A Ciclovia Rio Pinheiros e os ciclistas em treinamento
Em boa parte, os ciclistas que treinam na Ciclovia Rio Pinheiros, em São Paulo, não ficaram satisfeitos com as soluções apresentadas para a interdição parcial da pista.
Em boa parte, os ciclistas que treinam na Ciclovia Rio Pinheiros, em São Paulo, não ficaram satisfeitos com as soluções apresentadas para a interdição parcial da pista, que tem em seu total pouco mais de 21 km de extensão. O trecho entre as estações Vila Olímpia e Granja Julieta será fechado por dois anos, durante as obras da Linha 17-Ouro do Metrô, o monotrilho.
Após diversas reuniões com cicloativistas ao longo do mês de outubro, incluindo uma vistoria conjunta às margens do rio, chegou-se a uma solução que acaba por atender tanto ao deslocamento de quem utiliza a ciclovia quanto à necessidade de iniciar as obras, que chegaram a ser suspensas por mais de um mês até que as alternativas fossem acordadas.
A solução consiste em utilizar a margem oposta do rio, onde hoje há uma pista de terra (que será pavimentada), para contornar o trecho onde será realizada a obra. Para que os ciclistas possam acessar essa margem, duas pontes serão adaptadas: uma das pontes da João Dias e a Ponte Cidade Jardim, que inclusive terá um acesso externo.
Porém essas adaptações levam algum tempo para serem concluídas. Além de pavimentar 8 km da pista de terra, ainda precisam ser construídas estruturas para que os ciclistas subam até a lateral da ponte e desçam na margem oposta depois de atravessá-la. A previsão das equipes responsáveis pela obra é de dois a três meses.
E é aí que entra o primeiro ponto contestado: a medida paliativa para que a obra possa começar.
Reynaldo Berto
Tem espaço na van | Arte de Reynaldo Berto
A van da discórdia
Como mostramos aqui no Bike é Legal, foram disponibilizadas vans para transportar os ciclistas pelo trecho de obra, enquanto as adaptações não ficam prontas. Essas vans possuam uma carretinha atrás, com suportes para prender as bicicletas.
Claro que essa solução está longe do ideal pelo ponto de vista dos ciclistas – que seria passar pedalando por esse trecho. Também é, de certa forma, injusta, porque muda radicalmente a forma como o ciclista se desloca, lhe infligindo algum atraso, como consequência única de um erro de planejamento, cometido por alguém que simplesmente “esqueceu” – por despreparo ou intencionalmente mesmo, nunca saberemos – que em uma ciclovia passam ciclistas.
Ao ciclista que se desloca para o trabalho, a van é incômoda mas resolve seu problema, ao custo de um pequeno atraso. Se estiver atendendo sem esperas para o embarque, como prometido, não causará maiores transtornos além da inconveniência. Para quem passeia pela ciclovia, pode ser uma experiência nova, mas não acredito que seja utilizada com frequência.
Já para quem faz uso esportivo do espaço, a van simplesmente acaba com o treinamento. O ciclista precisa parar sua atividade física para realizar o embarque, traslado e desembarque, quebrando seu ritmo, entrando em estado de repouso e perdendo o aquecimento. O treino precisa ser recomeçado e deixa de ter a duração anterior, o que compromete totalmente o exercício que deseja realizar e que, muitas vezes, faz parte de uma planilha de treino.
Para essas pessoas, a única opção é voltar.
Travessias
Se o problema fosse só a van, a reclamação não seria tanta. Afinal, a situação é temporária. E sabemos que não vai durar para sempre, porque quando a obra começar de fato (por enquanto só está sendo feito um reforço de pavimento), será impraticável passar com ela pela local. Portanto, há interesse dos responsáveis pelos trabalhos de que a alternativa da margem oposta esteja pronta a a tempo.
A segunda reclamação de quem treina na ciclovia é em relação à solução que será adotada nos pontos de travessia – e a essa, certamente todos os ciclistas engrossarão o coro. A proposta é de que seja construída uma escada com canaletas nas laterais, o que foi criticado durante as reuniões, mas acabou sendo a opção escolhida pelos engenheiros, alegando uma questão de segurança. Provavelmente, sua preocupação é que ciclistas pedalando na rampa caiam de cima dela ou causem acidentes entre si.
Ora, um ciclista empurrando uma bicicleta em uma escada é que é antinatural e mais propenso a acidentes. Escorregar em um degrau pode significar uma fratura. Muitas pessoas não têm forças nos braços para empurrar a bicicleta (muitas vezes com o bagageiro carregado) escadaria acima, ou têm problemas de coluna ou de outra ordem que as impedem de fazê-lo. A essas pessoas, esse acesso será um sacrifício, em muitos casos uma barreira.
E o impacto nos treinamentos é quase o mesmo das vans, já que é necessário parar, desmontar, empurrar, descer com cuidado – e muitas vezes com uma sapatilha que escorrega bastante para andar, aumentando muito o risco de queda e acidente grave.
A solução para cruzar o rio empurrando a bicicleta em uma escada é bastante insatisfatória, por mais que a escada seja bem planejada e tenha degraus mais baixos ou mais espaçados. Esperamos que esse ponto seja revisto a tempo, pois certamente as críticas virão.