Ciclista deve pedalar junto ao meio-fio?
O vídeo publicado recentemente pela Prefeitura de Vitória, com recomendações para os ciclistas, levantou uma polêmica: o ciclista deve pedalar perto do meio-fio, ou deve mesclar-se no trânsito?
O vídeo publicado recentemente pela Prefeitura de Vitória, com recomendações para os ciclistas, levantou uma polêmica: o ciclista deve pedalar colado ao meio-fio, para não atrapalhar o trânsito, ou deve ocupar a faixa, integrando-se a ele?
Ciclistas urbanos de todo o país, especialmente, claro, os de Vitória, se revoltaram contra a peça publicitária que a Prefeitura criou com o dinheiro do cidadão, afirmando que pedalar junto ao meio-fio não é a atitude correta. E não foi sem razão.
A área da sarjeta tem grelhas, buracos, bocas de lobo, lixo e detritos que podem furar o pneu. A área asfaltada próxima a ela tem ondulações, asfalto quebrado, buracos, irregularidades. A proximidade com o meio-fio pode fazer você bater o pedal nele.
Tudo isso já seria suficiente para recomendar distância dessa parte da via, pois o risco de perder o controle da bicicleta e cair na via, em frente a um carro ou ônibus passando ao seu lado, já é grande. Mas o cenário é ainda pior.
Pela dinâmica com a qual se conduz um automóvel, se há espaço onde cabe o veículo, então dá para passar. Se o ciclista se posiciona muito próximo ao meio-fio, portanto quase fora da via, a mensagem transmitida aos motoristas é que dá para passar por ali.
E eles passarão, sem se preocupar com o metro e meio de distância, que lhes parece muito, um exagero da lei. O motorista olha, pensa “aqui cabe” e passa.
Mas o tal 1,5m é o suficiente para que, em caso de queda de quem está na bicicleta, não aconteça um atropelamento. Também é suficiente para que não ocorra um esbarrão no guidão se o ciclista precisar desviar de um buraco. E o ciclista tem que desviar do buraco. Não é uma questão de escolha, o buraco pode derrubá-lo em meio aos carros. Entenda aqui a razão do metro e meio e como o motorista deve fazer para respeitá-lo.
Ocupando a faixa, como o veículo que é, a bicicleta faz com que o motorista tenha que mudar de faixa para fazer a ultrapassagem. E mesmo que ele tente forçar passagem, haverá uma área de fuga à direita do ciclista.
Mantendo-se rente ao meio-fio, todos os carros, ônibus e caminhões – repito, todos! – passarão perto demais, não apenas os conduzidos por motoristas agressivos, inaptos para dirigir e sem respeito à vida.
Claro que a situação e tipo de via, a cultura motorizada local e as condições de visibilidade devem ser sempre avaliadas. A decisão final cabe ao ciclista. É preciso se sentir seguro para fazer isso. Mas essa decisão deveria ser apoiada pela prefeitura, como foi na campanha realizada em São Paulo.
É preciso estimular o compartilhamento das ruas que, afinal de contas, são de todos. E não adianta varrer os problemas para debaixo do tapete – ou os ciclistas para a sarjeta – que eles não desaparecerão magicamente. A quantidade de ciclistas nas ruas só aumentará, isso é inexorável. E é dever do poder público preparar os cidadãos que dirigem para isso. O respeito à vida deve vir em primeiro lugar. Antes mesmo das ciclovias.