Em apenas um ano, quantidade de ciclistas cresceu mais de 16% em BH
Contagem de ciclistas de 2018 constata crescimento de mais de 16% no número de ciclistas em toda a capital mineira em apenas um ano e aponta urgência no desenvolvimento de campanhas, programas e políticas de promoção desse modo de transporte na capital mineira
Pelo terceiro ano consecutivo, a BH em Ciclo – Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte – em parceria com o ITDP Brasil (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) realizou a Contagem de Ciclistas, um instrumento importante no planejamento das políticas públicas para o fomento do uso da bicicleta como modo de transporte. Com ela, é possível gerar dados para cobrar ações que atendam mais adequadamente as demandas de quem usa a bicicleta como meio de transporte.
As nove contagens, uma por regional, foram realizadas durante o mês de agosto, em dias úteis, entre terça e quinta feira, das 7h às 19h, utilizando-se de planilhas individuais a cada hora de contagem, com a presença de dois contadores por turno de 4hs (na Pampulha, pelo alto fluxo, foram três contadores). Todas elas foram realizadas em dias com o clima médio para essa época do ano: seco e com temperaturas médias variando entre 17ºC e 28ºC.
A contagem trouxe número expressivos, como o aumento no número de mulheres pedalando. Em 2010 elas eram 2,34% do total e esse ano elas totalizam 7,89%, um aumento de 337%.
Outro dado impressionante é o aumento de 44,7% no número de ciclistas na avenida Álvaro Camargos, na regional Venda Nova, com relação a 2017. No local, havia ciclovia e, há alguns anos, ela foi removida, embora mantenha-se as placas sinalizando a sua existência.
Na avenida Itaituba, conhecida pelo altíssimo fluxo de ciclistas, um dado chamou atenção: em 2017, 37,3 % dos ciclistas circulavam pela calçada. Em 2018, quase metade das pessoas que ali trafegam de bicicleta (46%) utilizaram a calçada. Esse dado demonstra a urgente necessidade de implantação de uma estrutura cicloviária exclusiva para bicicleta no local, em especial pela futura conexão desse trecho com as avenidas Andradas (onde há ciclovia) e a Via 710 (onde há previsão de ciclovia).
Além da contagem numérica, foi feita uma avaliação qualitativa dos ciclistas, registrando: gênero*; faixa etária estimada; local de preferência de passagem (ciclovia, calçada ou rua); sentido de deslocamento; tipo de bicicleta (pública, particular ou cargueira); uso ou não do capacete e se está a trabalho ( usando a bicicleta como instrumento de trabalho).
*O gênero, por conta da limitação metodológica foi estabelecido pelo fenótipo do ou da ciclista.
Comparativo
No total dos nove pontos pesquisados, foram contabilizados 3.838 ciclistas circulando pela cidade. Em 2017, a contagem foi realizada em 10 pontos e contou 3.270 ciclistas. Se a comparação for apenas nos oito pontos coincidentes entre as contagens de 2017 (3.026 ciclistas) e 2018(3.516 ciclistas), tem-se um aumento real de 16,19% na quantidade de ciclistas de Belo Horizonte.
Em 2010, à época da primeira contagem realizada em BH, tínhamos 23,81 km de ciclovias e ciclofaixas. Oito anos depois, a cidade ainda tem uma infraestrutura cicloviária aquém das metas estabelecidas pela Prefeitura de Belo Horizonte, contabilizando cerca de 86 km de estruturas majoritariamente exclusivas para bicicletas. As metas de 100 e 200km, estabelecidas para os anos de 2014 e 2016, respectivamente. Além disso, muito da estrutura construída está em estado de abandono, sem qualquer tipo de manutenção no pavimento, pintura ou mesmo na sinalização vertical.
A cidade conta com um Plano de Mobilidade Urbana, o PlanMob-BH, e o Plano de Ação para Mobilidade por Bicicleta, o PlanBici, que preveem a construção de 411km de ciclovias até 2020, para fazer com que 2% dos deslocamentos diários na cidade sejam realizados por bicicleta (atualmente, esse valor é de 0,4%). No entanto, segundo dados oficiais da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de Belo Horizonte apenas 107km estão previstos de serem construídos até 2021.
Segundo Carlos Edward, coordenador da Contagem, “Embora tenhamos tido esse aumento significativo, não houve políticas que garantissem a segurança, o conforto e a eficiência no deslocamento de quem já anda de bicicleta na cidade. Acreditamos que esse aumento seja resultado das pessoas buscarem formas de se deslocar na cidade após a crise de combustível, do aumento no preço da gasolina e do alto custo do transporte coletivo por ônibus ”.
Carlos complementa que “quando comparamos os anos em que se teve a Contagem (2010, 2016, 2017 e 2018), percebe-se que Belo Horizonte ainda precisa avançar muito no sentido de promover e estimular o uso da bicicleta como modo de transporte, especialmente fora das áreas centrais da cidade, onde há maior quantidade de ciclistas.”
Para Amanda Corradi, que participou da contagem de ciclistas, “a ampliação e melhoria da estrutura cicloviária, a redução das velocidades máximas e a realização de programas educativos ajudam a atrair mais viagens dos automóveis e motocicletas para a bicicleta, para se chegar à meta de 2%, e contribuem para reduzir a emissão de gases de efeito estufa proveniente do transporte, hoje a principal fonte de emissão desses gases na cidade”.
Os dados da contagem foram oficialmente divulgados na segunda-feira, 12 de novembro, durante a 2ª Reunião Livre do Conselho de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte, no Cine 104 – Praça Rui Barbosa, 104, Centro, a partir das 19h. A reunião foi aberta à imprensa e às cidadãs e cidadãos de BH e a ata estará disponível em breve no site da BH em Ciclo e também de outros coletivos como o Nossa BH.Todos os dados abertos da contagem estão em http://bit.ly/contciclistas2018da e o relatório analítico pode ser acessado em https://a.bhemciclo.org/cc2018.