Como foi correr a primeira Gran Fondo New York no Brasil
"Posso afirmar que foi a prova mais bem organizada que participei"
O Gran Fondo é uma prova de longa distância em estrada, começou na Itália em 1971, lugar que hoje tem um calendário de quase cem granfondos entre fevereiro e setembro. Em 2011 foi pela primeira vez à Nova Iorque, com ciclistas formando um mar verde partindo da ponte George Washington até o desafio da Bear Mountain.
Para entendermos os números desse evento, encontramos mais de 90 nacionalidades entre os 20 mil entusiastas do esporte que se desafiam na distância total de 160km ou optam pela metade desse trajeto. E desde então passou a ter um calendário mundial, com provas em diversos países e em todos os continentes.
Felizmente chegou a vez do Brasil fazer parte dessa festa, a brasileira já era a segunda nacionalidade mais presente em Nova Iorque, e com esforço da campeã Fernanda Venturini, Maria Luisa Jucá e equipe, o dia 06 de agosto de 2017, ficaria marcado como a data inaugural da prova na terra verde e amarela.
Conservatória foi a cidade escolhida para a esperada largada, na serra fluminense, conhecida pelas serestas, pelo túnel que chora e pelo incrível visual da Serra da Beleza, que é de tirar o fôlego pelo visual e pelos 8km de subidas a serem escaladas no final da prova.
Eu já tinha como desejo de ciclista participar de um Gran Fondo, o slogan, Be a Pro For a Day, instigava a me imaginar dentro de uma grande prova de ciclismo, cercado por pessoas que dividem essa paixão pela bicicleta e pelo esporte, estar no estado do Rio de Janeiro na linha de largada virou um compromisso e gerou dois meses de ansiedade.
Chegamos a Conservatória no sábado pela manhã, depois de 380 quilômetros de viagem e 5 horas passadas, tudo transpirava bicicleta, a cidade sinalizada, as pessoas indo e vindo fazendo ajustes finais e conhecendo um pouco do trajeto, e eu vivendo meu sonho de fazer parte de tudo aquilo.
Retiramos o kit oficial e passeamos pela feira de exposição, alguns stands de produtos, outros de divulgação dos próximos eventos e a eletricidade da espera era sentida nos olhos e movimentos de quem estava lá, saímos em direção ao hotel e encontramos a lenda do esporte, Bernardinho, soltando as pernas na bicicleta e distribuíndo sorrisos pelas ruas, lógico que pedimos uma foto para guardar.
Dia seguinte, largada dada, era hora de botar as pernas para trabalhar e curtir a prova, não fiz um super preparo antes, na semana anterior, as famosas batatas da perna resolveram dar sinal de vida ou de pouca vida, mas pelas distâncias que já havia feito anteriormente, acreditava que conseguiria administrar e chegar bem.
Partimos para o primeiro trecho, eu e meu cunhado triatleta Christian, e fomos trocando posição até o início da segunda parte onde ele engatou a quinta marcha e meu motor começou a soltar fumaça, sabia que o final era a parte mais dura, aliviei e entrei no modo sobrevivência.
A estrada estava cheia de ciclistas formando pelotes verdes em movimento constante, o céu azul e a beleza da serra era o que gerava energia para seguir, subimos a Serra da Beleza, passamos a Ponte dos Arcos e deslizamos por 8km, e quando achei que teria uma boa reta para recuperar, o vento contra se apresentou e me acompanhou até o ponto da volta.
Desci da bicicleta, sentei na cadeira do fiscal, hidratei, comi, busquei coragem para os 45km restantes e agradeci muito que agora o vento empurrava para a chegada.
Pelo mapa, os últimos 12 km eram de descida, quando cheguei na volta da serra, os famosos 8km que tanto assustavam no gráfico, fazia a conta de quilômetro por quilômetro, esperando avistar o arco vermelho do posto de controle, o qual indicava que dali para frente era soltar o freio e sentir o vento forte da chegada no rosto.
Como tudo na vida, fazendo esforço, uma hora chega, passei pelo último top, deixei aquela sensação de conquista tomar conta e usei as minguadas energias que tinha para ouvir o barulho do anúncio da minha chegada no primeiro Gran Fondo Brasil.
Posso afirmar que foi a prova mais bem organizada que participei, as pessoas envolvidas, o apoio nos pontos de hidratação e alimentação, a sinalização, massagem pós prova e até uma deliciosa massa oferecida pós prova. Fica a certeza do sucesso e a possibilidade de no ano que vem o circuito olímpico ser o cenário de fundo.
Para os apaixonados pelo esporte, pelo ciclismo, é uma festa imperdível, prepare-se e marque a data no calendário 2018, te vejo lá.