Um jogo da Copa do Mundo e a eficiência da opção inexistente
O Mineirão, em Belo Horizonte, já recebeu três jogos da Copa e é provável que apenas uma bicicleta, que não fosse da organização, tenha acessado os paraciclos do estádio.
O Mineirão, em Belo Horizonte, já recebeu três jogos da Copa e é provável que apenas uma bicicleta, que não fosse da organização, tenha acessado os paraciclos do estádio. Recebi um par de ingressos para assistir ao jogo Argélia e Bélgica, no dia 17/06. Mesmo não sentindo nenhuma paixão pelo futebol padrão FIFA há alguns anos, aceitei o convite.
Um dia antes do jogo, fui pesquisar no Guia de Mobilidade Copa do Mundo Fifa Brasil 2014 em Belo Horizonte como eu poderia acessar o Mineirão. Li e constatei que, mesmo o estádio tendo 97 vagas para bicicleta em seu interior, a bicicleta não foi citada no Guia, feito pela BHTrans, em nenhuma das possibilidades de se acessar o estádio, nem mesmo empurrando. A BHTrans, por meio de um servidor, informou um canal de comunicação não oficial com cidadãos interessados na promoção da bicicletas que “O único modo de se chegar ao estádio nos dias de jogos é a pé […]”.

Vendo o orçamento municipal na área de mobilidade, alguns indicadores da cidade e esse Guia, é nítida a opção que BH fez em seus investimentos para transporte nos últimos anos. O legado da Copa que teremos na cidade é mais ônus no orçamento municipal para manter quilômetros e quilômetros de novas ruas e avenidas, além em sistema de BRT (MOVE), que pode vir a ser eficiente, mas que já conta com sérias críticas.
Pensando em como ir ao estádio, a escolha foi racional: mais agilidade e menos dinheiro gasto no deslocamento. Diante das possibilidades mostradas na imagem acima, preferi a eficiente e inexistente bicicleta.
O jogo se iniciaria às 13h. Acreditando na grande probabilidade de que a bicicleta seria barrada pela Polícia Militar ou pela FIFA, resolvi sair de casa mais cedo, às 10h, para ter tempo de achar onde estacionar a bicicleta seguramente e caminhar até o estádio.

Gastei 34 minutos, pedalando cerca de 10 quilômetros, dois deles em ciclovia, para chegar à primeira barreira do estádio, a da PM. Fingi que não os vi, desci da bicicleta, e segui adiante. Logo em seguida, me pararam, disseram que eu não poderia avançar com a bicicleta, pois não havia lugar para deixá-la adiante e me perguntaram se eu tinha ingresso. Respondi que eu havia entrado em contato com a Minas Arena (administradora do estádio) e sido informado que no estádio haviam 97 vagas para bicicletas e que possuía ingresso. O policial fez sinal de positivo com a cabeça e afirmou que eu deveria voltar, caso não houvesse onde estacionar a bicicleta. Segui em frente.
Subi por um corredor cercado por grades e centenas de policiais, com um vão de cerca de sete metros, por onde as pessoas passavam até chegarem à entrada do Mineirão.

Cheguei até a segunda barreira, a dos voluntários FIFA. Tendo a certeza que ele estava lá, perguntei onde era o bicicletário. Recebi um “logo ali, senhor”, seguido de uma indicação, como resposta. Andei pouco mais de 50 metros e vi uma imensa quantidade de paraciclos ociosos, à espera de bicicletas. A cor deles deixava claro que poucas ou, talvez, nenhuma bicicleta havia lhes encostado. Eles estão localizados em frente à Escola de Veterinária da UFMG, esquina de av. Coronel Pascoal com av. Carlos Luz.

Parei a bicicleta com duas trancas U-lock e uma corrente. Peguei os instrumentos que estavam no alforge e fui para a última barreira: a do raio-x e detector de metais. Bomba de ar, espátula, câmara de ar, chaves e garrafinha d’água foram barradas. Voltei com tudo isso para a bicicleta e adentrei ao estádio. Vi o jogo com pouco entusiasmo, embora a torcida fizesse bastante festa. Na volta, destranquei a bicicleta e pedalei por 35 minutos até meu ponto de parada.
A bicicleta, mesmo não existindo para a gestão pública municipal como modo de transporte viável e possível para ir aos jogos da Copa, se mostrou, mais uma vez, eficiente. Belo Horizonte ainda receberá mais três jogos da Copa. Isso quer dizer que ainda há tempo da prefeitura divulgar a magrela como modo viável para ir ao estádio. Como isso não deve acontecer, vale a pena passar aos nossos conhecidos a mensagem de que, sim, a bicicleta é uma possibilidade viável em Belo Horizonte, não só na Copa.

Dicas:
– na primeira barreira, a da PM, diga que você se informou que há vagas disponíveis no estádio;
– vá empurrando a bicicleta até o bicicletário, que fica antes da segunda barreira, a dos voluntários FIFA;
– leve cadeados/travas;
– bombas, câmaras de ar e ferramentas podem não passar pela última barreira, que contém o raio-x e o detector de metal.
Observações:
– Valeu a pena não gastar nada para chegar até o estádio. Comidas e bebidas lá dentro têm valor alto.
– As 97 vagas no estádio equivalem a 3,3% do total de vagas.
– Optei por ir pela r. Jacuí, av. Bernardo Vasconcelos, av. Américo Vespúcio e av. Carlos Luz. Na volta, fiz o caminho inverso.