A cegueira brasileira frente ao potencial econômico do cicloturismo
Tradicional Descida à Santos é impedida pela PM com bombas. Evento que aconteceu nesse domingo (10), reuniu mais de três mil ciclistas, mas acabou em confusão com pessoas passando mal debaixo do Sol de 34ºC.
Nesse domingo (10), estima-se que mais de três mil ciclistas se reuniram em São Paulo para descer a Serra do Mar na tradicional Descida à Santo. Como de costume, a Ecovias ao saber da programação pelo Facebook conseguiu uma liminar proibindo o evento pois “o passeio ameaçaria a circulação de veículos no sistema Anchieta/Imigrantes”.
Mas, essa velha discussão teve um desfecho ainda mais catastrófico esse ano, quando a Polícia Militar impediu os ciclistas de descenderem a serra por qualquer caminho atirando bombas de gás lacrimogênio e obrigando os ciclistas a permanecerem em um cordão de contenção já no quilômetro 40 sentido Santos.
A descida acontece anualmente como uma forma de garantir e reivindicar o direito de ir e vir com o veículo bicicleta, além de homenagear a ciclistas Márcia Prado, morta por um motorista de ônibus na Avenida Paulista no ano de 2009. A Estrada de Manutenção da Serra do Mar leva o nome de Márcia e é por lá que muitas descidas ciclísticas convencionalmente acontecem.
A Rota Márcia Prado é o principal trecho cicloturistico do Estado de São Paulo, um sonho para muitos ciclistas que querem aproveitar a Baixada Santista de bicicleta. Um deslocamento de grande potencial turístico, sobretudo para quem vai em duas rodas.
Mas, como em quase todo o país, esse mercado é ignorada. As autoridades preferem proibir do que possibilitar que essa economia cicloturistica evolua e gere renda para muitas famílias. Só na União Européia, o cicloturismo gira cerca de 44 bilhões de euros ao ano. Uma cifra impressionante que parece ser ignorada pelo Estado Brasileiro em pleno 2017.
Na ordem judicial que impedia a realização da Tradicional Descida à Santos 2017, o juiz Celso Lourenço Morgado, da Vara de São Bernardo do Campo, diz que “não se discute, aqui, o direito de ir e vir, nem a liberdade de reunião. O que se questiona é o exercício destes direitos de forma regular e adequada, em lugar apropriado, sem que haja sobreposição a direitos alheios também reconhecidos, no caso, a locomoção”.
Impedir os ciclistas de descerem para praia com suas bicicletas é sim uma afronta ao direito constitucional de ir e vir de todo cidadão e por esse motive a Ecovias precisa garantir que as descidas de bike possam ser feita de forma segura. Não cabe uma proibição como forma de resolução de problema. Mas é isso que vemos acontecer ano após ano.
Ao invés de dar suporte e incentivar mais de três mil pessoas a chegarem na praia consumindo nos comércios locais, sem nem mesmo poluir a atmosfera, o Governo do Estado de São Paulo preferiu impedir não só os ciclistas de descerem a Serra do Mar, bem como os próprios motoristas que ficaram parados frente a confusão.
Com o intuito de pressionar o Poder Público sobre o direito dos ciclistas de se locomoverem de bicicleta nas ruas e rodovias brasileiras – sem serem mortos ou atacados -, uma Bicicletada está marcada para esse sábado (16), com concentração na Praça do Ciclistas a partir das 16h. Confirme sua presença e participe das discussões pelo evento!