Diário das Magrelas: A bicicleta em uma cidade litorânea urbanizada
Na noite noturna santista, nos bares próximos aos principais canais que dão acesso a praia, as ruas são abarrotadas de automóveis. E nos postes, muitas bicicletas amarradas.
– Giuliana, se você não me levar para pedalar aqui em Santos eu vou ficar muito triste!
– Relaxa mãe, a gente vai pedalar! Só preciso ver como funciona os sistema de bikes compartilhadas por aqui.
Giuliana Pompeu
Bikes compartilhadas do sistema Bike Samba
Aplicativo baixado, cartão de crédito cadastrado e fomos a orla que possui o maior jardim frontal de praia em extensão do mundo. A orla contempla sete bairros da cidade e possui uma ciclovia em toda sua extensão. Pedalar por ali é maravilhoso, um colírio para os olhos em meio a tanta diversidade de espécies de plantas e pássaros.
A cidade de Santos e sua população tem uma relação profunda e interessante com a magrela. Além de praticamente todas as bicicletas serem bem mais simples que as usadas aqui em Sampa, isso porque a maresia detona as bikes, ela é fortemente usada como meio de transporte por uma parcela da população e apenas como esporte para outra.
Essa realidade também existe em cidades grandes e sem praias, onde a população da periferia em seus bairros usa muito mais a bicicleta para se locomover pela região do que os moradores do centro. Mas cruzar a cidade de bicicleta em São Paulo não é tão simples como em Santos, e por isso mesmo a baixada santista é inteiramente colorida pelos trabalhadores que acessam toda a cidade a pedaladas.
Em contrapartida, a população mais abastada da cidade, que tem acesso a um carro e também a possibilidade de chegar em quase todos os lugares em 20 minutos de pedal, majoritariamente só usa a bike para praticar um esporte ou relaxar um pouco na orla.
Na vida noturna santista, nos bares próximos aos principais canais que dão acesso a praia, as ruas são abarrotadas de automóveis. E nos postes, muitas bicicletas amarradas. Quase todos os trabalhadores vão pedalando para o trabalho, eles economizam com o transporte público que atualmente custa a bagatela de R$ 3,25, sim isso mesmo, três reais e vinte cinco centavos para cruzar em um ônibus pouquíssimos quilômetros. E nem preciso citar o quanto vivem melhor uma cidade que tem um pôr do sol lindo, um céu azul e uma brisa do mar que renova a alma a cada pedalada.
Já os jovens motorizados preferem sofrer para arranjar uma vaga, correr o risco para si e para os outros de dirigir depois de umas ou muitas cervejas e ainda ganhar uma multa em algum radar muito bem colocado na avenida principal, onde o limite, ainda alto para mim, é de 50 Km/h.
Santos é uma cidade litorânea muito mais urbanizada que a grande maioria e ao meu ver sofre grande influência da capital paulista, inclusive por alguns trabalhadores subirem e descerem a serra todos os dias. A cultura carrocêntrica está poluindo a cidade, fazendo as pessoas viverem dentro dos seus carros em constantes engarrafamentos nos horários de pico, esquecendo que sua cidade cresce frente à melhor “avenida” que pode existir, uma ciclovia em frente à praia.