Que oposição é essa?
Hoje não há oposição não há debate, apenas polêmicas, chamam isso de democracia, mas nada mais é que um barco furado com todos os compartimentos interligados e esse barco vai afundar.
Quando leio a manchete na grande mídia com a declaração de um Vereador suplente dizendo que as “ ciclovias são um retrocesso, um genocídio” pergunto:
Qual é o papel da oposição? Fiscalizar? Opor-se ao que está errado? Ser um guardião dos direitos e deveres ? Ou além disso tudo, defender os interesse da comunidade, do povo, o interesse público e a democracia?
Qualquer jornalista antes de veicular uma frase de efeito tão absurda como essa, deveria perguntar ao mesmo Vereador, ou a fontes confiáveis, quais os estudos que comprovam que estrutura cicloviária determina mortes de pessoas e onde está a base do retrocesso uma vez que o Plano Nacional de Mobilidade Urbana rege prioridade aos transportes públicos e ativos.
Esse Vereador não tem a menor idéia do que está falando e certamente hoje está de peito cheio, pois ele e seus colegas de “oposição” entendem que jogar pedras ao léu por sí só serve como trabalho político de fiscalizar a situação, de fazer “oposição” e se as pedras ecoarem na mídia melhor!
A jornalista em questão, a que redigiu e assinou a matéria, deve estar feliz pela quantidade de views que a sua matéria rendeu.
Hoje não existe mais “oposição”, existem verborragias, page views, curtidas e o Facebook é a vala comum disso tudo. Essa é a medida da atualidade. A mídia, mesmo aquela que já foi confiável, não se importa se o material veiculado é verdade ou mentira, o que vale é o quanto de dedãozinhos a matéria resultou, o número de curtidas, a visibilidade, a audiência.
O jornalismo acabou, e o que chamam de ”muita informação” é na realidade apenas ruídos sem sentido e o verdadeiro debate político morreu.
Hoje não há oposição não há debate, apenas polêmicas, chamam isso de democracia, mas nada mais é que um barco furado com todos os compartimentos interligados e esse barco vai afundar.
É Mensalão, é Petrolão, é Trensalão, é Crise Hídrica e a avaliação disso tudo está confinada ao dedãozinho da curtida. Em São Paulo, falar mal das ciclovias virou sinônimo de “oposição”, quanta pobreza!
Junto com o transporte público, as ciclovias são um programa de Estado que deveria ser cumprido independente de partido ou de gestão, assim como saúde, educação, lazer, segurança e cultura. É determinação da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
Apostar na mobilidade em veículos privados e na manutenção de estacionamentos nas ruas para o lucro e conforto de uma minoria, não poderia por moralidade sequer passar pela cabeça desses “opositores”!
Um mínimo de tempo ao tempo, mais e mais ciclistas estarão nas ruas, mais crianças, mulheres e chegará a hora da propaganda eleitoral, já que o ano que vem é de eleições. Quando os candidatos a prefeito e vereador forem buscar votos no povão, perceberão que as ciclovias são democráticas, são inclusivas e estão minimamente propondo a democratização e o resgate do espaço público.
Aí ouviremos aquela ladainha, “não sou contra ciclovias mas… ” e detonarão o de melhor dessa atual gestão de SP, que é a vontade política de encarar o “mimimi” e promover a mobilidade em bicicleta, sk8, cadeiras de rodas, patins, a pé etc., ou seja o transporte ativo.
Nesses últimos 35 anos, todos os prefeitos prometeram estruturas cicloviárias e quase nada rolou. A lei que manda ciclovias em novas avenidas, pontes e reformas destas data de 1990 e essa lei, assinada, aprovada e promulgada há 25 anos não é cumprida. Fomos até a última gestão municipal, o “café com leite” nas mesas de negociação, nunca levados a sério.
Esses prefeitos todos estão em débito para com os ciclistas, Estes por sua vez, além de propor uma solução limpa, viável, barata, saudável e inclusiva para a cidade, a praticam e pagam com vida e sangue no asfalto.
Um político deveria estudar o assunto, analisar os fatos, antes de abrir a boca para falar besteira. O fato é que a esmagadora maioria do povo está ou a pé, ou exprimido no transporte público e esse mesmo povo é a favor das ciclovias. Quem pedala sabe disso, pois o ciclista é quem está de fato nas ruas, está em contato e sabe a opinião do povo trabalhador. Só quem está nas ruas sabe disso, pois a mídia em especial a impressa, a escrita, só veicula para a classe A, aquela que está morrendo dentro de seus carros, parados no trânsito e que imagina que mais estrutura viária vai resolver os seus problemas.
Só quem está nas ruas sabe disso, os ciclistas estão, o povo também.
É contra a ciclovia aqueles que “perderam” vagas para estacionar seus carros particulares nas ruas, ou o lucro de vendas que dependem da privatização do espaço público para estacionamento de clientes.
Essa minoria representa poucos votos e a imprensa se incumbe de amplificar esse “mimimi”. Mas ano que vem esses mesmos políticos vão mudar o discurso e dizer que apoiam sim as ciclovias e blá blá blá, pura enganação.
Para fazê-las melhor, terão (teriam pois não farão) que tirar pistas de rolamento das ruas e dá-las aos pedestres e aos ciclistas (cadeirantes, sk8tistas etc) mas isso é tabu, não rola.
Portanto ano que vem vamos ouvir uma ladainha vergonhosa de “não sou contra cioclovias, ou corredores de ônibus, mas… ” e o pior disso tudo é não ter um único candidato de oposição digno de voto, pois todos eles caíram na vala comum do discurso negativista de ser do contra e contabilizar os números de curtidas ao léu. Apenas isso. Isso não é oposição é trolar.
A irresponsabilidade da oposição é diretamente proporcional a soberba cega da situação federal. Pior cego é aquele que não quer ver e ficou claro pelas declarações dos ministros em Brasília no mesmo dia 15.
É fácil se defender minimizando que foram apenas os que votaram contra, mas quem me convocou para o dia 15 de março, foi um operário de obra, que me parou na rua e disse que iria às ruas em solidariedade aos milhares de demitidos devido os problemas da Petrobrás.
Vox Populi Vox Dei?
Quem está nas ruas sabe disso, mas a oposição não está nas ruas, está trancada em seus carros legislando em causa própria, ou no computador contando as curtidas nas suas redes sociais. Essa oposição que aí está, não entendeu nada.
Estamos ao relento, e sem um debate construtivo.
Pior que não se alinhar com a situação é não ver na oposição o eco de suas idéias.
Hoje o único partido que resta é o PPQP, isso mesmo o Partido da PQP.
Agora mais uma bomba, a do Ministério Público pedir a interrupção das obras, meu Deus alguém já ouviu falar em interesse público estar acima do privado?