Em SP, universidades ainda carecem de estruturas para ciclistas
Não basta estar com a bike na rua, é preciso ter onde deixar ela bem estacionada nos nossos destinos. Isso é crucial para se ter uma efetiva mobilidade por bicicleta
A decisão de ir para a faculdade de bicicleta vem sempre acompanhada da dúvida de onde poderemos deixar a magrela estacionada. Já se passou mais de um ano desde o primeiro dia em que resolvi chegar na Faculdade Cásper Líbero com a minha bike e ainda tenho total compreensão com os novatos na empreitada, pois assim como muitas outras faculdades e universidades de São Paulo, lá não existe um bicicletário oficial e fica por conta do jeitinho brasileiro arranjar um local seguro para estacionar a magrela.
Pensando nisso, e imaginando que essa matéria também possa ser uma forma de incentivo à construção de bicicletários nas universidades, resolvi fazer uma lista colaborativa com as instituições que dispõem de um espaço reservado para nossas companheiras de duas rodas.
Restringindo a lista para os campi da cidade de São Paulo, podemos começar pela Faculdade Cásper Líbero, instituição de ensino onde estou cursando minha graduação em jornalismo. No prédio da Fundação, localizado na Avenida Paulista, funcionam também a TV Gazeta, a Rádio Gazeta, a administração da Fundação Cásper Líbero, além de algumas outras emissoras que alugam o sinal da Antena da Gazeta.
Giuliana Pompeu
Na Faculdade Cásper Líbero, o bicicletário é uma simples barra de ferro que acomoda cerca de seis a oito bikes
Tendo em vista essa realidade, são muitas as pessoas, entre alunos e funcionários, que precisam de um local segura para estacionar a magrela por lá. Mas foi só com a contratação da bikerrepórter Renata Falzoni que a situação de quem vai de bike melhorou um pouco. “O bicicletário surgiu a partir de um contrato de prestação de serviço que eu mantenho com a emissora. Ele ficou pronto no último dia da cobertura da Copa do Mundo de 2014 e a partir de então o uso dele por mim diminuiu muito, mas foi por conta do uso dos alunos e funcionários da instituição que ele ainda se mantém lá sem ser obstruído por algum carro estacionado.”, comenta Falzoni sobre o bicicletario localizado no 3ºsubsolo do prédio, em um estacionamento onde o serviço de valet é terceirizado.
Dia após dia, eu pude ver o número de ciclistas aumentando conforme eles percebiam que era possível estacionar a bike no local. Segundo um funcionário da Fundação, que prefere não se identificar, a instalação da simples barra de ferro nos fundos do estacionamento facilitou muito a vida de quem já ia de bike trabalhar: ”Eu e mais uns dois colegas já vinhamos de bike antes desse espaço, a diferença é que tínhamos que levar a bike até uma sala de entulhos e deixar elas lá. Gastava-se muito mais tempo.”
Atualmente, os alunos que usam a bicicleta como meio de transporte tem tentado se articular para que um espaço maior e mais adequado seja construído no prédio. Pois apesar de comportar, de certa forma, as bikes dos que vão com mais frequência, o simples fato de não ser um bicicletário oficial, tão pouco divulgado, faz com que muitos deixem a magrela em casa e não aproveitem a infraestrutura que as novas ciclovias trouxeram para a região.
Em contrapartida, instituições como a Universidade Presbiteriana Mackenzie, localizada na Rua da Consolação, investem em uma infraestrutura segura e adequada para seus alunos e funcionários. Segundo a equipe de segurança da instituição, a universidade sempre contou com um bicicletário, mas foi em meados de 2014 que o local recebeu uma reforma e hoje conta com espaço para quase vinte bicicletas, sendo que todas ficam protegidas por um portão, que só é aberto por um funcionário do Mackenzie.
Reprodução
No Mackenzie, o bicicletário tem duas estruturas de estacionamento para as bikes e ficam guardadas por um portão
Estive lá no fim de tarde de um dia de semana e é impressionante a quantidade de funcionários e alunos que utilizam o serviço. Mesmo eu não sendo aluna ou funcionária, o uso do bicicletário foi autorizado, uma vez que estava indo lá para uma exposição organizada pela universidade. Eu precisei apenas deixar meu nome completo, meu RG e o modelo da minha bike nos registros.
A rede de Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) também tem investido na segurança de seus usuários ciclistas. Algumas unidades dispõem de uma estrutura mais adequada, como é o caso do campus Santo Amaro, onde um equipamento de pendurar as magrelas foi instalada no estacionamento – localizado no subsolo do prédio – antes do ano de 2012. “No começo da faculdade, em 2012, quase não havia bicicletas além da minha. Eu parava tranquilamente. No final da faculdade, ano passado, a situação já era diferente, com muitas bicicletas disputando espaço.”. comenta Thiago Sievers.
