O ciclismo em alerta após primeiro caso confirmado de “doping mecânico”
Apesar de algumas histórias de motores escondidos, este foi o primeiro flagrante do gênero no ciclismo profissional. Femke Van den Driessche foi flagrada no primeiro caso de "doping mecânico".
Após anos de boatos e suposições sobre o uso de motores escondidos, o primeiro caso de “doping mecânico” no ciclismo profissional foi confirmado neste domingo (31).
A belga Femke Van den Driessche, 19 anos, foi flagrada durante o Mundial de Ciclocross, disputado em Zolder, na Bélgica. “Havia um motor escondido, foi claramente uma fraude tecnológica” disse Brian Cookson, presidente da União Ciclista Internacional (UCI). A punição para a atleta ainda não foi estipulada.
Após o ocorrido, a ciclista belga colocou a culpa em um mecânico, que teria confundido sua bicicleta. “Esta não era minha bicicleta. Ela pertencia a um amigo e era idêntica à minha. Um mecânico, que pensava que fosse a minha, a preparou para a corrida…”, disse Van den Driessche.
Com o caso, o que antes ficava apenas no campo da brincadeira ou do boato, quase uma piada, ou uma desconfiança, acaba se concretizando; motores escondidos nas competições do ciclismo podem ser mais comuns do que se imagina.
O conceito de doping mecânico diz respeito a um auxílio ilícito para aumentar o desempenho do ciclista, normalmente sendo um motor escondido nos tubos da magrela. Segundo Cookson, entretanto, os fiscais possuem uma tecnologia que promete detectar esse tipo de fraude.
As primeiras suspeitas surgiram em 2010, depois das vitórias do suíço Fabian Cancellara no Tour des Flandres e no Paris-Roubaix; em ambas as provas, o campeão trocou de bike no meio do percurso, o que levantou rumores. Algumas semanas depois Davide Cassani apresentou para a TV italiana um protótipo de bicicleta de corrida com um mecanismo de motor.
Recentemente, o fantasma das magrelas turbinadas voltou a assombrar. Em 2015, até Chris Froome foi acusado de usar o artifício durante sua vitória no Tour de France.
De acordo com o regulamento da UCI, quem for flagrado com uma bicicleta motorizada durante as competições corre o risco de ser desclassificado da prova, suspenso por no mínimo seis meses, com multas de 20mil à 200mil francos suíços (cerca de R$ 781.362). O caso da ciclista belga está nas mãos da comissão disciplinar.
Apesar do mandatário da UCI não ter fornecido detalhes sobre as características do motor encontrado na bike de Driessche, o jornalista Claudio Ghisbalberti, que possui um bom entendimento de como a nova tecnologia funciona, explicou que o mecanismo eletromagnetico normalmente fica escondido na roda dianteira.
“O motor escondido no tubo do selim é algo antigo, quase artesanal e está sendo substituído (…) A nova fronteira (do doping) é muito mais avançada tecnologicamente e com um custo dez vezes maior. Localizado na roda dianteira, custa cerca de 200 mil euros (cerca de R$ 868.484), e ainda tem uma lista de espera de seis meses(…)”, explica.