Pessoas limítrofes – Criações paradigmáticas
Todos sabemos que existe um paradigma de conduta, onde supostamente devemos seguir as normas; mesmo que essas normas sejam vistas como questionáveis e limitantes.
“De médico e de louco todo mundo tem um pouco”
Todos sabemos que existe um paradigma de conduta, onde supostamente devemos seguir as normas, chamadas também de bom senso, bons costumes, código social, etc; mesmo que essas normas sejam vistas como questionáveis e limitantes pela maioria, apenas poucos transcendem esses limites culturais; e logo são tachados de irresponsáveis, egoístas, párias, anormais, “freaks”.
Mas assim como os paradigmas mudam, as verdades também mudam, e aqueles que antes eram párias, podem vir a se tornar ilustres após um tempo. Como sabemos o arquétipo de “cientísta louco” é algo comum na cultura ocidental e eles tendem a ser vistos como pouco saudáveis. Nossa história está repleta de exemplos em que o ceticismo, a criatividade, ou a sensibilidade, geraram mais conhecimento, mas mesmo assim nossa sociedade insiste na antipatia com o estranho, com a mudança. Onde o estranho e o “criminoso”/errado se confundem, tornando-se relativos às percepções e valores individuais.
Professor Pardal da Disney
Afinal para que ajudaria ter rodas feitas com botas? Isso parece errado?
Assim como foi preciso um conjunto de inventores um tanto excêntricos para desenvolver o que hoje conhecemos como bicicleta, também foi e ainda é preciso uma boa quantidade de ciclistas excêntricos e desafiadores, para se a implantar a rede cicloviária em São Paulo. A bike constantemente foi companheira de figuras históricas, que apesar de seus estigmas sociais, mudaram o mundo e o modo como o enxergamos, através de suas descobertas. Apesar de sua parcela de “culpa” no advento da bomba atômica, Albert Eistein em sua magrela, mudou o modo como percebemos o mundo e as regras da física que regem essa percepção.
Albert Einstein pedalando
Uma figura pouco usual, gênio ciclista.
Já dizia Foucault “…Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código. Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias, as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente ou de hereditariedade. Punem-se agressões, mas, por meio delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e desejos…”. Um dos principais objetivos de Foucault ao escrever o livro “Vigiar e Punir” era a distinção nos tratamentos de pessoas enfermas (loucas, anormais), que precisam ser internadas/tratadas; e pessoas anti-éticas, que precisam ser punidas.
Alfred Hitchcock pedalando
Afinal é certo punir o “doente”? O que define a “doença”? Qual seria a diferença entre o louco e o visionário?
Em 1943 o químico Albert Hoffman, descobria os efeitos do LSD sintético. Ao trabalhar no isolamento de princípios ativos presentes no fungo ergô, pesquisando uma substância que impedisse o sangramento excessivo após o parto, depois de acidentalmente derramar a substância e absorver parte dela pela pele, o químico sentiu os efeitos, do que seria mais tarde a popular droga alucinógena. Após algum tempo voltou a experimentar a substância e foi durante um “passeio” de bicicleta que ele pensou no potencial financeiro do uso recreativo. Hoffman costumava se locomover com sua bike e foi nela que iniciou o uso recreativo da droga, como ilustra essa animação criada por Lorenzo Veracini, Nandini Nambiar e Marco Avoletta.
A bicycle trip (Short-film 2007) from lorenzo veracini on Vimeo.
“Me vi forçado a interromper meu trabalho no laboratório no meio da tarde e me dirigi para casa…Encontrando-me afetado por uma notável inquietude, combinada com certa tontura.” Retirado do diário de Hoffman (que viveu até os 102 anos e morreu lutanto contra a desinformação farmacológica que cercava sua criação).
Divulgação
Bike2000: Uma cartela de LSD que ficou famosa
Existem muitas pessoas polêmicas e controversas no mundo da bicicleta, mas nem por isso elas são doentes, loucas, párias, ou algo do tipo; muito menos passíveis de alguma punição. Muitos inclusive são cultuados por pessoas, que apesar de em algum momento terem sido pouco tolerantes, com essas figuras, os idolatram como dita a cultura ocidental.
Curioso? Seguem mais alguns nomes de “pessoas limítrofes” que costumavam pedalar: JRR Tolkein, H.G. Wells, Marcel Duchamp, Elvis, Paul Mccartney, Michael Jackson, Hunphrey Bogart…