O Gran Fondo é uma prova que teve sua origem na Itália em 1971 e rapidamente se popularizou.  Hoje conta com edições da prova em diferentes cidades; o GFNY ou Gran Fondo New York foi fundado em 2011, e o sucesso instantâneo do evento concretizou o GFNY World Series em diversos países do mundo. O Brasil recebeu sua primeira edição em agosto desse ano e em novembro, foi a vez do Chile.

“Seja um pro por um dia”/ © Divulgação

As divisões das etapas são uma forma de nós ciclistas amadores nos sentirmos dentro de uma grande prova de ciclismo, com toda a organização e desafio das mesmas; com a possibilidade de escolhermos o percurso de 160km ou 80Km, amparados pelo slogan “Be a Pro for a Day” (Seja um Pro por um dia).

O Chile por si só já é um convite de visita; uma faixa estreita na costa oposta à brasileira, encravada entre a cordilheira e o pacífico. Um país capaz de proporcionar paisagens como as do Deserto do Atacama, o mais seco do mundo, mas também com o clima alpino, propenso a neve mais ao sul.

No meu imaginário, só pensava nas grandes vinícolas forradas de uvas e em tomar muito vinho em copo de coca cola. E é claro, também completar os 160 km da prova, um desafio bem considerável.

Veramonte-Chile/© sportograf.com

O transporte da bicicleta nas viagens é uma das principais dúvidas para nos organizarmos. Aconselho comprar ou alugar um mala bike, levar a bicicleta até um mecânico de confiança para que ele te ensine a montar e desmontar, sempre com uma atenção especial na força para apertar mesa e canote – um torquimetro é bastante indicado – ou mesmo levar a bicicleta para ser montada na exposição que acontece um dia antes de provas como o GFNY. Eu prefiro montar, testar e, se necessário, levar para algum ajuste.

Outro fator muito importante é telefonar para a cia aérea e confirmar o procedimento exigido. Grave a ligação, guarde as trocas de e-mails. É costume cobrarem um valor para o transporte, pois pelas dimensões vai como carga especial – a Latam cobra cinquenta dólares, mas esses valores variam entre as empresas.

Arrumando as malas é impossível deixar de pensar no filme “Alive”, que conta a história de um time de rugby que sofre um acidente e fica preso na cordilheira. Foi difícil explicar no raio x o porque de eu ter nove latas de atum, cobertor de pluma de ganso, sinalizadores, três compartimentos de água e pneus com cravo na bagagem de mão – nunca se sabe, vai que a bicicleta fica inteira também.

Santiago do Chile é uma cidade muito bacana, oferece a possibilidades de treino no Cerro San Cristobal até Farellones ou, esticando um pouco mais, dá para ir até o Valle Nevado. Eu resolvi guardar as pernas e as energias para o dia da prova.

No dia anterior aconteceu a entrega dos kits no Hotel Plaza Del Bosque com degustação de vinhos. Era possível fazer alguns ajustes na bicicleta e disputar na lojinha os itens da marca. O ar fica carregado com a expectativa da chegada da prova, os ciclistas se encontram e conversam, sem deixar de fazerem suas fotos juntos ao grande mapa do percurso.

Veramonte-Chile/© sportograf.com

A largada seria em Casablanca – distante 70km de Santiago , saindo de dentro da Viña Veramonte. Entre os vinhedos da região, a temperatura estava na casa dos 10 graus e era possível identificar claramente a nacionalidade dos participantes. Os argentinos e chilenos de manga curta e sorrindo, enquanto os brasileiros estavam de casaco, gorro, tremiam e mal conseguiam falar – eu era um desses.

Contagem regressiva e partimos. O primeiro quilômetro foi estilo mountain bike, na terra até encontrarmos o asfalto e os pelotões se formarem. Uma das características mais legais do GFNY é que a obrigatoriedade do uso da camisa, o que faz a estrada virar um grande tapete verde, formando um colorido especial com o céu azul e as bicicletas em movimentos.

O trajeto é boa parte plano, mas com algumas subidas e uma parede que muitos ciclistas simplesmente perdiam a força e caíam para o lado – encontrei meu companheiro de treinos um pouco antes dessa subida e seguimos no mesmo ritmo até cruzarmos a linha de chegada juntos.

Uma prova fora do país sempre fica na memória, seja pelas paisagens, por estarmos nos misturando com diversas nacionalidades ou por todo planejamento e novidades que só uma viagem nos oferece.

O GFNY World Series irá visitar, entre outros lugares, Bali, Monterrey, Colombia, Costa Rica e Nova York, onde acontece o evento principal. Vontade de estar na linha de largada e aumentar a coleção de medalhas não falta.

Be a Pro For a Day.