Alianças partidárias e o subdesenvolvimento da mobilidade sustentável
O que se vê é um jogo de interesses próprios, internos, relacionados principalmente a paternidade e benefícios próprios, ligados às ideologias deste ou daquele partido político.
Em sua complexidade, este tema merece uma exposição didática, para o entendimento da forma de como funciona a engrenagem da máquina política, enquanto poder de transformação e da ausência de “unidade”, quanto ao foco de objetivos, que deveriam priorizar o bem estar da população.
A definição de política deixa bem clara que se trata da ciência de governação de um Estado ou Nação e também a arte de negociação para compatibilizar interesses. A formação da palavra designa aquilo que é público e diretamente relacionado aquilo que diz respeito ao espaço público.
A ciência política estuda o funcionamento e a estrutura de Estado e das instituições políticas. Tem também como objeto de estudo a relação entre os elementos que estão no Poder e os restantes cidadãos.
Políticas públicas são ações tomadas pelo Estado que têm como objetivo atender os diversos setores da sociedade civil. Essas políticas são muitas vezes realizadas junto à ONGs (Organizações Não Governamentais) ou empresas privadas.
Alianças políticas entre partidos são criadas para compor bases aliadas e para criarem força para a disputa. Trata-se de um acordo, ou pacto entre duas ou mais partes que “objetivariam” a realização de ideais comuns. Porém na política brasileira essas ideias nada mais são do única e simplesmente atingir o poder, normalmente.
Interesses políticos e ideológicos ficam de lado quando se faz uma aliança política. Os partidos envolvidos, normalmente possuem interesses e orientações internas completamente diversas, confundindo cada vez mais o eleitor.
Renata Falzoni
Existe claramente um “divisor de águas” nas coligações políticas. O antes e o depois.
A distribuição de cargos políticos para os aliados são consequências deste processo, o que enfraquece toda a estrutura organizacional do país em muitos aspectos.
Outrora possuíamos somente duas vertentes. Situação e oposição. Posicionamentos bem definidos, quanto às suas ideologias políticas, como por exemplo, no período da ditadura militar, onde existiam o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA).
Com o fim do bipartidarismo, as inúmeras correntes que formavam o MDB, fundaram outras legendas e outras vieram mais tarde, desde os anos oitenta. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com dados de 2014, o Brasil possui registrados 32 partidos políticos.
A partir destes dados já se pode ter uma ideia dos rumos da política nacional com relação a ideologias, objetivos e principalmente legitimidade política.
Até onde pode ser viável a governança diante desta pluralidade política, dentro de um mesmo governo? Quais seriam os objetivos comuns? Que poder teve o cidadão em eleger uma legenda política que abarca inúmeros partidos de linhas tão distintas? Quais os resultados e as consequências dessa pluralidade numa situação como esta?
Tendo, até aqui, esta parte esclarecida, vamos falar agora da mobilidade dentro deste contexto, que é válido para outras áreas de atuação do poder público.
O desenvolvimento de um projeto de mobilidade no âmbito de um órgão político ou empresa ligada ao governo, passa por várias fases internas, da elaboração, análise, aprovação e implementação. Todas essas etapas normalmente ocorrem em órgãos diversos, ligados diretamente ao tema. Neste momento, voltando à questão da pluralidade política da gestão das cidades, temos início aos problemas relacionados à gestão interna, que afetará diretamente a população e seus anseios.
Dentro desta “linha” de produção / desenvolvimento / aprovação / implementação, representantes de partidos distintos estão envolvidos, diante das divisões políticas firmadas nas coligações, para a gestão do governo da situação. Interesses distintos estão envolvidos, e é, normalmente neste momento, que se define qual o melhor caminho a ser tomado, dentro da linha ideológica de cada partido, na sua gestão daquele órgão, perante a este ou aquele projeto, de seu interesse. É óbvio.
Entendamos que prioritariamente projetos de governo bem elaborados, e, diga-se de passagem, com a consulta pública, deveriam beneficiar a cidade e a população; porém o que se vê é um jogo de interesses próprios, internos, relacionados principalmente a paternidade e benefícios próprios, ligados às ideologias deste ou daquele partido político. Perde a cidade, perde a população e perde-se a continuidade dos projetos que não foram concluídos em uma gestão; podendo ser até visto (embuste), como um gancho para a continuidade para uma próxima gestão.
Do que estou falando afinal?
Esta intrincada engrenagem vista de uma distância segura, mostra claramente que este processo conflituoso, afeta diretamente o desenvolvimento das cidades em tempo e qualidade. Projetos que poderiam ser implementados num tempo X ou são implementados em tempo 10X ou simplesmente vão para a gaveta, mesmo se tratando de projetos de extrema importância para o desenvolvimento das cidades.
Lemos com frequência que Holanda e outros países, que se desenvolveram na mobilidade, estão há anos luz, e, seguindo o raciocínio colocado aqui, podemos entender que esta distância tende a aumentar, enquanto não houver uma unidade política, de ação, voltada para o desenvolvimento das cidades e qualidade de vida dos cidadãos. Uma unidade política livre de, unicamente, interesses próprios e com um objetivo comum (afinal quem elege seus governantes é o povo e é para ele que a política deve ser dirigida), poderia realizar projetos de qualidade em uma velocidade compatível as verbas disponíveis para tal empreitada.
Planos de mobilidade governamentais não andarão a passos constantes e largos em direção as suas diretrizes, enquanto não houver a visão da necessidade de continuidade do processo, afim de que não continuemos mais atrasados do que já estamos, no desenvolvimento da mobilidade humana e desejável, com relação aos países que já se desprenderam desta visão arcaica de governabilidade.