Pela diversidade ciclística
Conforme a mobilidade por bicicleta evolui numa cidade, surgem bicicletas de tipos diferentes do que estávamos acostumados a ver. E não estou falando apenas de dobráveis e fixas...
Conforme a mobilidade por bicicleta evolui numa cidade, surgem bicicletas de tipos diferentes do que estávamos acostumados a ver. E não estou falando apenas de dobráveis e fixas, que também aparecem nas cidades apenas após algum nível de “evolução” na bicimobilidade, mas de modelos que ainda não são comuns em cidades fortemente urbanizadas.
Nas cidades europeias, comumente usadas como modelo para esse assunto, há uma infinidade de modelos de cargueiras, triciclos, reboques e trailers, que atendem a necessidades e perfis de ciclistas distintos. Modelos que por aqui nunca foram vistos são comuns por aquelas bandas.
Em alguns lugares, até mudanças são feitas em bicicletas, com reboques capazes de transportar de sofás a geladeiras. No Brasil, talvez o município onde mais se vejam cargueiras seja o Rio de Janeiro, onde o assunto virou tema de estudo da Transporte Ativo. Até um Campeonato de Cargueiras está sendo preparado por lá. Essa semana, a ONG flagrou um entregador levando um enorme colchão em uma bicicleta de carga em Copacabana.
Em São Paulo, as cargueiras entregam principalmente pães e bebidas, com predominância de galões de água, pesadíssimos quando cheios.
Já os triciclos são muito utilizados por idosos e pessoas que não aprenderam a se equilibrar em uma bicicleta convencional, inclusive nas cidades litorâneas brasileiras. Há triciclos com um assento traseiro, que podem ser usados para transportar crianças, mas esses são raros por aqui. De qualquer forma, os triciclos são pouco vistos nas ruas das grandes cidades que não estejam próximas ao mar. Já explico o porquê.
O transporte de crianças, em lugares onde a mobilidade por bicicleta seja bem aceita, costuma ser feita também por meio de trailers e de cargueiras desenhadas especialmente para isso, com espaço para que as crianças se sentem à frente do ciclista. Os trailers chegam a levar até bebês e há quem transporte também seus animais de estimação.
Por fim, temos também as handbikes. “Pedaladas” com as mãos, são utilizadas por pessoas com deficiência ou com restrições motoras, permitindo deslocamentos mais longos do que com a cadeira de rodas. Aqui no Brasil, são difíceis de achar e, geralmente, caras, um dos motivos para que não sejam vistas com frequência.
Mas o principal motivo de não vermos toda essa profusão de modelos, tamanhos e formatos de bicicleta é outro: ainda não seriam aceitas pelos nossos motoristas. Claro que isso é uma generalização (e todas as generalizações são perigosas – inclusive esta). Mas ainda que a maioria dos motoristas possa estar pronta para aceitar e respeitar essa ciclodiversidade, ainda há muita gente que consideraria que um triciclo ocupa um espaço que, em sua opinião, deveria ser exclusivo dos automóveis. Ainda há muita gente que julgaria irresponsável um pai transportando duas crianças em um trailer nas ruas daqui, atribuindo-lhe a culpa pelo mau comportamento e a intolerância de outras pessoas, que estão em seus carros.
É preciso continuarmos divulgando o conceito de que as ruas são para as pessoas, estejam elas em automóveis, bicicletas, triciclos ou patins. As pessoas devem se sentir seguras para transportar suas crianças sem que precisem protegê-las atrás de centenas de quilos de metal. Por que é aí que está a raiz de muitos problemas das cidades – e, por que não dizer, da infância perdida para o medo de sair às ruas.