O Chile e suas Laranjas Mecânicas
Descobri, por total acaso, que o Banco laranja está bancando o sistema de bicicletas compartilhadas também no Chile, em Santiago. Chamado de Bike Santiago, está funcionando há algum tempo e no próximo dia 10/12/2014 se conectará entre as communes (regiões) de Santiago. Curiosa a atuação internacional do banco, mas entendível: é um banco que atua por aí e quer ser um banco em mais lugares. Simples.
Mas, o ponto alto da coisa toda é o nível do sistema e das bicicletas de lá! O recalque bateu e ficou!
O projeto tem como meta implementar 2.100 bicicletas em 140 estações passando por 14 communes. Um comparativo: em Belo Horizonte, serão 400 bicicletas, 40 estações e duas regiões que não se conectam atendidas pelo sistema. O sistema chileno será totalmente implementado em 4 meses (até março de 2015). Outra comparação: Belo Horizonte, que terá um sistema cinco vezes menor, está com quase seis meses de implantação e ainda não está pronto.
Fazendo uma conta rápida, é possível notar que eles terão cerca de 15 bicicletas por estação. Por si só, esse dado não quer dizer nada. Analisando o site do Bike Santiago, não encontrei a quantidade de vagas por estação que o sistema terá. Esse dado é fundamental para entender qual o coeficiente de preenchimento (vagas/bicicletas) que será utilizado pelo sistema. Belo Horizonte, por exemplo, utiliza 1,2 vagas por bicicletas. Os manuais de compartilhadas indicam que esse coeficiente precisa estar entre 2 a 2,5 vagas por bicicleta, para evitar problemas com excesso de bicicletas nas estações.
Olhando o mapa das estações, percebe-se que o sistema chileno, até agora, prezou pela densidade na instalação das estações. Ou seja, eles optaram por colocar muitas estações em um território pequeno. Isso é importante para possibilitar que as pessoas sempre tenham bicicletas à disposição e não se frustrem ao chegar às estações.
Lá, se você for cliente do banco laranja, você receberá alguns mimos: mais minutos para pedalar ‘de graça’ e os custos para se inscrever são um pouco mais baixos para quem já possui uma conta no dito cujo.
Divulgação
Imagem retirada do http://instagram.com/bikesantiago
Longe de parecerem os sistemas implementados no Brasil, as de Santigado possuem:
– GPS
– Cadeado fixo à bicicleta
– Cestinha dianteira em ferro
– Freio à disco em ambas as rodas
– Luz dianteira e traseira em LED
– O quadro e o aro são de melhor qualidade que os brasileiros
Há alguns outros detalhes que chamam atenção e relembram os sistemas de bicicletas compartilhadas da Ásia e Europa (que são reconhecidamente superiores aos recém implantados no Brasil).
Desde o final do ano passado, o sistema já vem sendo promovido nas redes sociais e criando uma relação amigável com seu público-alvo. Outro fator positivo é o conteúdo das artes publicadas nas redes sociais do sistema: bem feitas e interativas, elas se comunicam com o leitor fazendo uso de especificidades e urbanidades locais que despertam interesse de quem as vê.
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Arte retirada do Twitter @bikesantiago
Como nas cidades brasileiras, o sistema tem horário de funcionamento limitado. Ele funcionará de 6h30min às 23h para retirada de bicicletas. A utilização de um cartão para retirar as bicicletas e o uso de aplicativo de telefone móvel para informar os usuários sobre a disponibilidade de bicicletas e a localidade das estações é semelhante ao adotado em cidades francesas como Paris e Toulouse.
A estrutura planejada e executada desde o inicio do sistema é superior às do Brasil e esse fato merece a atenção das cidades brasileiras nas quais o sistema de bicicletas compartilhadas está sendo financiado pelo banco e/ou foi planejado e gerido pela Serttel. Que a cidade vizinha, longe do velho continente com seus euros e libras, inspire as brasileiras na busca por melhorias do funcionamento dos nossos sistemas.
A parceria com a Trek, que é a gestora do sistema, aparenta ter sido fundamental para essa elevação no padrão da infraestrutura do serviço oferecido. Essa diferença de nível parece estar mais em quem recebe o dinheiro do tal banco do que em quem paga a conta de fato…
Todas essas informações estão disponíveis pelo site http://www.bikesantiago.cl/ ou pelas sociais alimentadas pelo sistema chileno: Twitter, Facebook e Instagram.
Texto inicialmente publicado em www.cidadesincomum.com