Dois anos sem Márcia Prado
Há exatos dois anos, a ciclista Márcia Prado foi atropelada por um ônibus na Avenida Paulista, de forma covarde e uma das coisas que mais chamou a atenção foi o motorista na TV.
Há exatos dois anos, a ciclista Márcia Prado foi atropelada por um ônibus na avenida Paulista, de forma covarde e uma das coisas que mais chamou a atenção foi o motorista na TV dizendo que “só percebeu ter atropelado alguém quando sentiu o tranco na roda traseira do ônibus” e que estava de “consciência limpa”!
No dia seguinte a esse assassinato fui convidada pelo Reporter e Apresentador Eduardo Elias dos Canais ESPN para participar do Sportcenter veja aqui a matéria.
Saí dessa entrada ao vivo e fiquei trancada em casa por uns 15 dias, impossibilitada de trabalhar ou mesmo de pensar. Entrei em depressão pois a proximidade que tínhamos – temos com Márcia Prado – nos fez sentir nós próprios mortos, esmagados no asfalto em plena Avenida Paulista, vítima de uma guerra civil, onde aceita-se como “normal” o motorista dizer-se de “consciência limpa” e as autoridades de trânsito continuarem a relegar a mobilidade e segurança dos cidadãos a um segundo plano, para garantir mais fluidez aos cidadãos motorizados.
A Avenida Paulista é símbolo dessa discrepância: Enquanto 1 milhão e meio de cidadãos por ela passam todos os dias a pé, apenas 60 mil cidadãos por lá circulam a bordo de 50 mil carros particulares. A velocidade permitida aos veículos motorizados é de absurdos 70 km por hora, enquanto um pedestre leva mais de 5 minutos para atravessar a avenida e trocar de calçada, pois não há faixas de pedestres na diagonal.
Permitir 70 km/h em uma avenida com um semáforo a cada 100 metros e milhões de pedestres nas calçadas é incompatível com a vida, serve apenas para acostumar o motorista a buscar alta velocidade de forma irresponsável. Detalhe, a fluidez não é determinada pela velocidade máxima e sim pela velocidade média assim não há o que justifique tal estupidez!
As chances de sobrevida a um atropelamento a 70km/h é próxima de zero!
Não acredito que esse motorista de ônibus estivesse a 70 km/h mas de duas uma:
Ou ele “viu e não enxergou” a ciclista, mais um ato falho tido como “normal”, pois como a CET não cobra a preferência para com os pedestres e os ciclistas, nós somos “vistos e ignorados” mesmo, com anuência das autoridades focadas na fluidez dos automóveis; ou o motorista viu sim e tirou uma fina de propósito para assustá-la, uma prática comum na criminosa intenção de “punir” aqueles que pretendem dividir o espaço público conforme reza a lei.
Hoje a tarde, as 18 horas haverá uma manifestação, uma caminhada com a participação dos familiares de Márcia Prado. Concentração na Praça do Ciclista que fica na esquina da Paulista com a Av da Consolação. O trajeto será até o Memorial Márcia Prado, a sua Ghost Bike, uma bicicleta branca cravada na calçada ao lado do local onde a ciclista tombou nessa guerra civil, av. Paulista perto da rua Joaquim Eugênio de Lima.
Na cidade de Aracaju também haverá uma homenagem:
Vejam mais links!