Diário das Magrelas: a primeira aula de mecânica a gente nunca esquece
A Oficina Mão na Roda é um espaço comunitário de manutenção de bicicleta. Ferramentas ficam à disposição dos ciclistas e voluntários dão uma mãozinha para quem ainda não sabe muito como mexer na magrela.
Depois de longos meses, volto a escrever sobre as minhas aventuras com a Clarinha, minha híbrida de 24 marchas. Demorei para escrever um novo texto na coluna Diária das Magrelas porque depois de um certo tempo pedalando, muita coisa já se torna rotineira, e os novos detalhes são tão pessoais que não valem um texto.

Oficina Mão na Roda/ © Arquivo Bike é Legal
Mas, o acontecimento dessa terça-feira (28) com certeza vale. Quase dois anos e meio após meu primeiro trajeto para o trabalho, enfim fui à Oficina Mão na Roda aprender um pouco sobre mecânica. Afinal de contas, estava me achando um pouco contraditória ao falar de empoderamento feminino através da bike não sabendo regular nenhum um freio.
E olhe só, em menos de três horas de oficina, eu aprendi a regular os freios e marchas, limpei todas as minhas coroas e corrente e ainda subi alguns bons centímetros a altura do selim. Meus joelhos agradecem! E o aprendizado não parou só nos ajustes mecânicos; estar em uma oficina comunitária te faz apreender muita coisa, e aprender outras tantas.
Eu e minha querida amiga fomos para lá meio de supetão, fazia tempo que estávamos ensaiando essa experiência. No fim de tarde no Parque do Ibirapuera, decidimos que no meio do caminho desviaríamos para o Centro Cultural São Paulo, onde acontece a Oficina Mão na Roda toda terça-feira, a partir das 19h. Vale a dica de chegar quando abrem as portas mesmo, porque tem muita gente que tem o lugar como oficina semanal.

Nossa primeira aula de mecânica de bicicleta/ © Giuliana Pompeu
Não seria para menos, estamos falando de um espaço com ferramentas, cabos e produtos à disposição. É tudo comunitário, e o máximo de dinheiro que você vai tirar do bolso é uns dez reais em cabos e afins caso queira usar o que eles compram para termos a mão, e cobram apenas o preço de compra. Mas veja bem, se estamos falando de uma oficina comunitária, e logo de ajudas comunitárias, nada mais justo do que você deixar uma singela contribuição para que o espaço esteja sempre como vi ontem: em perfeitas condições para atender todos os ciclistas da cidade de São Paulo.
E está ai outro detalhe muito legal: realmente todos os ciclistas da capital passam por lá. Eu encontrei até mesmo uma garota que conheço pelas redes sociais e enrolamos um pedal há tempos. Cruzei com conhecidos da fixa, cumprimentei amigos ativistas, e reconheci outros tantos rostos familiares. Talvez o mundo da bike não seja tão grande mesmo, e precisamos investir em diminuir as distâncias que os modelos de bikes as vezes nos fazem ter.
Mas de todos os aprendizados, o mais importante com certeza foi o de estar com uma pessoa tão querida e tão distinta. A amiga que me acompanhou não tem apenas os freios da bicicleta diferentes; ela tem um processo todo que é só seu. Todos nós temos, afinal.
Em certo ponto da nossa experiência por lá, quando nos restava menos de uma hora de oficina, as milhares de pecinhas prateadas espalhadas pelo chão começaram a tirar a paciência da minha amiga. Estávamos cansadas, nunca tínhamos mexido em tantos detalhes da bike, e para completar uma avaliação na faculdade nos esperava ansiosa. Era o momento de pedir ajuda, e como é importante saber reconhece-lo quando ele chega.
Sim, a ideia da Oficina Mão na Roda é “faça você mesmo”, e mesmo que você chegue lá falando que não faz a menor ideia por onde começar, o auxílio dos voluntários e dos próprios ciclistas que estão lá para usar o espaço será apenas um auxílio, a não ser que você explique que precisa de mais uma mão na roda que não seja a sua.
E assim é a vida né. É tudo sobre nós, nosso tempo e nossos processos; ninguém é capaz de fazer por nós o que nos cabe fazer. Mas, pedir e ter empatia é crucial para que o aprendizado seja mais coletivo e humano. Vida longa a Oficina Mão na Roda!
Abaixo, você confere a videorreportagem de Renata Falzoni na Oficina Mão na Roda: