Opinião: Os legados desta terra de colonizados
Recentes eventos importantes de ciclismo me fazem refletir o quanto nós brasileiros, ainda não reagimos a altura com decisões vindas sem nenhum pudor, de cima para baixo.
Recentes eventos importantes de ciclismo me fazem refletir o quanto nós, brasileiros, ainda não reagimos à altura com decisões vindas sem nenhum pudor de cima para baixo.
Reprodução
Pista Olímpica de MTB não será inteiramente mantida por conta do terreno pertencer ao Exército Brasileiro
A começar pelos eventos do Aquece Rio – o BMX e o MTB – ambos em Deodoro, no Rio de Janeiro, distante 30 km oeste do centro da cidade, região carente de infraestrutura, com forte concentração instalações militares, entre elas o Campo dos Afonsos, onde a aviação brasileira teve seu início.
O principal legado olímpico dessa região será o Parque Radical, com 500 mil m2 recortado de uma grande área de treino de tiro e movimentacões militares, entre elas entradas a comunidades. Curiosa são as construções estilo “favelinha” em um dos morros por onde passa a pista de MTB – são os cenários dos treinos militares.
A pista de BMX será mantida como de Super Cross, na sua forma original olímpica e ao seu redor serão construídas quadras multidesportivas. O Remo Slalon será transformado em uma piscina com correnteza de lazer.
Já a pista de MTB, apontada por todos os atletas como a melhor pista olímpica de todos os tempos, porque é veloz e técnica, com belíssima vista para o Maciço da Tijuca, esta não será mantida, pois a sua extensão extrapola a área cedida pelos militares ao parque. Grande parte de seus 5 km de percurso invadem a zona de treino de tiros.
Interessante seria uma negociação entre militares, a Empresa Olímpica responsável por toda a construção da Rio 2016 e a sociedade civil interessada, uma negociação de um legado ainda que temporário, onde a pista seria mantida e com uso para eventos em alguns dias do ano. Até o momento, a Empresa Olímpica não respondeu aos meus questionamentos sobre o legado do MTB.
Já a pista de BMX, ela por ser no formato olímpico é muito seletiva, no Brasil não chegam a 20 os pilotos aptos a “zerá-la”, rodar por ela sem se matar, afinal são saltos de 5 m de atura com 12 de comprimento! O correto é a construção ao seu redor de outras pistas-escola, de entrada. Exatamente o projeto do brasileiro Paulo Cotrim que em Londres construiu 12 escolinhas de BMX ao redor da Pista Olímpica, sendo que esta por sua vez foi “amansada” após a Londres 2012, para servir aos atletas já iniciados, mas que ainda não alcansaram um nível olímpico.
Pois bem Paulo Cotrim retornou ao Brasil, trabalha junto a Confederação Brasileira de Ciclismo, e até hoje não conseguiu, por fatores repletos de burocracias catapultadas pela cegueira brasileira, construir uma única pista sendo que já “bateu na trave” um sem número de vezes.
Outro evento também a se refletir é o L’Étape, aquela corrida que replica as condições de uma etapa de montanha do Tour de France, que pela primeira vez rolou aqui no Brasil em Cunha, Norte de São Paulo, quase divisa do Rio. Cerca de 1800 atletas amadores pagaram entre 690 e 800 reais para disputar uma prova impecável no quesito organização para atletas, sendo que outros eventos com igual qualidade e custo bem mais acessível, que já foram até propostos e organizados por alguns dos envolvidos no L’Étape Brasil, não conseguem sucesso devida falta de adesão.
O brasileiro só adere o formato vindo de fora? Nada mais colonizado que isso né?
Também convido a todos a participar da 9 de Junho aqui em SP em 2016, a mais antiga e tradicional prova de ciclismo aqui do Brasil. Vamos também prestigiar o que é nosso!