Duas Rodas e um Coração
No entardecer de mais um dia comum em uma grande cidade, um cidadão sai do trabalho e vai até a avenida aguardar o ônibus que o levaria pra casa. O ponto está cheio. Na verdade está lotado.
No entardecer de mais um dia comum em uma grande cidade, um cidadão sai do trabalho e vai até a avenida aguardar o ônibus que o levaria pra casa. O ponto está cheio, muito cheio. Na verdade está lotado.
A rua está cheia também, carros, motos, carros, ônibus, carros, caminhões, carros e mais um pouco de carros. E quando o coletivo aponta lá no outro lado do grande quarteirão, as pessoas já começam a correr em direção a ele. Imagine um trânsito caótico de veículos, com o ônibus se aproximando lentamente do ponto, ao mesmo tempo em que uma massa de gente se movimenta em sua direção, cada um querendo chegar antes que o outro, que está ali meio correndo ao seu lado, tudo pra conseguir entrar primeiro na pequena porta do veículo. Meio se empurrando, quase se atropelando, eles chegam, mas não conseguem entrar pois lá dentro já tem muitas pessoas também. Na verdade está lotado.
Presenciar esta cena todos os dias não é legal, principalmente quando você faz parte dela e gostaria de chegar em casa logo pra tomar banho e descansar um pouco. Sim o cidadão era eu, o ano era 2001 e a cidade, São Paulo. Depois de alguns dias esperando passar 4 ou 5 ônibus até conseguir entrar em algum, ou tentando me espremer no meio da galera e sendo literalmente esmagado, recebendo alguns carinhosos cotovelos na costela ou mochilas na cara, decidi ir a pé pra casa. Fiz um roteiro em ruas alternativas, mais tranquilas, um pouco mais arborizadas, e depois de aproximadamente duas horas cheguei em casa. Muito mais feliz, mais tranquilo e menos desgastado.
Rex
Sr. Rex pedalando na Ciclovia Rio Pinheiros em São Paulo.
Fiz isso alguns dias, até que na hora do almoço de algum outro dia comum, passei em frente a uma bicicletaria. Loja simples, pequena, e com bikes a preços bem acessíveis. Entrei, fui bem atendido, escolhi, comprei uma MTB. Pedi umas dicas rápidas pro vendendor sobre como usar as marchas e saí pedalando. Depois de duas semanas utilizando a bicicleta como meio de transporte, meu corpo já estava acostumado com os 8 km do trajeto. Depois de um mês eu já queria trabalhar mais longe!
Logo comecei a conhecer um pessoal que pedalava, fui pra trilhas, fiz amizades, depois conheci também a turma que curte mais um pedal urbano, em seguida os cicloativistas, profissionais da área, atletas, muita gente, diversos perfis, ligados pelo mundo das duas rodas sem motor. E então não parei mais. Acho que é um caminho sem fim.
Por falar em caminho, fui trilhando os meus na área de comunicação, esportes de aventura e meio ambiente, e a cada aprendizado e vivência social ou ambiental, meus horizontes se expandiam. Fui percebendo que além de todas as vantagens que eu já havia sentido na bike, as possibilidades e potencialidades iam muito mais além.
A bicicleta, um veículo sem motor que se move com a força do próprio condutor, aquele ser pedalante sobre as duas rodas é quem tem o controle sobre a força, velocidade, e direção. E este mesmo ser contribui para um ambiente melhor, para uma cidade mais saudável, para um planeta mais sustentável.
Nos dias de hoje se fala muito em “ser verde” e sustentabildiade. O que de fato está sendo feito? Coisas acontecem sim, projetos e ações lindas existem, mas muitos ainda falam demais e pouco fazem. A bicicleta é, pode ser, deve ser parte importante das soluções que o mundo busca para a situação crítica na qual nos encontramos. Solução de mobilidade, solução sustentável, solução da felicidade, solução para o que você puder imaginar.
Seja num pequeno trajeto ou em uma grande viagem, a bicicleta pode proporcionar momentos incríveis, seu olhar pode ser diferente, além de onde você está acostumado a enxergar. A bicicleta agrega as pessoas, as pessoas se encontram com a bicicleta. Receber o vento no rosto, chegar ao seu destino com seu próprio esforço, ir, vir, se mexer, sentir seu sangue circulando, o ar em seus pulmões, os músculos espalhados pelos seu corpo, e todos os outros benefícios que temos ao pedalar, tudo isso simplesmente não tem preço!
Hoje, meus dias comuns são muito mais legais. E meu coração está cheio de felicidade, muito cheio mesmo! Na verdade está lotado.
Um abraço.
Lemuel Santos Rex