No mundo ou na bicicleta, elas estão no comando
Sou um ciclista, da terra, da estrada e da cidade, e me chamou a atenção o crescimento das mulheres nas três situações, nas minhas idas e vindas pela ciclovia da Faria Lima já é comum ver elas
Quando o assunto é bicicleta, aparecem mais homens na rodinha falando sobre o tema que mulheres, essa afirmação ainda pode ser verdade, mas a cada dia que passa temos mais meninas e mulheres fazendo parte dessa conversa.
Não acredito na diferença de gêneros por atividades, mas acho que algumas circunstâncias intimidam por todo o resto que temos atrás delas, a segurança de poder rodar pelas ruas, a abordagem em algumas situações, os problemas mecânicos como furar pneu, quebrar corrente, isso gera obstáculos que freiam o crescimento de mulheres e homens pedalando, e no caso delas esse número é maior.
Diego Cagnato
Renata Mesquita
Analisando o varejo, onde trabalhei durante bons vinte anos, a concepção das bicicletarias e bike stores é basicamente masculina, desde a forma de exposição, atendimento, serviços, tudo é mais duro, direto, sem bossa, charme, cuidado ou chame como quiser. Algumas marcas como a Specialized e a Trek, já procuram dentro da sua rede de distribuição, terem um espaço feminino, é sabido que as mulheres consomem diferente e muito mais que os homens, o crescimento desse espaço é inevitável, talvez hoje ainda não exista volume para sustentar uma operação 100% feminina, mas posso afirmar que isso ocorrerá.
Sou um ciclista, da terra, da estrada e da cidade, e me chamou a atenção o crescimento das mulheres nas três situações, nas minhas idas e vindas pela ciclovia da Faria Lima já é comum e muito legal ver elas pedalando para ir trabalhar ou passeando com as crianças, nas provas de MTB e passeios de grupos elas também estão presentes e vou te dizer que são muito fortes, e nos treinos da Ciclocapivara (local de treino em SP a beira do rio Pinheiros com as amigas capivaras) já existem pelotões femininos enormes, como a Ciclofemini e o Pelotão das Minas que a Renata Mesquita comanda e com quem eu conversei para entender mais do assunto.
Diego Cagnato
Renata Mesquita
A Renata é uma ciclista experiente, que já participou de provas de longa distância e é apoiada por uma grande marca de bicicletas, ela afirmou que o número de mulheres querendo pedalar explodiu, e que hoje o maior problema que ela enxerga é a falta de habilidade de condução, que é consequência do início e da pouca quilometragem rodada, mas que provavelmente será adquirida com o tempo, e o mais importante, melhorando a condução, a coragem e confiança vêm junto, que é o segundo aspecto inibidor. O valoroso papel da Renata é de inspirar e encorajar mais mulheres a ganharem asas, opa, ganharem as ruas. Ela já enfrentou situações pesadas no dia a dia do trânsito, com ofensas, fechadas, intimidações, ela podia revidar ou desistir, mas a escolha dela foi de por cada dia mais e mais Renatas pedalando.
Diego Cagnato
Pelotão das Minas na Ciclovia do Rio Pinheiros sobre o comando de Renata Mesquita
Outro assunto envolvendo elas, que circulou esses dias, era a reivindicação de mais espaço e categorias para as mulheres em provas e eventos, pra quem não conhece as provas são separadas por categorias de idade, gênero e habilidade (pro/sport), e muitas vezes as mulheres ficam com uma categoria única sem subdivisões, é uma situação delicada, pois os organizadores analisam rentabilidade, quando abre uma categoria e prepara premiação e troféus, precisa que exista um retorno disso, e para as atletas que querem competir, é frustrante não ter categoria específica, e fica a redundância, o volume não cresce por que não tem categoria, ou não tem categoria por que não tem volume ? Acredito que será uma questão de paciência até elas criarem essa massa e que provavelmente teremos em breve mais provas exclusivamente femininas,como já aconteceu a primeira em 2015, o Tour Feminino de Santa Catarina, que foi uma prova muito menos competitiva do que desbravadora de um novo terreno, afinal o mundo é delas.