Manutenção nas Ghost Bikes: Respeito, união e algumas reflexões
Márcia Regina de Andrade Prado e Juliana Ingrid Dias foram atropeladas enquanto pedalavam na Av. Paulista, em São Paulo. Ambas faleceram, em datas diferentes, 2009 e 2012 respectivamente.
Márcia Regina de Andrade Prado e Juliana Ingrid Dias foram atropeladas enquanto pedalavam na Av. Paulista, em São Paulo. Ambas faleceram, em datas diferentes, 2009 e 2012 respectivamente. Foram dois atropelamentos quase no mesmo local, próximo à rua Pamplona, travessa deste cartão postal que hoje mantém viva as homenagens através das Ghost Bikes. Ciclistas participantes de movimentos como a Bicicletada e Pedal Verde, Márcia e Julie (como era chamada) foram vítimas da alta velocidade, desrespeito nas vias e omissão do poder público.
No domingo dia 08 de dezembro foi realizada a manutenção destas Ghost Bikes. Os ciclistas se reuniram às 16h na ghost da Márcia, e foi lá que iniciei meu segundo desafio do dia. O primeiro foi subir até a Avenida Paulista levando minha filha de 6 anos, Nina, na garupa.
Enquanto os cilcistas chegavam, o desafio de contar o significado de uma Ghost Bike estava apenas começando, e por mais difícil que seja a morte, não posso negligenciar este assunto. Nina começou dizendo que a bicicleta é branca, e questionou a placa, já lendo.
São tantos sentimentos nesta hora, o difícil fica fácil e o engasgado sai naturalmente. Em poucas palavras a criança entende, ou pelo menos, não se surpreende com a possibilidade das pessoas morrerem antes de ficarem “bem velhinhaaaaas” como ela mesmo descreve ao imaginar o dia que vou morrer.
Nina, eu e todos os cilcistas, participamos de uma ação, não apenas pela manutenção, mas pela união, pelo respeito, solidariedade com as amigas, a cidade, as pessoas.
Nina e eu chegamos em casa, bem tarde, cansadas e realizadas. Sabemos que não pedalamos diariamente pelas calçadas à toa, que existe um motivo, que deve ser lembrado por nós quase todos os dias e esse mesmo pensamento me dá forças para lutar e não desistir.
Nina um dia vai pedalar nas ruas, vai viver, vai crescer e lembrar que já enterrou a base de uma Ghost Bike, que no passado não pedalou livre e segura pelas ruas de São Paulo.