Ciclocidade e CicloBr: "Nenhuma morte é tolerável"
Na manhã desta quinta-feira, a Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo e a ONG CicloBr emitiram uma nota oficial sobre a morte de Florisbaldo Carvalho da Rocha.
Na manhã desta quinta-feira, a Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo e a ONG CicloBr emitiram uma nota oficial sobre a morte de Florisbaldo Carvalho da Rocha, atropelado por um ciclista na avenida General Olímpio da Silveira, região central de São Paulo.
Confira a nota completa:
A Ciclocidade e o Instituto CicloBR lamentam a morte do Sr. Florisbaldo Carvalho da Rocha, ocorrida na última terça-feira (18/8), no Minhocão, São Paulo. Reafirmamos nossa posição de valorização do convívio harmônico entre os modos ativos de deslocamento na cidade. A discussão sobre mortes no trânsito é fundamental, pois nenhuma deve ser tolerada.
Este atropelamento, além de lamentável, é um alerta para a necessidade de ampliar e melhorar as estruturas para quem se locomove a pé ou de bicicleta na cidade. Não podemos repetir o discurso da morte “estatística” – entendida como inevitável, acidental e fortuita, intrínseca aos deslocamentos diários. A humanização do trânsito se constrói pela indignação com a perda de vidas e pelos esforços em construir um trânsito em função das pessoas – não o inverso.
arte de Reynaldo Berto
É preciso, contudo, ter cuidado para não se tirar conclusões precipitadas a respeito dessa fatalidade, já que o contexto dessa morte não está suficientemente esclarecido. O relato do ciclista, por exemplo, aponta que o atropelamento se deu no viário, fora da ciclovia. Nesse sentido, repudiamos a cobertura equivocada da mídia, que colocou em debate a segurança da ciclovia e até a política cicloviária como um todo, bem como manifestações que tentaram deslegitimá-la ou taxar ciclistas de irresponsáveis. Vimos um ciclista que socorreu a vítima e se identificou na delegacia e, portanto, passará pelo processo legal, que inclui a investigação do ocorrido.
É fundamental lembrarmos que casos de atropelamentos fatais envolvendo ciclistas e pedestres são raros, assim como são significativamente baixos os casos de acidentes não fatais. Resolvidos os conflitos pontuais gerados, o compartilhamento de espaços entre estes modos ativos de deslocamento será natural e harmonioso. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mais de 7.000 pessoas são atropeladas por carros em São Paulo todos os anos, com um percentual desastroso de mortes.
A priorização do pedestre no espaço urbano e nas políticas de mobilidade deve ser concretizada com a devida urgência. Fica evidente a necessidade de ampliar a estrutura e sinalização, seja nessa via ou em diversos outros locais da cidade, assim como levar adiante uma política de redução de limites de velocidades nas vias. Os poucos pontos de travessia e as condições adversas para que ela ocorra expõem os pedestres a um risco inaceitável. É fundamental buscar a equidade na distribuição do espaço viário, redistribuindo-o para garantir a largura adequada e a qualidade de calçadas e ciclovias.
É preciso também lembrar que um ciclista de 9 anos foi morto no último final de semana após ser atropelado por uma van dentro de uma ciclovia na região de São Mateus. Segundo moradores o desrespeito dos motoristas ao espaço reservado aos ciclistas é frequente.
Todos e todas ciclistas e motoristas devem assumir, nos seus deslocamentos, o compromisso de sempre proteger a parte mais frágil. O desafio do compartilhamento é também uma lição de cidadania que devemos dar à sociedade, para que possamos ter um espaço urbano devolvido para o convívio saudável.
Assinam:
Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São PauloInstituto CicloBR de Fomento à Mobilidade Sustentável