400km: E agora? Fortalecendo o apoio e a crítica
A Secretaria de Transportes de São Paulo entrando em contato com alguns ciclistas da cidade, apresentou as principais diretrizes que irão nortear a implementação dos 400km de ciclovias.
Há algumas semanas, a Secretaria de Transportes de São Paulo vem entrando em contato com alguns ciclistas da cidade para apresentar – junto à equipe técnica e CET – as principais diretrizes que irão nortear a implementação dos 400km de infraestrutura cicloviária da capital, promessa de campanha do prefeito Fernando Haddad (PT).
Na última dessas reuniões, o próprio secretário Jilmar Tatto esteve presente junto com parte do corpo técnico da Companhia de Engenharia de Tráfego, apresentou a proposta, se colocou à disposição para dialogar e, nas palavras dele, “jogar peteca com os cicloativistas”, fazendo referência a um esporte onde todos os lados precisam estar em sintonia e juntos para continuar jogando bem.
Não é a primeira vez que prefeituras procuram se aproximar de alguns movimentos sociais importantes. Porém essa gestão, especialmente, tem feito um trabalho até surpreendente ao dialogar com movimentos de transporte (passe livre, ciclistas, etc), habitação, entre outros. No entanto, a crítica aos processos de como isso acontece é bastante frequente, levantando questões delicadas e sutis.
O relacionamento entre Haddad e o cicloativismo se estreitou após a criação da primeira grande campanha de respeito e proteção ao ciclista, veiculada amplamente nos principais meios de comunicação da cidade, atendendo a pedidos e manifestações – inclusive – na porta de sua residência. A campanha foi criada em parceria com um grupo de “ciclistas comunicadores” que se dispuseram a ajudar a prefeitura nesse processo. Relembre todos os vídeos aqui.
O resultado? Uma das melhores campanhas públicas já vistas nesse país, sendo utilizada como argumento, referência e exemplo para outras cidades. A ação fez parte de um tripé do qual Haddad havia se comprometido a por de pé: 1- campanhas educativas, 2- construção de infraestrutura e 3- espaço de diálogo institucional com a prefeitura.
Não tenho muita vivência sobre a política paulistana, moro aqui há pouco mais de 6 anos e o que posso dizer é que nesse ‘pouco’ tempo muita coisa mudou. Muita! Definitivamente a questão da bicicleta entrou de verdade na pauta de SP e a gestão do prefeito Fernando Haddad não só entendeu a mensagem como parece estar se esforçando para que esse sonho se torne algo real até, pelo menos, o fim do seu mandato.
Críticas
Das críticas, inclusive entre ciclistas, as mais regulares têm a ver com processos e comunicação. Quem participa dessas reuniões? Como são definidas as coisas? Que representatividade se tem? Onde podemos encontrar mais informações dos projetos? E a participação da sociedade civil? Quem está por trás?
Nesse sentido, a Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo) puxou uma plenária na semana passada, chamada de 400km – E Agora?, para entender qual o posicionamento deveria ter diante de um cenário bastante delicado: abertura política, interesse social, participação e influência de/para poucos.
Amadurecimento e organização
De fato, os processos participativos no Brasil estão sucateados e distorcidos (e não só eles) há muito tempo. Mas se durante todos esses anos de protestos e bicicletadas o que cicloativistas imploraram era por espaços nas políticas públicas da cidade, talvez seja a hora de tentar pelo menos tirar uma casquinha do que vem sendo prometido e nunca cumprido.
Para isso, é fundamental amadurecer o movimento e ter organização pelo menos entre nós para que a fragilidade dos processos públicos não comprometa as possibilidade de, finalmente, ver o início da mudança ir para as ruas e salvar vidas.
“É preciso elevar a barra da qualidade nas discussões; levar críticas que podem ser assimiladas pelo poder público”, disse o diretor da Ciclocidade, Gabriel Di Pierro, durante a plenária. Não adianta só gritar, sem propor, criticar por criticar. É preciso se dispor a entender os lados, os interesses e as possibilidades. Tem que se envolver!
Hoje, além de Associações e grupos organizados, temos 2 ciclistas integrando o Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (uma demanda atendida depois de muita pressão), cadeira no Conselho da Cidade, Frente Parlamentar pela Mobilidade Humana e algumas dezenas de parlamentares em defesa dos ciclistas e pedestres. Parece pouco, mas é não é.
Como bem lembrou o JP Amaral (Bike Anjo) também durante a plenária, “Todas as cidades passam por dilema no diálogo entre sociedade civil e poder público, precisamos de diretrizes fundamentais (e não critérios que engessem) para nortear a qualidade do que for proposto, mesmo com flexibilidade”. Para isso, é importante criar diálogo e consenso entre nós, ciclistas, unificar o discurso, fortalecer espaços coletivos de debates e, claro, espalhar as informações.
Mapeamento das ciclorrotas, distribuição de bicicletas ‘públicas’, pintura de ciclofaixas, 400km de ciclovias, etc. Tudo merece e precisa ser criticado para ser melhorado.
Todas as cidades também cometeram erros. Cada lugar teve uma história própria, inclusive de participação mais ativa ou passiva da sociedade civil. Passou da hora do paulistano tomar de novo essa cidade para si, participar, se envolver, criticar e apoiar. A história é nossa, a luta é diária.
São Paulo é uma cidade megalomaníaca, gigante, extremamente complexa, cheia de problemas, rodeada de interesses obscuros e prioridades invertidas. Mas também é um lugar absurdamente criativo, cheio de diversidades, gente bacana, lugares inspiradores, força política e grana!
Mesmo concordando com várias dessas críticas, eu estou disposta – mais uma vez – a participar do processo e tentar fazer disso algo menos problemático possível.
Precisamos nos fortalecer para a mudança. E se preparem porque a paulada vai vir de todos os lados. De que lado você está?