Pomar dos Ciclistas: Conheça a iniciativa que está transformando a cidade de Florianópolis-SC
Uma ciclovia distante dos carros e perto do mar; um verdadeiro sonho. No centro da cidade de Florianópolis-SC, os ciclistas que pedalam ao longo dos 4,5 quilômetros de estrutura segregada, que serpenteia a Baía Sul e a Rod. Gov. Aderbal Ramos da Silva, agora têm ponto certo de parada. O pontinho verde se destaca na imensidão do mapa. O Pomar dos Ciclistas por hora é o único quadrado vivo na enseada da ilha da magia.

Pomar dos Ciclistas – O Quadrado/ © Reprodução
O Bike é Legal conversou com os ciclistas que estão tocando a iniciativa para entender melhor essa história. “Pensamos num parque para as bicicletas, já que nos principais parques da cidade a bicicleta nem sequer pode entrar. E já colhemos a certeza que este é o caminho”, escrevem os ciclistas no texto de respostas feito de forma coletiva. O espaço é um dos quadrados de mais ou menos 100 m2 que cortam o aterro da Baía Sul da capital catarinense.

Mãos na terra/ © Reprodução
Há um ano, o espaço não era como se vê hoje – com plantações frutíferas, estrutura de captação de água da chuva e até circuitos de Mountain Bike e corrida -, seguia o padrão dos demais quadrados, onde o capim cresce e esconde uma população local que resiste ao desastre ambiental de uma cidade que cresce, por vezes se esquecendo das pessoas. “Hoje, de segunda a segunda, sempre tem pessoas parando, plantando, colhendo, descansando, andando a pé ou de bike pelo Quadrado”, alegram-se os ciclistas.

Caixa d’água instalada pelos ciclistas/ © Reprodução
Engana-se quem pensa, que por ser uma ilha, chegar às praias em Florianópolis é tarefa fácil. A cidade é cortada por rodovias e avenidas; o carro impera entre o transporte público e ativo. Um lugar como o Quadrado, no centro da cidade, vira palco de histórias bonitas de quem está se reconectando com o espaço público. “Temos relatos de pais que compraram bicicletas pros seus filhos, que antes viviam na internet. Ali eles andam de bicicleta por ter obstáculos mais radicais. Tem o caso do pai que corre todos os dias com sua filha de sete anos no Quadrado, enquanto ela anda de bici. Ou ainda o filho de 14 anos que ensinou o pai a andar de bicicleta no Quadrado – se eu cair não me machuco, por causa do capim”.
De forma orgânica e espontânea, o Quadrado foi aos poucos envolvendo pessoas da comunidade e ciclistas da cidade. Além de um espaço de descanso e convivência do dia a dia, o Pomar dos Ciclistas recebe pequenos eventos e mutirões para mobilizar novos frequentadores. E vem coisa muito boa por ai.

Pai e filhos/ © Reprodução
No Dia Mundial sem Carro, 22 de setembro, vai rolar o ‘Curta O Quadrado’, um festival independente de exibição de curtas metragens que falem sobre bike, mobilidade e urbanidades em geral. As inscrições dos vídeos podem ser feitas até o dia sete do mesmo mês. Confira aqui o evento!
Algumas das ciclistas que hoje articulam o Pomar dos Ciclistas, já estiveram à frente de outros projetos que instigam a apropriação da cidade pelos cidadãos. Sinalização Cidadã, AsPedaleirax, 100Gurias100Medo são algumas dessas iniciativas. Mas o Quadrado quer ir além. “O papel da Prefeitura é crucial para darmos o segundo passo. Já apresentamos nossa ação no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis e para o prefeito. Estamos aguardando respostas”, explicam os ciclistas.
A ação pretendida é que o Quadrado seja transformado em área pública. A Prefeitura de Florianópolis tem uma lei que prevê espaços públicos serem adotados por pessoas jurídicas. “O que queremos é a cessão parcial ou total da área. Almejamos que os outros quadrados esvaziados por esse imenso desastre ambiental sejam também adotados com projetos contemporâneos. Nosso ideal é que todo aterro seja transformado no Parque Baía Sul como outros no Brasil; Aterro do Flamengo(RJ), Parque Farroupilha (RS), Parque Ibirapuera (SP) são alguns exemplos”.

Circuito de MTB/ © Reprodução
Os ciclistas que mantêm vivo o Quadrado querem que ali existam estruturas que promovam diferentes vertentes da cultura da bicicleta e agricultura urbana. “Além do nosso circuito com equipamentos inclusivos, que podem ser usados por todas as idades, pelo bikeanjo, por escolas de MTB, tem várias modalidades que não tem ainda espaço: Pump Track, quadra de Bike Polo, quadra de Hokey, pista de patinação, pista de MTB para crianças e iniciantes, todos estão sendo pensados”. E ai a ajuda da prefeitura se torna ainda mais crucial, seja colocando a mão na massa, ou ao menos autorizando as intervenções para que um ‘crowdfunding’ seja organizado e possa tirar os projetos e sonhos do papel.
“A prefeitura é parceira fundamental para execução desse projeto. Máquinas, operadores, matéria prima; esse suporte viabiliza a ideia e é totalmente viável para Prefeitura. Um parque com essa pegada inédita no Brasil, no centro da cidade, em uma área ampla e com esse potencial é um ganho para todos. É até um absurdo que não exista nada nesse local”, concluem.
Para fechar, os ciclistas deixam o recado: “Como cidadãos sentimos que muitas vezes os espaços públicos são revitalizados e não são ocupados. Pensamos o Quadrado ao contrário. Convidamos as pessoas a ocuparem e isso fará com que um espaço que é visto negativamente pelas pessoas possa ser resinificado. Mas por nós mesmos, por nossas necessidades atuais, e não um parquinho com brinquedinhos ou mobiliários caríssimos que não representam as pessoas. E o mais importante é que as pessoas percebam o potencial e a vocação de suas cidades e se esse potencial está sendo explorado sustentavelmente ou não. Se pararmos pra pensar a fórmula pagar para administrar não está dando certo. Temos que resolver o que está ao nosso redor, na nossa casa, na nossa rua, no nosso bairro e na nossa cidade. Urge que façamos algo para nos libertarmos dessa prisão que viraram as cidades”.