Galeria de fotos: 6.000 Km pedalados e o ‘planeta de sal’
Entrar pedalando no maior e mais alto deserto de sal do mundo me gerou uma série de emoções, muito porque não foi fácil chegar lá.
Quase 6000km depois em seis meses de viagem, atravessei o Salar de Uyuni na Bolívia. Essa foi uma das experiências mais impressionantes de toda a expedição. A sensação era de estar em outra planeta. Pausa para descanso e as pedaladas voltarão nos próximos dias rumo a Sucre.
Deixo aqui meu texto sobre essa chegada:
Parecia que eu havia chegado ao Alasca ou talvez à lua. A sensação era bem essa mesmo: estou em outro planeta. Entrar pedalando no maior e mais alto deserto de sal do mundo me gerou uma série de emoções, muito porque não foi fácil chegar lá.
Depois da fronteira a estrada desapareceu e só foi possível me orientar pelo GPS, que me colocava em rotas sem marcação. Me perdi. Foi preciso empurrar a bicicleta por horas em alguns trechos de areia fofa.
Me cansei e resolvi tentar um atalho em um caminho que parecia mais firme. Que inocência! Não há atalhos quando as coisas estão difíceis! Há que encarar!
Eu não me sentia bem. Foi a primeira vez que tive algum problema de respiração com a altitude. Depois de me arrepender de sair da rota original, vi que havia um pueblo ali perto: Julaca. Fui pra lá. Quando cheguei meu arrependimento foi embora com o que encontrei.
Uma linha de trem e meia dúzia de casas em cada lado. Uma escola e uma vendinha. Era isso! Mais uma vez fui procurar um lugar para acampar protegido do vento e outra vez fui surpreendido pelo ser humano.
Eu estava num lugar simples e pobre. Perguntei para uma senhora se ela conhecia alguém na escola, pois eu queria passar a noite lá dentro. E ela me disse:
“pase no más”
Era pra eu passar pra dentro da casa dela. Disse que eu poderia dormir lá pois o frio era forte a noite.
Foi como ganhar oxigênio para enfrentar a altura. Foi como receber uma carta de boas vindas da Bolívia. Conversamos bastante. Eu é que parecia de outro mundo pra eles. Brinquei com as crianças até acabar as forças, tomei um café com leite e comi um pão junto com a família. Dormi muito bem num colchão na sala com meia dúzia de cobertores e fui acordado pelas crianças que queriam brincar mais pela manhã.
Maria Luz é a dona da vendinha da cidade. Comprei umas coisas lá. Outras ela quis me dar de presente. Me deu inclusive duas cervejas artesanais feitas de quinoa, as quais eu abri para celebrar quando chegue ao Salar.
Tive um dia lindo com eles. Provei da generosidade de quem tem pouco. Ganhei abraços e sorrisos sinceros de pessoas de uma cultura bem diferente, com quase nenhum acesso à tecnologia e à informação. Gente que vive simples mas mais importante que isso, preservada em suas origens indígenas.
Chegar ao Salar foi realmente como entrar em outro planeta, mas talvez só tenha sido tão especial porque fui empurrado por seres bem humanos.