandes.
Mentor do projeto Bike Tour SP, que faz passeios gratuitos de bicicleta na cidade, o empresário André Moral tem dois filhos estudando no colégio e concorda com a solução usada até agora.
“Não vejo nenhum absurdo, pois isso ocorre em dois horários durante o dia e o fluxo de bikes não é tão grande neste trecho. Acredito que o convívio dessa forma é possível. Os pais da sala dos meu filhos pedalam, gostam dos ciclistas. Eu não aprovo a atitude dessa meia-dúzia de pessoas. E nada justifica o ato de violência nem as provocações”, defende.
Em nota, a CET não confirma a versão de que teria sugerido à Maple Bear usar metade da ciclovia para desembarque. A Companhia reforça que estacionar em ciclofaixas e ciclovias é proibido e que infratores estão sujeitos a multa. “A área operacional da CET realiza fiscalização frequente e autua os motoristas que invadem as infraestruturas cicloviárias”. O comunicado ainda diz que “será analisada a área no entorno da escola para viabilizar a sinalização de uma área de embarque e desembarque”.
Veja o vídeo postado pela ciclista Ingrid Godoy:
Leia a íntegra da nota da CET:
“A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) esclarece que é proibido parar ou estacionar nas ciclofaixas, conforme previsto no Código de Trânsito Brasileiro. Os veículos que desrespeitam as regras, podem ser multados. A área operacional da CET realiza fiscalização frequente e autua os motoristas que invadem as infraestruturas cicloviárias.
Em relação ao embarque e desembarque de estudantes em escolas, a CET informa que o Manual de Sinalização de Áreas Escolares, do Denatran, indica que as escolas devem destinar, sempre que possível, espaço interno na escola para o embarque e desembarque de estudantes. No caso do trecho da Ciclofaixa Cambuci, em frente à escola Mapple Bear, será analisada a área no entorno da escola para viabilizar a sinalização de uma área de embarque e desembarque. No site da Mobilidade Segura (www.mobilidadesegura.