Quando a estrada te chamar, vá de bicicleta!
"Acordei cedo, um frio de tremer o nariz, subi na bicicleta e parti, durante os primeiros 13 quilômetros só subi, e as palavras que a volta seria pior não saíam da minha cabeça..."
Quarta-feira fria em São Paulo, olho pela janela e tudo era cinza, em frente ao computador começo a ouvir o chamado das montanhas, enormes, verdes e cheias de paz. Um convite irresistível.
A cidade de Cunha me vem à cabeça, me informo da distância, 230 quilômetros da capital, a previsão do tempo é de melhora no dia seguinte, consulto uma pousada, arrumo minhas malas, bicicleta no carro e vou embora.
A cidade é rodeada pelas montanhas da Serra do Mar e da Bocaína, está entre as cidades com maior área do Estado de São Paulo, tem 22 mil habitantes, e é considerada estância climática.
Economicamente, já teve sua fase dos vinhos de mesa, que está sendo resgatada, mas hoje quem manda é o pinhão, fazendo da cidade a maior produtora dessa delícia que forma um par perfeito com a lareira em noites frias.
Outra força é a cerâmica, por toda cidade vemos charmosos ateliês espalhados, existe a Casa do Artesão, e é possível acompanhar a queima da cerâmica Raku e a abertura do forno, principalmente aos finais de semana.
Chegando a Cunha, parei sem pretensão no Stella Café Especiais, e fiquei surpreso com o que vi, um trabalho cuidadoso de valorização e incentivo ao trabalho do pequeno produtor, revigorado com a bebida que tomei de procedência do Espírito Santo, segui até a pousada Recanto das Girafas, onde o proprietário Renatão me contou as coisas e os “causos” da cidade.
O centro é como tantos outros de cidades pequenas, uma grande igreja e o comércio principal em volta, em Cunha tudo isso fica lá no alto da montanha e a igreja estava decorada para a Festa do Divino, uma celebração religiosa tradicional na região.
Cunha faz parte da Estrada Real, 1600 quilômetros de história, caminho trilhado pelos colonizadores durante a descoberta do ouro em Minas Gerais e foi o principal eixo de urbanização do centro sul brasileiro.
É uma das principais e mais belas ciclorotas do Brasil, tendo diversas ramificações, não bastasse isso, ainda foi escolhida como sede do L’Etape Brasil, prova de ciclismo de estrada, desejada por qualquer ciclista, e foi esse trajeto que escolhi fazer.
O trajeto é dividido em duas pernas, saindo de Cunha e indo até a divisa do Rio de Janeiro e voltando para seguir a Campos de Cunha e finalizar ao pé da igreja. Segundo as informações na pousada, o começo era só descida, a volta terrível; a parte de Campos Novos só morros.
Acordei cedo, um frio de tremer o nariz, subi na bicicleta e parti, durante os primeiros 13 quilômetros só subi, e as palavras que a volta seria pior não saíam da minha cabeça, até que a razão me voltou e conclui que se eu só estava subindo, a volta seria descida caramba.
A beleza do caminho é impressionante, passei pelo mar de montanhas, o famoso Lavandário, o Contemplário, a fábrica de cerveja Wolkenburg, que se não fosse 9 da manhã eu com certeza pararia, a subida da Pedra da Macela e finalmente chegar a placa de divisa com o Rio de Janeiro, onde termina o asfalto e começam os bloquetes até Paraty.
No caminho de volta, o sol abriu, o vento me empurrou nas descidas de volta à cidade, lógico que antes me apresentou outra boa subida, mas nada comparado com a ida. A ideia era fazer o trajeto completo, mas resolvi que metade estava de bom tamanho e que voltaria um dia para completar.
Com certeza a cidade de Cunha pede uma visita sem pressa, para poder curtir tudo que ela tem para oferecer, arrumei minhas coisas e voltei muito mais verde para a cidade, agora é aguardar um novo chamado.