Cadê as brasileiras? Seleção de BMX Freestyle vai ao Japão sem nenhuma representante feminina
Diogo Canina escolhe não levar representante feminina em primeiro evento internacional de BMX Freestyle valendo pontos no ranking da UCI.
No ano passado foi anunciada a entrada do BMX Freestyle nos Jogos Olímpicos; uma nova fase para os atletas da modalidade se inicia e a possibilidade de uma maior profissionalização no esporte é apenas um dos horizontes que se desnublam quando olhamos para os próximos anos.

Da esquerda para a direita, os atletas Leandro Overall, Cauan Madona e Andre de Souza. De camiseta branca, o técnico Diogo Canina/ © Divulgação
Predominantemente masculino, a proporção de homens praticantes do BMX é bastante superior ao número de mulheres que sobem em cima das bikinhas aro 20, mas elas existem e estão aí para mostrar que BMX também é coisa de menina. Há alguns anos, a cena feminina na modalidade vem se tornando cada vez mais expressiva, sobre tudo em países como EUA e Rússia, e esse cenário de evolução está diretamente ligada a credibilidade dada ao rolê dessas mulheres. O incentivo público nas atletas femininas e o apoio privado de marcas e lojistas é crucial para possibilitar que elas também tenham uma carreira consolidada no esporte.
A representatividade de ter uma mulher competindo pelo seu país em uma competição mundial é muito mais ampla do que podemos imaginar; influencia gerações que ainda estão escolhendo a bicicleta que querem de Natal. O BMX Freestyle brasileiro ainda tem muito para evoluir e competir de igual para igual com atletas de nações que investem no esporte para além do futebol, sejam esses atleta mulheres ou homens. O atleta brasileiro melhor colocado na classificatória do Fise em Hiroshima foi Andre de Souza, que ficou na 21o colocação na classificação geral.

Representantes femininas de diferentes nacionalidades presentes no Fise, em Hiroshima. Veja o perfil de cada uma no @ridebmxlikeagirl
Com o anúncio da entrada da modalidade nas Olimpíadas, a comunidade do BMX vem tentando se organizar para construir um ambiente democrático com decisões que se referem desde a escolha dos atletas que irão vestir a camisa da seleção, até a maneira como as verbas públicas devem ser investidas no esporte. Nesse sentido, em março de 2018, uma reunião foi realizada em um espaço cedido pela Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo e alguns acordos foram estabelecidos com os representantes do esporte junto à Confederação Brasileira de Ciclismo. Um deles era o investimento igualitário nas categorias femininas e masculinas, promovendo a representatividade no esporte e construindo um cenário democrático e de acordo com os preceitos do século XXI.
Procurado pela reportagem, o Técnico e Coordenador da modalidade junto à CBC, Diogo Canina justificou sua escolha com base no desempenho da atleta Eduarda Penso na UCI BMX Freestyle World Championship, que aconteceu na China em novembro de 2017. “A Eduarda Penso é nossa melhor atleta feminina para representar o Brasil e por isso não estamos trabalhando com uma representante feminina na categoria elite, estamos trabalhando diretamente com a Duda, pois esse é o último ano dela como júnior e já está classificada para os Jogos da Juventude em Buenos Aires, em outubro. Em 2019, ela passa a ser Elite e eu, nesse momento, acredito mais em um investimento no seu treinamento antes de colocá-la para competir em um evento com um nível que ela não está preparada tecnicamente e psicologicamente”, comentou Canina.

Eduarda Penso na cerimônia de premiação do Prêmio Brasil Olímpico/ © Reprodução @dudapenso
Na ocasião, Eduarda Penso conquistou o 4º lugar na categoria juvenil e 15º entre a Elite, o que lhe rendeu premiação no Prêmio Brasil Olímpico em março deste ano. Duda é natural de Francisco Beltrão, cidade no interior do Paraná, e como muitos praticantes da modalidade sofre com a falta de estrutura para treinar seu esporte e evoluir sua técnica. Segundo Diogo Canina, seu nome está cotado para um projeto junto à CBC para proporcionar a ela, e aos outros atletas, um calendário de provas e de treinos que inclui viagens internacionais à centros de esportes de elite.
Procurada pela reportagem, Eduarda Penso preferiu não comentar a respeito.
A reportagem procurou Flavia Santos, que segundo Diogo Canina é a conselheira junto à CBC no que tange assuntos da categoria feminina. Para Flavia: “a ausência de uma brasileira não ajudou o Brasil em uma possível classificação para as Olimpíadas.”
“Eu também cheguei a conversar com a atleta Debora Oliveira sobre a possibilidade dela integrar o time brasileiro no Fise em Hiroshima, mas ela não poderia devido a sua agenda no trabalho”, completou Flavia.

