No asfalto paulistano: a primeira pedalada de uma atleta no trânsito
Ciclista que sou, confesso que havia andado poucas vezes de bicicleta nas ruas da cidade de São Paulo. Usar a magrela num dia normal de trabalho, era um terreno que não havia explorado.
Ciclista que sou, confesso que havia andado poucas vezes de bicicleta nas ruas da cidade de São Paulo. Usar a magrela como meio de transporte num dia normal de trabalho, então, era um terreno que não havia explorado.
Na última terça-feira, me foi entregue uma linda Cannondale CAAD8 6, e foi com ela que resolvi quebrar o tabu. Saí durante o final da tarde rumo à academia onde treino, num horário de pico em São Paulo.
O percurso não tinha nada de horroroso além do que já estamos acostumados a ver nas ruas de São Paulo: valas mal acabadas, asfalto irregular e quase nenhuma ciclovia.
O que seria um trajeto comum para um ciclista urbano, para mim, mountainbiker, foi pior do que tentar descer a Goats Gully em Whistler (uma pista double diamond de arrepiar…).
Tudo começou na porta de casa, quando já fui me adaptando à posição do gudião e aos trocadores. Os freios mecânicos também tem um funcionamento diferente dos freios que estamos acostumados no MTB extremo, mas a verdade é que me surpreendi com a qualidade dos freios C4 duplo pivot que equipam a bike. Eles são extremamente sensíveis ao toque e funcionam de forma progressiva, me deixando bem segura para sair de vez do meu bairro rumo ao meu destino.
BIA FERRAGI
Bike usada na pedalada de Bia Ferragi pela cidade
A roda fina foi algo que me apavorou logo na primeira descida! Demorou até que eu me acostumasse com a realidade: SIM! Uma speed aguenta a pancada, é muito estável e confiável, basta se adaptar ao guidão mais estreito e aplicar nele a mesma força que estou habituada no mountainbike.
Chegando na primeira avenida principal, aí sim, as pernas começaram a tremer e a jornada começou. Novidade para mim, afinal eu respeito a regra quando dirijo, os motoristas não tomam a distancia do ciclista de 1,5m estabelecida por lei. E o problema não é somente não respeitar. Reparei que muitos deles adoram passar bem pertinho só para te empurrar mais pro canto da rua. Esquisito, não?
Com mais 800 metros de avenida, tive que desviar de uma série de bueiros e caminhões parados, descarregando material e atrapalhando uma das pistas da avenida. Algumas vezes consegui subir na guia e passar pela calçada para realizar a ultrapassagem de forma mais segura. Porém, numa delas, tive de aguardar um motorista de bom humor que não acelerou loucamente para me fechar e me deu passagem.
Ao entrar em uma avenida maior ainda, esta agora com 4 faixas de circulação, logo me direcionei para a faixa de ônibus. Que aventura! Se em toda corrida que eu participasse, eu tivesse um ônibus colocando pressão atrás de mim para acelerar eu ganharia da talentosa atleta de Downhill Rachel Atherton! Não sei se a estúpida fui eu de entrar no clima de corrida a 60km/h dos carros e ônibus, mas a impressão que tive é que se eu não pedalasse na mesma intensidade do que eles, me tornaria invisível e tão logo uma vítima em potencial no meio de tantos veículos nocivos.
Entrei numa rua vicinal, e então me deparei com uma senhora tentando uma manobra um tanto quanto proibida (leia-se atravessar no sentido contrário em uma rua com faixa dupla no meio). Eu já vinha a observando longe. Ela olhando para um lado, olhando para o outro, e de novo na minha direção. Obviamente, ela se atentou a TODOS os carros, mas claro que para a bike não. Quando fui passar na frente do carro, a dita senhora acelerou e eu dei um berro. Não é que ela me mandou um beijo? Achei ela até bonitinha, então mandei um beijo de volta. Acho que não foi esta a mensagem que ela quis me transmitir, mas OK.
Segui meu caminho. Muito engraçado foi notar que os motoboys crescem para cima das bikes. Pense pela ótica deles: ônibus e caminhões os fazem parecer ridiculamente minúsculos, carros estão sempre os fechando e acabando com a festa deles. Sobre quem eles podem se sentir valentões no trânsito? Bicicletas indefesas, mas é claro! Vários chegavam paralelos a mim e então aceleravam VREEEMMMM querendo dizer: “o meu é melhor que o seu amiguinha!” …. oh céus…
Se tudo isso já não fosse novidade suficiente para me fazer suar frio, veio a chuva. E dela eu não poderia nem reclamar, pois minha cidade ficou muito tempo sem vê-la. Fato é que o terreno, OPS, o asfalto, mudou suas características e tive que pilotar mais atenta. Mais uma vez me surpreendi com a bike. Aro 29 montada com um pneu schwalbe, ela reagiu muito bem sem perder a estabilidade, não me deixando na mão em nenhum momento.
Uma longa subida e então mais 3km e finalmente cheguei para o meu treino. Foi um desafio e tanto!
Deixo aqui registrada a minha admiração a todos vocês colegas ciclistas urbanos que se transportam diariamente em suas magrelas pelas loucas ruas de São Paulo. Vocês são campeões !!!