Participe da pesquisa que incentiva o cicloturismo nacional e estuda perfis de viajantes
A cifras são milionárias e os trajetos muitos. Entenda como o Brasil perde ao não investir no cicloturismo nacional e como iniciativas buscam criar rede de dados para melhorar as políticas de incentivo ao setor.
O que é preciso para viajar de bicicleta? De dentro das mochilas e alforges as barracas e hotéis, o perfil do ciclista viajante é múltiplo. E entende-lo é um passo importante para promover o cicloturismo no Brasil.
Nesse sentido, o Núcleo de Planejamento Estratégico de Transporte e Turismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o Clube do Cicloturismo do Brasil e a Organização Bike Anjo estão promovendo a pesquisa O Cicloturista Brasileiro 2018. A iniciativa também visa dialogar com ações e pesquisas em andamento da Transporte Ativo e da União de Ciclistas do Brasil.

Cicloturismo na Região do Lagos-RJ
Este ano, a primeira edição do levantamento completa dez anos. Em 2008, a pesquisa revelou gráficos interessantes, mas que já não refletem o cenário atual, que cresce mesmo com a ausência de estudos voltados para o setor.
Recentemente lançada pela Aliança Bike em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável – LABMOB, a extensa pesquisa A Economia da Bicicleta no Brasil não conseguiu reunir dados relevantes sobre o cicloturismo brasileiro, apesar de traçar um panorama nacional a parir da concepção de cinco dimensões analíticas: Cadeia Produtiva, Políticas Públicas, Transporte, Atividades Afins e Benefícios.
O Bike é Legal conversou com os pesquisadores Juliana DeCastro e Luiz Saldanha para entender a importância de um estudo como esse em âmbito nacional. Ambos fazem parte do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ.
Bacharel em Turismo pela UNIRIO, Luiz faz parte da organização do II Encontro Desenvolvimento do Cicloturismo, que em novembro desse ano espera ter resultados da pesquisa para discutir o planejamento do cicloturismo no Brasil com representantes do Poder Público, sociedade civil e iniciativas privadas e da academia. A primeira edição do evento resultou em um E-book livre, que faz uma análise dos contextos municipais do país para o desenvolvimento e incentivo da prática, é o Cicloturismo Urbano.
“Qualquer atividade que você faça com a bicicleta por recreação é um cicloturismo”, comenta Saldanha. Luiz explica que convergir as politicas regionais de incentivo ao uso da bicicleta é um dos fatores crucias para o fortalecimento do cicloturismo no Brasil.
Bióloga com especialização em gestão e planejamento ambiental, Juliana DeCastro falou sobre a importância do diálogo com unidades de reservas ecológicas do país para ser possível apropriar-se de toda a infraestrutura do Brasil, valorizando também as comunidades de cada região. “Nosso turismo muitas vezes para na praia com Sol, mas nossa cultura é muito rica e deve ser valorizada e vivenciada”, completa Juliana.
Em relação a alguns dados da primeira pesquisa do perfil do cicloturista brasileiro, pedimos para os acadêmicos fazerem suas considerações. Acompanhe abaixo:

© Reprodução

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Quanto melhor estruturado estiver o trajeto, melhor será a experiência para todos os tipos de viajantes, sobretudo para os que fazem isso de forma autônoma. Desde os resultados da pesquisa, a oferta de empresas especializadas no setor aumentou e a tendência é gerar ainda mais empregos a partir da demanda natural que o investimento no setor traz.

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Durante uma pausa numa viagem de bicicleta, 40% dos cicloturistas utilizam ônibus para carregar a bicicleta. Sendo o Brasil um país de escassos investimentos na malha ferroviária, caso contrário ao da Europa, que pode pensar seus roteiros a partir de uma mapa de trens. A intermodalidade com ônibus em nosso país é a opção mais barata, mas ela ainda precisa avançar, pois o Brasil não possui regras claras sobre esse assunto, permitindo que cada viação tenha suas próprias condutas com base apenas nas dimensões e peso permitidos em lei. O PL 6824/2010 tentou regulamentar o transporte de bicicletas em ônibus no Brasil, mas dois anos depois foi arquivado.

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Apesar de uma porcentagem duas vezes maior ao número médio de mulheres que se deslocam de bicicleta pelas capitais brasileiras, o índice de 15% das cicloviagens feitas por pessoas do sexo feminino ainda é muito baixo. Para os pesquisadores, esse é outro dado que muito provavelmente mostrará um cenário diferente nessa nova versão da pesquisa. Para Juliana DeCastro, o movimento de empoderamento feminino através da bicicleta se estende as viagens feitas com a mesma. E mesmo sem o novos resultados, essa realidade já e vista com o crescente número de mulheres relatando suas experiências de viagens em bicicletas em diferentes meios de comunicação.
O foco principal da pesquisa é gerar um panorama atual de como está o cicloturismo no Brasil, reunindo dados que possam ter sido gerados – e pouco divulgados – ao longo desses dez anos. Por isso fica aqui o convite ao diálogo com aqueles que de alguma maneiro se dedicaram a estudos nesse sentido. “É a partir dessas informações que podemos avançar no diálogo com o poder público, afim de usufruir mais e melhor dos nossos potenciais de cicloturismo nacional”, explica a pesquisadora. Juliana destaque três perguntas que devem nortear as políticas públicas e privadas que almejam aquecer o setor, são elas: quais as referências que nós temos; como está o cenário agora; e onde queremos chegar?
Pensando nas referências nacionais, a bióloga destaca o crescente número de famílias fazendo o Vale Europeu no Sul do país, o que vem mostrando o quanto o perfil dessas viagens se adapta a partir dos viajantes. “Essas famílias precisam de mais estrutura e elas não querem apenas pedalar. Querem aproveitar a gastronomia local, a cultura local e etc. O caminho interessa”, completa Juliana DeCastro.

Um pedal pelo Vale Europeu de Santa Catarina / © Valdemir Cunha
Luiz Saldanha lembra o caso alemão onde o cicloturismo doméstico é o mais relevante. “As famílias cruzam o país de bicicleta em suas férias e o país se estruturou tendo isso em vista”, explica o pesquisador. É preciso que as cidades e estados brasileiros coloquem isso em pauta, que haja um planejamento conjunto para desenvolver a mobilidade em bicicleta no país. Estamos falando de muitos milhões que o setor é capaz de movimentar. O número apresentado no Velo City de Nantes, na França, foi de 44 bilhões de euros por ano movimentados na Europa em decorrências dos empregos e serviços gerados pelo cicloturismo.
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