Flavia Santos também é atleta da modalidade/ © Reprodução @flaviabmx
Debinha, como é conhecida no meio do esporte, comentou que a notícia surpreendeu a ela e aos seus familiares, que sempre reclamam da sua rotina de treinos: “Eu sempre andei por hobby, por amar andar de bike, mas quando recebi a proposta senti o gosto bom de poder representar meu país e todos da minha família me apoiaram. Infelizmente, minha colega estaria de licença na mesma data e não teria como eu ir”, explicou a atleta.
Presente na reunião de acordos ocorrida em março desse ano, Debora falou à reportagem que, para além do convite, efetivamente não tem estado por dentro das decisões da seleção brasileira de BMX Freestyle, criticando a falta de informações oficiais quanto aos rumos do esporte agora nas Olimpíadas e de ações que envolvam diretamente os praticantes do BMX Freestyle como um todo, como a construção de pistas e a promoção de eventos nacionais. “Eu fiquei surpresa de não ver nenhuma mulher quando começaram a postar a foto da seleção embarcando para Hiroshima. Me perguntei o porquê de não haver nenhuma mulher se era isso o esperado.”, completou Debinha.

Debora Oliveira mandando um ex-up / © Reprodução @debinha_deby
Para Natália Margini, atleta na categoria elite com registro na Confederação Brasileira de Ciclismo, representar o Brasil em um evento internacional é um sonho. “Venho me preparando e buscando patrocínio para treinar aqui e fora do brasil, pois sei que para andar o Fise requer muito dos nossos treinos e sem patrocínio da iniciativa privada e governamental fica mais complicado a ida para Woodward que é um centro de treinamento que atende atletas de BMX nos EUA”, comentou a atleta de 27 anos.

Natália Margini é natural de Pato Branco no Paraná /© Reprodução @nataliamargini
Quanto a importância de uma mulher ter integrado a seleção que agora está em Hiroshima, Natália disse: “A presença feminina pode ser um grande incentivo. E essa presença pode se dar de diferentes formas. O incentivo pode vir, primeiramente do cenário do próprio BMX nacional, como força para o esporte, com mulheres representadas em lojas, distribuidoras e marcas nacionais. A partir dessa visão modificada, de que esse esporte não é somente masculino, por parte dos próprios fabricantes, será o início de uma grande revolução no meio e após isso poderemos conquistar muito espaço entre patrocinadores e nos próprios campeonatos nacionais e internacionais”.
O Bike é Legal deixa aqui uma lista com os perfis de mulheres que estão movimentando a cena do BMX no Brasil e o porquê elas andam de bike. Deixe nos comentários as bmxers que estão faltando nessa lista!

@crokinha_bmx mandando one no hander/ © Reprodução

@beatriz_bmxx no Pump Track do Drac/ © Reprosução

@gabicristinabmx em uma tentativa de no hander/ © Reprodução

@yasmim_bmx mandando um aéreo/ © Reprodução

@veve.bmx mandando um no hander fly out / © Reprodução

@ruthjorge_ fazendo um carving/ © Reprodução

@sennylemos / © Reprodução

@mikeilapelayes mandando um tobogã fly out/ © Reprodução

@jacquezagobmx em um foot jam/ © Reprodução

@maynayanne fluindo/ © Reprodução

@derlaynebmx mandando um table top/ © Reprodução
29 anos
Brasilia
O que me motiva é poder sempre evoluir como atleta e como pessoa. Existe um paralelo viciante entre minha vivência no BMX e minha “vida normal”; tiro muitas lições de persistência, superação e conquista.”