Uma aventura só para mulheres no município de Cabreúva-SP
As mulheres não tem a mesma forma que os homens tem de enfrentar os medos, não sei qual a química que transforma o desafio em coragem, mas é uma coragem diferente, é muito mais serena
Em um desses finais de tarde, na companhia de um café quentinho e alguma boa música, incubador ideal de divagações e berço de idéias malucas, estalou-se a vontade de fazer uma trilha, mas não mais uma trilha, queria levar só mulheres, as que coubessem dentro de uma van.
A princípio não sabia quais topariam, se eram iniciadas na terra, mas nada difícil demais ou muito fácil, precisava ser possível mas ao mesmo tempo desafiador, dentro dos locais que conheço, existe um clássico, a Trilha do Armazém do Limoeiro.
Cabreúva fica localizado no estado de São Paulo, aproximadamente a 90 km da capital, é município da Aglomeração Urbana de Jundiaí, com 46 mil habitantes e o nome vem de uma árvore também conhecida como pau de bálsamo e é ali perto entre Cabreúva e Itú que estava nosso ponto de partida e chegada.
O Armazém do Limoeiro, na estrada da Concórdia, é uma venda com mais de um século de existência, que passou de pai pra filho, desde que o primeiro proprietário entregou aos garçons do local ao final da vida, história contada e cantada por Débora Nunes, filha do Seu Clemente, atual administradora e cantora as tardes de Domingo, embalando as “porção” com a moda de viola caipira.
Com a data definida, 10 de abril, em menos de 15 dias todas as vagas ocupadas, entre amigos, conhecidos e conhecidos dos conhecidos, o time estava pronto e a idéia já tomava forma, entre elas, dentistas, triatletas, empresárias, arquitetas, advogadas e em comum que poucas tinham se desafiado na terra.
O esperado dia chegou, como já estava acontecendo a semana toda, as seis da manhã já estava 40 graus, ou seja, além das montanhas, o sol, que deixaria o passeio mais bonito também seria mais um ingrediente para apimentar os 28km.
Quando você coloca 15 pessoas dentro de uma Van, é impossível não voltar a quinta série, dançar o “xerexexe”, cantar, não deixar o próximo dormir e até mexer com um pelotão masculino que treinava na Bandeirantes, mas isso será guardado nos bastidores da organização, que aliás, contou com uma trupe de anjos da guarda que permitiu ser possível.
A trilha em si é famosa pelas mudanças de paisagem em poucos metros, fizemos o lado invertido, que evita uma longa subida no começo para deixa-la mais pra frente, um barato truque de se auto enganar. Passamos por plantação de cana, por uma longa reta com um lindo cafezal dos dois lados, um túnel de bambus verde e fresquinho e pequenos lagos.
Com o sol e as subidas, o sofrer é inevitável, e aí pra mim fez valer a viagem, em um grupo cada qual tem suas aflições e medos, nossa triatleta era uma monstra nas subidas e enfrentou o medo das descidas, uma caimbra fez uma delas deitar, segundo ela o músculo saiu da perna, e chorar um pouco, mas quando fui pegar a bike, puxou de mim e falou que ia terminar (pulando como saci), a alta executiva, entrou em estado alfa, mesmo pedalando quase metade do percurso com a catraca grande, não reclamou um segundo, apesar de estar claro o esforço.
As mulheres não tem a mesma forma que os homens tem de enfrentar os medos, não sei qual a química que transforma o desafio em coragem, mas é uma coragem diferente, é muito mais serena, aceitam a situação do momento, estabilizam e seguem sem a dúvida se conseguirão, elas sabem que irão, a outra grande lição, foi que as mulheres usam muito mais o banheiro que os homens.
Todas ultrapassaram o que acharam que poderiam fazer, enfrentaram seus pequenos monstrinhos e próximo a chegada, já era possível ouvir os acordes da viola, e pensar na limonada gelada em cima da mesa e uma cadeira pra descansar as pernas.
Ficamos algum tempo, relembrando as passagens do passeio, foram cantar e dançar no palco, beberam um “bardão” de cerveja com mandioca e voltaram com o sorriso que só aqueles que se desafiam podem dar e eu realizado de poder ver isso tudo.