Bike Todo Santo Dia: A vida que só é possível pedalando
Só quem anda de bike todo santo dia sabe como esse veículo é capaz de transformar a rotina em algo maravilhoso.
Um café da manhã reforçado e já começo a arrumar as coisas para um dia inteiro fora de casa. 35 minutos de pedal… Trabalho, marmita, mais trabalho e enfim decreto. 20 minutos de pedal… Faculdade. 20 minutos de pedal… Casa.
Em um parágrafo assim até parece chato, mas não é, graças a bicicleta, é claro. Só quem anda de bike todo santo dia sabe como esse veículo é capaz de transformar a rotina em algo maravilhoso. Além da cidade que só se enxerga em cima de uma bicicleta, existe a cidade que só se vive quando seu meio de transporte pode ficar do seu ladinho no parque, no bar, no comércio, e por aí vai.
E é claro que São Paulo ainda precisa evoluir muito suas estruturas ciclísticas, mas uma vez ouvi uma coisa que faz todo sentido, era algo assim: por nós ciclistas estarmos tão fora das lógicas estabelecidas, podemos quase tudo. Um cadinho de noção e a bicicleta é de fato a extensão do seu corpo. Mas profundamente, do seu ser.
Já com os meus privilégios de ser uma moradora do centro, os meus três deslocamentos feitos em transporte público me tirariam juntos aproximadamente 2h10 por dia. De bike, eu faço os mesmos percursos em uma somatória de 1h15, e pedalando, o que a essa altura já dispensa comentários. Mas existem as entrelinhas, existem as horas e os lugares que a maioria dos paulistanos quase se esquece. A bicicleta subverte a lógica ordinária e me permite parar todo santo dia em algum parque ou praça para ler um capítulo de um livro. Na falta de vagas para carros, sobram não-espaços para eu me embrenhar com a magrela e ocupar a cidade com o sorriso que todo ciclista carrega no rosto, e na alma.
Nesses anos de pedal diário fui tentando entender onde é que essa danada encosta que me faz chegar no trabalho tão disposta, na faculdade tão tranquila, e por fim, em casa, com a sensação, e a certeza, que vive mais um dia lindo.
Eu não vou dizer que não tem alguns fins de noite que eu gostaria de estalar os dedos e me ver de banho tomado e debaixo das cobertas, mas eles são poucos, e logo me recrimino no pensamento quando chego em casa, e já de banho tomado, recebo uma mensagem de uma amiga que ainda está no caminho de casa.
Uma vez fui até o Grajaú de bike, e vou te falar que não foi tão delícia assim. É aí que a menina central vê de perto como falta muito mais estrutura na periferia do que no centro, onde até o trânsito é mais amigável. Mas o semblante da mulher que nos levou pedalando até o Grajaú era quase o mesmo que o meu ao chegar em casa. É um sorriso que só a bike dá, que só a energia e a endorfina de quem pisa forte no pedal e fecha as mãos nas manoplas pode gerar. É vida. E pulsante como cada movimento na cadência do pedalar.
Ganhei recentemente uma blusa da minha avó que ela “comprou porque na hora pensou em mim”, e ela tem um escrito assim: Pedale forte! A vida é sobre equilíbrio. Tô acreditando cada vez mais nisso, porque é com a bicicleta que estou entendendo que esse tal de equilíbrio é tão importante.
Equilibrar as tarefas, os sentimentos, o corpo em movimento. Equilibrar a mente e resistir vivendo nas brechas do que não é nada perfeito.