Atravesse fora da faixa
Pedestres são as maiores vítimas da carnificina das ruas. A matemática é simples, quando toneladas de aço em movimento encontram com vidas humanas pelo caminho, vence o metal mortal.
Pedestres são as maiores vítimas da carnificina das ruas. A matemática é simples, quando toneladas de aço em movimento encontram com vidas humanas pelo caminho, vence o metal mortal.
A mortalidade nas ruas é um problema universal. Sejam ricas ou pobres as cidades ao redor do mundo contam seus mortos no que ainda se define como “acidentes”. Mas essa terminologia já foi mais fiel à realidade. A invasão dos veículos de combustão interna, deu largada no início do século XX, até se tornarem situação corriqueira.
REPRODUÇÃO
Nesse meio tempo a mais grave das distorções foi a criminalização do pedestre. Crianças que morriam atropeladas no começo do século XX não eram “vítimas de acidentes”, mas tragédias anunciadas e causadas por imprudentes e ineptos motoristas ao volante de máquinas incompatíveis com as cidades.
Para certificar as vendas das máquinas motorizadas, um esforço conjunto da indústria, Estado e sociedade uniram-se para garantir que as crianças fossem expulsas das ruas para que automobilistas pudessem circular com tranquilidade.
O esforço foi grande. Inventou-se desde semáforos para controlar o fluxo de pessoas e automóveis nos cruzamentos até uma invenção que visava promover a “segurança”. A faixa de pedestres, um espaço pequeno, geralmente em esquinas, que tornou-se o único espaço autorizado para que as pessoas pudessem fazer o que sempre foi feito em qualquer lugar das ruas, caminhar.
Com a faixa de pedestres nasceu o pedestre infrator das leis de trânsito. No Brasil, quando não há faixa de pedestres num raio de 50 metros, é permitido que o caminhante cruze a rua. Mas o que se vê cotidianamente são abusos por parte de motoristas que foram convencidos a acreditar que vale a lei do mais forte. Quando o mesmo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece justamente o contrário.
Em Nova Iorque a polícia optou por aplicar o máximo do rigor das leis para proteger os pedestres. O fez através de multas (de 250 dólares) a quem fosse flagrado cruzando a rua fora da zona permitida ao pedestre.
Durante o esforço de punição às vítimas, a polícia acabou por multar mais pedestres do que motoristas. Cabe destacar no entanto que um senhor de 84 anos acabou preso de maneira violenta e depois hospitalizado em consequência dos ferimentos que sofreu durante a prisão.
A capa de um jornal local definiu o excesso “inimigo público número 1: homem, 84 anos, ferido por atravessar fora da faixa”. O homem, nascido na China e sem fluência no inglês acabou por representar a definição do que em inglês se diz: jaywalking. Um termo pejorativo cunhado para definir o migrante do campo que vem à cidade (o Jay, o Zé) e desconhece as regras de trânsito, feitas para proteger os automóveis em detrimento da vida.
Entenda o caso em Nova Iorque: NYPD: Jaywalking Old Man Had It Coming