Já a aluna Silvana Roxo, estudante de veterinária no campus Morumbi, enfrenta uma realidade diferente. Com um bom espaço destinado ao estacionamento das magrelas, o problema do local é a falta de infraestrutura. “É um canto improvisado. Colocaram três argolas na parede, acredito que tenham restado do antigo espaço para animais de grande porte. Mas ainda assim é um grande incentivo, pois a região tem muito risco de assaltos.”, relata a ciclista.
Silvana Roxo
Na FMU – campus Morumbi, o bicicletário consiste em um espaço reservado para as bikes, mas com apenas três argolas improvisadas
Ainda entre as universidades particulares, o bicicletáio da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) – localizada na região de Perdizes – é muito similar ao da Faculdade Cásper Líbero. “Há bastante demanda por lugares para estacionar, pois há alunos e professores que vão de bike para a faculdade. O bicicletário fica no estacionamento da universidade, ele não é ruim (um cano preso a parede), mas não é o mais adequado e falta uma melhor infraestrutura para banhos e troca de roupas. Creio que se a universidade investisse só um pouco mais, o número de ciclistas puquianos aumentaria muito, entre professores e alunos.”, explica o aluno e ciclista Daniel Demeter.
Daniel Demeter
Na PUC, o bicicletário fica no subsolo do prédio e é feito com uma única barra de ferro
Passando para as universidades públicas, é possível julgar que a situação é melhor. No caso da Cidade Universitária, a realidade de cada faculdade varia. A Escola Politécnica por exemplo, que engloba diferentes campus da engenharia, tem alguns exemplos de bicicletários, como conta a aluna Maisa Barbosa: “O Bicicletário da engenharia elétrica é um exemplo a ser seguido, e talvez por isso tenha maior adesão dos alunos ao ciclismo. Possui dezenas de vagas, em que as bicicletas não precisam ficar penduradas, e o local é extremamente seguro contra roubos, após a entrada no prédio, que possui acesso controlado. Tenho certeza de que a segurança contra roubos aumenta a adesão ao ciclismo urbano, pois este foi o meu caso.
Maisa Barbosa
Na Engenharia Elétrica da Poli, o bicicletário é um exemplo a ser seguido, ele tem muitas vagas e fica em local seguro
No extremo oposto estaria o Bicicletário da engenharia de produção, que fica ao ar livre e possui apenas 18 vagas, para uma faculdade com tantos alunos (e farta de vagas para carros, diga-se de passagem). Infelizmente, a falta de vagas leva os alunos a prenderem as bicicletas nos corrimãos, o que também não é correto, pois prejudicar a circulação de pedestres.”, finaliza Maisa.
Maisa Barbosa
Na Engenharia de Produção da Poli, o bicicletário tem poucas vagas e fica em uma área de acesso livre
Aline Os
Na Engenharia Civil da Poli, o bicicletário também tem poucas vagas e fica em uma área de acesso livre
Vale dizer que a maioria das faculdades da Cidade Universitária possuim bicicletário no estilo do da Engenharia Cicvil. Ficam na área externa do prédio da faculdade, sem segurança.
Por último temos o bicicletário da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Trabalho na Unifesp e por demanda dos servidores a universidade transformou uma vaga de carro de seu estacionamento em um bicicletário. Acho que éramos apenas três pessoas que vinham de bicicleta antes da estrutura e agora tem umas seis ou sete bicicletas, todos os dias. O bicicletário é simples, feito com canos de pvc mesmo, mas ele está dentro do estacionamento da Unifesp, do lado da guarita, então eu nem tenho preocupação.”, relata o ciclista Lucian de Paula.
Lucian de Paula
Na Unifesp, o bicicletário fica ao lado da guarita de segurança e dentro do estacionamento da faculdade
A existência dos bicicletários nessas faculdades já é um grande incentivo ao uso da bicicleta. Nós como usuários, sabemos que as estruturas podem melhorar. Com uma pequena parcela de interesse das instituições, os locais podem ser aprimorados e dispor até mesmo de banheiros e vestiários. Mas até mesmo a simples ampliação das vagas de estacionamento é uma forma de fomentar o aumento de ciclistas; como vemos no amplo e lotado bicicletário da Faculdade de Engenharia Elétrica da Poli.
Entre diferentes circunstâncias, todos os bicicletários trazem uma realidade em comum: incentivam as pessoas a tirarem a bike da garagem e usarem a magrela como meio de transporte. O caminho é pressionar as instituições a darem maior acessibilidade aos ciclistas, possibilitando que a cultura da bicicleta se amplie cada vez mais. Pois não basta estar com a bike na rua em segurança, é preciso ter onde deixar ela bem estacionada nos nossos destinos. Isso é crucial para se ter uma efetiva mobilidade por bicicleta.
Tem experiência com o bicicletário da sua faculdade para compartilhar com a gente? Deixe seu depoimento nos comentários 🙂