Opinião: Idec lança site sobre mobilidade, mas esquece que bicicleta não é só intermodal
...o site comete o pecado já ordinário de não ver a bicicleta como um modal capaz de transportar SOZINHO seus usuários. A bicicleta é mais uma vez vista apenas como uma parte do caminho
Essa semana, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou a plataforma MoveCidade, com intuito de informar e engajar mais a sociedade sobre o tema da mobilidade nas cidades. O site MoveCidade reúne uma série de conteúdos multimídia, que vão desde animações a infográficos, sobre a realidade do transporte no Brasil.
A iniciativa é uma parceria com o Instituto Clima e Sociedade e com o Laboratório de Experimentação Digital (LED), podendo se tronar uma importante ferramenta de informação para a população. Além das informações mais básicas sobre a Política Nacional de Mobilidade, no endereço virtual é possível encontrar links diretos para os canais de reclamações relacionadas à mobilidade nas capitais do Brasil.
Uma iniciativa como essa é muito importante para que a população tenha mais contato com as diretrizes do Plano Nacional de Mobilidade Urbana. Mas assim como o próprio plano, ao acessar o site MoveCidade, quem pedala ou quer pedalar sente falta de um material mais completo sobre modais ativos. A animação usada como peça principal da divulgação da plataforma: ‘Mobilidade urbana: um guia rápido’, faz a representação de uma rua de uma grande cidade brasileira sem pedestres ou ciclistas.
Nesse vídeo, apesar de ser dada uma perspectiva real sobre a divisão desproporcional do espaço público entre ônibus e carros, a animação carece na hora de incluir a realidade dos pedestres e ciclistas já em um primeiro momento. Apenas na finalização do vídeo, essa mensagem é passada: “Transporte coletivo de qualidade significa mais opções para a população. Você pode começar uma viagem no ônibus, trocar para o metrô e depois para uma ciclovia.”
Dentro do site existe a aba ‘sem carro pela cidade’ , que leva o internauta a duas outras abas: ‘informação ao usuário: como deve ser’ e ‘A preferência é do pedestre! A importância de quem vai a pé’. Nessa segunda aba é dada uma perspectiva sobre calçadas, travessias e sobre a segurança do elo mais importante da mobilidade em qualquer cidade do mundo: o pedestre.
E os ciclistas nessa história? O transporte em bicicleta só ganha espaço na aba ‘Mobilidade e Cotidiano’, em uma outra animação. Em ‘A soma das partes: entenda a intermodalidade’, a bicicleta é enfim apresentada como um modal e a intermodalidade como o “uso racional e eficiente desses (todos) modais”. O vídeo segue com o foco na intermodalidade e na maneira correta como ela deve ser feita.
Todas as informações disponíveis no site MoveCidade são bem apuradas e importantes para o engajamento da sociedade na melhoria da mobilidade urbana, mas o site comete o pecado já ordinário de não ver a bicicleta como um modal capaz de transportar SOZINHO seus usuários. A bicicleta é mais uma vez vista apenas como uma parte do caminho.
Segundo a pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro – Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta, realizada em 11 capitais, a combinação da bicicleta com outros modais só é feita por uma média de 23% dos brasileiros. A solução para essa errônea perspectiva até mesmo o site MoveCidade já tem: “O foco é o usuário, isto é, a forma como cada um anda pela cidade.”.
Abaixo, você pode conferir as duas animações citadas!
Mobilidade urbana: um guia rápido
A soma das partes: entenda a intermodalidade