O que será das bikes de Pequim?
Fui dar um rolê de bicicleta procurar onde o povo de Pequim passa um domingo de muito sol e calor. Fui direto ao Parque do Templo do Céu e encontrei de tudo, principalmente música.
Fui dar um rolê de bicicleta procurar onde o povo de Pequim passa um domingo de muito sol e calor.
Fui direto ao Parque do Templo do Céu e encontrei de tudo, principalmente música.
De cara, na entrada, uma orquestra de vários instrumentos chineses, desde o um violino milenar de duas cordas, o ER HU, com muita gente cantando, dançando, diversas manifestações folclóricas da China, muito interessante mesmo.
Os grupos se juntam de acordo aos seus interesses. Tem ópera chinesa, ópera lírica, danças e músicas do excército vermellho, e eram na sua esmagadora maioria chinenes na terceira idade.
Essa minha veia italiana é muito sensível e caí em prantos ao som de O Sole Mio, emocionada pela alegria dos velhinhos, da forma como eles são felizes, alegres, ativos socialmente, aliados à arte e ao movimento de corpo.
No Brasil isso não rola. Ser velho é crime, ser um velho que dança nas ruas é um ridículo, “que não se enxerga”, ser ciclista é crime, ser pedestre é ser “pobre”, a vida na rua é só para jovens trancados em carros, tirando racha nas ruas.
Enfim aqui na China os velhos têm vida e são respeitados pela sociedade, no Brasil são apenas velhos.
Ter passado um mês inteiro em Pequim fez-me acostumar a viver em uma cidade que, embora tenha evidentes problemas na conduta dos motoristas, ao mesmo tempo, tem um planejamento urbano que engloba pedestres, ciclistas, motoristas e cadeirantes.
Tem espaço planejado para todos, é uma cidade que se transformou para ser democrática.
Nem toda a China é assim, me dizem, Pequim saiu na frente devido a ser sede principal dos Jogos Olímpicos de 2008, é mais um legado que fica para o futuro da cidade.
Por outro lado é evidente que a China não vai escapar do processo venenoso da idolatria do carro próprio motorizado, em detrimento da coletividade. Os jovens querem um carro e a classe média do país em “crescimento” vai fazer de suas cidades um inferno.
Igualzinho ao que fizemos das grandes cidades do Brasil:
Um inferno.
Conversando com o povo nas ruas a esse respeito, percebo que eles confiam que na China sempre há de se pedalar.
Eu tenho minhas dúvidas.
Mas prefiro apostar a favor, acredito que a China há de raspar no fundo do poço, até criar uma massa de cidadãos que pensam por si próprios e que reivindica direitos coletivos, sem ir para a cadeia e que irá reinvindicar hábitos simples e o retorno seguro às ruas em bicicleta.
O desafio será aliar consumo a qualidade de vida.
Difícil.