Apresentador de TV só não me atropelou para “não sujar seu carro”
Na tarde desse sábado (21), fui surpreendida por uma série de atitudes desrespeitosas e ameaçadoras de um jornalista famoso na televisão brasileira.
“Não atropelo você para não sujar o meu carro.”, disse o apresentador Luciano Faccioli na tarde desse sábado (21), quando ao invés de parar o carro antes da faixa preferencial para pedestres, preferiu acelerar sua Mercedes-Benz azul bebê em uma rua residencial com diversas sinalizações pedindo a redução da velocidade.
O ocorrido
Um pouco antes da uma da tarde do último sábado, descobri de uma maneira bem desagradável que Luciano Faccioli é meu vizinho de rua. Estava eu pisando na faixa de pedestres em frente ao meu prédio, quando vi que um carro de luxo subia a via em alta velocidade. Avancei mais um passo para ver se o motorista pararia o carro respeitando minha preferência, mas não foi o caso.
O motorista não só não parou, como acelerou o veículo. Vendo essa atitude, me revoltei e fiz um gesto indelicado. Podem me condenar pelo ato grosseiro, mas nada se compara ao que segue.
Já do outro lado da rua, vejo que agora o motorista resolve ter tempo para parar o carro e indagar: não entendi…
Respondi que eu também não. Que ali era uma faixa de pedestre e que por lei e respeito ele deveria parar o carro. Faccioli então me perguntou se eu havia morrido. Ironicamente respondi que não, mas que não tardaria a ele atropelar alguém com esse tipo de condução. Ele então esbravejou: “não atropelo você para não sujar meu carro.”
Não dei atenção e entrei no prédio. Só precisava deixar algumas coisas no apartamento, e desceria de novo para voltar a resolver outras coisas na rua. Mas não resisti a uma espiada pela janela, na qual avistei o apresentador se movimentando na minha portaria para, o que vim saber depois por testemunho do porteiro, perguntar “qual é o número do apartamento dessa menina?”. Já deixo aqui minha pergunta: O que você pretende ou pretendia fazer, Faccioli?
O desdobramento
Quando desci de volta ao térreo do prédio, estavam minha mãe, o porteiro e um morador de mais idade comentando o ocorrido, e afirmando que a fama do apresentador pelo bairro era de ser grosseiro. Ai vem aquele conselho de sempre: “não vale a pena se estressar com essas coisas”.
Me diga, como não vale a pena se estressar com essas coisas? Vivemos no quarto país com maior número absoluto de óbitos no trânsito, são 23,4 mortes a cada 100 mil habitantes, 19,7% são pedestres. Só no Estado de São Paulo, no acumulado dos quatro primeiros meses de 2017, já foram ceifadas 498 vidas de quem andava por SP, segundo dados da INFOSIGA SP.
Essa realidade que revela números que mais parecem dizer sobre uma guerra civil não é desconhecida pelo apresentador Faccioli. Fui atrás de matérias em que o jornalista falasse sobre o trânsito em geral para tentar entender qual é a opinião dele. Rapidamente encontrei uma cobertura ao vivo pela Rede TV, em agosto de 2015, na qual Faccioli vai a Marginal Tiete perguntar sobre a redução de velocidades. Dos cinco motoristas que Faccioli ouviu, nenhum havia achado boa a medida. Parece ficar claro, na matéria e na atitude, que Faccioli também gosta de acelerar.
Buscando mais um pouco, cheguei a uma matéria de 2011. Essa mais certeira quanto ao tema. Ainda na Rede Bandeirantes, “Faccioli flagra irregularidades de motoristas nas ruas de São Paulo”. Na reportagem, o apresentador convida até mesmo o consultor em engenharia de transporte Horácio Augusto Figueira, grande nome no documentário “Luto em Luta”, com direção e produção de Pedro Serrano. Vale a pena clicar no ‘hiperlink’ e ver o quão contraditório é o discurso em rede nacional e a atitude na rua residencial.
Conclusão
Faccioli é mais um motorista com opiniões e atitudes antagônicas. Quando está fora do carro, percebe que ainda falta muito respeito para a preferência ser do pedestre. Sem fama de ser muito calmo em seus ambientes de trabalho, a má educação dentro de seu veículo brilhante fica ainda maior.
Espero que esse texto chegue ao ilustríssimo Luciano Faccioli, e quem sabe ele se lembre de quando foi as ruas sem seu carro e percebeu que andar a pé é um desafio em um país de motoristas que esbravejam “não te mato para não sujar meu carro”.