Opinião: As buzinadas e a indignação motorizada
Eu ter medo de usar o meu meio de transporte diário nas ruas da cidade, por conta de motoristas que acreditam que buzinadas e finas são forma de protesto, é algo que agride meus direitos como cidadã.
Escrever um texto como esse em um momento tão conturbado é bastante delicado. É ter a certeza que muitos leitores vão me xingar e a esperança de que alguns entendam o ponto que quero expor aqui. Como o Bike é Legal é um portal sobre mobilidade, não cabe aqui defender ou condenar um governo ou sua oposição, tão pouco questionar o ataque ao Estado Democrático de Direito, por mais que ele esteja sendo televisionado durante as últimas horas.
Paulo Stocker
As buzinadas e a indignação motorizada
Cabe aqui questionar o caos que está se instaurando nas ruas de São Paulo, não pela liberação das vias para manifestações, mas pelo excesso de barulho que atingem nossos ouvidos, mas não o nosso senso crítico. Segundo nossa gramática, critica e criticidade são palavras derivadas do termo crise. Ser crítico pressupõe entrar em crise, mas não na crise social e sim na crise individual.
Entrar em crise é como estar a beira de um precipício, sendo capaz de enxergar o que nos rodeia por todos os lados e com criticidade analisar o que está de fato acontecendo. Ao meu ver, uma pessoa que quer protestar, ou seja entrar em crise, precisa ao menos sair de sua zona de conforto para enxergar o seu entorno por outro ângulo. Estar dentro de um carro, confortavelmente sentado em sua poltrona, e mover as mãos alguns poucos centímetros para descarregar seu ódio na buzina e ainda direcionar esse barulho para ciclistas que estão passando, não é manifestação.
Eu ter medo de usar o meu meio de transporte diário nas ruas da cidade, por conta de motoristas que acreditam que buzinadas e finas são forma de protesto, é algo bizarro, e mais do que isso, agride meus direitos como cidadã em um Estado que ainda tenta ser democrático. Pior ainda é assistir a uma ciclista sendo agredida, hostilizada e encurralada em plena Avenida Paulista. Sobre o caso da ciclista e seu companheiro agredidos por manifestantes contra o governo na noite dessa quarta-feira (16), posso dizer que estou empenhada em conseguir contatá-la e ao que tudo indica em breve teremos uma matéria completa sobre o ocorrido.
Mas para esse texto opinião, deixo o meu desejo e apelo para que todos, sejam vocês contra ou a favor do atual governo, acalmem seus corações e lembrem que assim como nas pedaladas, só nos movemos para frente com equilíbrio e boa visão. Não caiam de suas bicicletas e nem de seus sensos críticos. Entremos em crise, mas não em guerra.