Direitos e Deveres: Evolução
Alguns exemplos de iniciativas culturais que chamam atenção para os rios de São Paulo; e uma reflexão sobre os conceitos de evolução e progresso.
Deveres e Direitos: Evolução e Progre
A maioria das comunidades, tribos e cidades foram fundadas perto e ao longo dos rios. A presença deles sempre foi um fator importante na fundação de conglomerados sociais; os motivos são muitos: transporte, pesca, água potável, higiene, etc. Mas com o surgimento dos grandes centros urbanos, os rios foram ao longo do tempo deixando de ser fonte de recursos naturais, para se tornar um obstáculo para o crescimento desenfreado das metrópoles cosmopolitas.
Com esta interpretação a cidade escondeu, enterrou e modificou profundamente o leito dos rios em função do “desenvolvimento” urbano. Atualmente vários dos principais rios de São Paulo correm por tubulações e canais fabricados, transformando-os em córregos e depósitos de esgoto.
Você sabe quantos rios ainda existem em São Paulo?
Divulgação / Prefeitura
Mapa hidrográfico do Município de São Paulo, veja mais no link.
Existem vários projetos para a revitalização dos rios. Alguns buscam recuperar as margens ciliares, para manter a filtragem natural das águas, evitar deslizamentos e prover um ambiente fértil para fauna e flora. Outros ainda pretendem desenterrar e alargar os rios. E mais tantos buscam sensibilizar e conscientizar a população acerca da importância dos rios, sendo que normalmente esta sensibilização envolve alguma produção cultural. Várias intervenções, documentários e instalações sobre o tema tem sido trazidas ao público, com cada vez mais periodicidade.
O documentário “Entre Rios” é um bom exemplo de como uma produção cultural pode ajudar a sensibilizar e conscientizar uma população. Neste documentário vemos como a cidade de São Paulo mudou e como a relação com os rios foi se perdendo com o tempo. O filme começa explicando o porque do rio Piratininga ser o nome original do Rio Tamanduateí e como a cidade foi fundada na região, que era habitada por índios. Contando a história de como a cidade implantou a primeira ferrovia, a “São Paulo Railway” fazendo a ligação com o oceano através do vale do Tamanduateí, com a Estação da Sé já sendo na época o ponto central de convergência das construções de outras ferrovias. “A velocidade da máquina transformou a vida na cidade e alterou de forma marcante a sua relação com os rios. Os peixes que antes eram tirados dos rios agora vinham diretamente do mar, trazidos em vagões.” (4min e 34seg)
ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.
Veja mais sobre a iniciativa neste link.
Será que o conceito de progresso urbano/tecnológico humano segue em algum momento na mesma direção que o conceito de evolução de Darwin? Água encanada é uma boa solução? Será que esse desenvolvimento mercantilista é benéfico para a própria cidade? Será que esse modelo de urbanização rodoviarísta é o melhor que existe? Será que essa carrocracia consegue se sustentar, ou teremos o derradeiro “último congestionamento”? No histórico mundial conhecemos vários exemplos de rios recuperados e atualmente sendo utilizados pela população.
Divulgação / Prefeitura
Áreas urbanizadas até 1881 em azul escuro e áreas urbanizadas até 2002 em vermelho escuro. Clique aqui para baixar o PDF.
Já existem casas que além de utilizarem um sistema de coleta de água da chuva, possuem um sistema próprio de filtragem e reutilização da água; em alguns casos mais raros existe até a utilização dos dejetos produzidos para gerar gás natural, que pode ser utilizado em um gerador (eletricidade).
Recentemente o Bike é Legal abordou outros dois bons exemplos, de como as iniciativas culturais podem conscientizar e sensibilizar a população, em relação aos rios. Renata Falzoni e Felipe Meireles nos mostram a exposição “As Margens do Rio Pinheiros” do artista plástico Eduardo Srur; provocando as pessoas com manequins que imitam pessoas prestes a mergulhar, posicionados ao longo das pontes das margens do Rio Pinheiros em trampolins; expôs também duas “lápides” marcando os Córregos de Uberada e de Jaguaré, que desaguam no Rio Pinheiros; e finaliza a composição da exposição com duas onças infláveis, posicionadas na margem oposta da Estação Pinheiros da CPTM, representando o momento que o animal fica indefeso para beber água. Veja mais da vídeo reportagem neste link.
Outra reportagem produzida pela equipe do Bike é Legal que incentiva um novo modelo de urbanização; nesta videorreportagem, vemos a inauguração da “Mostra Rios e Ruas Intervenções” na Praça Victor Civita, idealizada por Charles Groisman. A mostra reúne cinco artistas: Eduardo Srur, Paulo Von Poser, Carla Caffé, Zezão e Danilo Zamboni; trazendo arte para sensibilizar as pessoas acerca da questão da água. Atualmente a Praça Victor Civita é a localização de um Museu da Sustentabilidade, mas já foi um local que insinerava lixo. Veja mais na matéria completa.
E para finalizar os exemplos de iniciativas ou ideias de intervenções que chamam a atenção da população para os rios, cito um trabalho que produzi junto com o grupo formado por: Isadora Frota, Marina Rozas e Natália Estevez, durante a faculdade de Design, o tema era “como melhorar a sua cidade com o design?”. O grupo tinha a intenção de marcar a nascente (aproximada) e o percurso do Córrego da Várzea que nasce entre o Túnel Nove de Julho e a Alameda Jaú, sendo enterrado entre os anos de 1933 e 1945. O projeto que intitulamos de “Cadê o Rio?”, tinha como objetivo planejar instalações que fizessem as pessoas pensar quantos rios existem ocultos e enterrados em São Paulo. As primeiras instalações ficariam localizadas na nascente, em um ponto do percurso e no ponto de desague do Córrego da Várzea. Veja mais nesta animação 3D, e nas imagens abaixo.
Grupo da faculdade de Design
Segunda intervenção ao longo da Av Nove de Julho
Grupo da faculdade de Design
Terceira intervenção desembocando no Rio Pinheiros