Os desafios e emoções de pedalar uma prova de longa distância
Na última edição do Audax Randonneurs São Paulo, que rolou na cidade de Boituva, ciclistas de todos os níveis pedalaram 300 km, desafiando seus próprios limites.
Participar de provas de longa distância depende de alguns fatores, que se alternam durante as horas de pedalada. A preparação, a cabeça e a forma que a situação se apresenta.
Os treinos te preparam; te deixam mais cascudo, e você vai entendendo como administrar sua máquina (o corpo). A cabeça é essencial, o corpo forte ajuda a manter o equilíbrio, mas o desgaste quilometro a quilometro vai colocando dúvidas e questionamentos. Sim, você tem vontade desistir, sim você se pergunta o porquê de ficar horas girando.
Fora o combo: corpo e mente, temos as variáveis incontroláveis, que são a pitada de pimenta em tudo isso. Este sábado, quando sai de casa às quatro da manhã, sabia que uma das maiores dificuldades seria a temperatura; a semana toda estava quente, e a previsão seria que isso se manteria.
A estratégia era aproveitar a manhã mais fresca com uma média alta e depois controlar a fadiga. Cheguei ao primeiro PC (posto de controle) cedo, acabei acelerando até um pouco demais do que deveria, isso é um dos erros mais comuns, e que causam a quebra do ciclista. Não se empolgue e não tente acompanhar o ciclista mais rápido.
O sol se colocou imponente e a temperatura passou dos 35 graus, depois dos 100 quilômetros rodados, nem cabeça, nem as pernas, ajudavam. O rendimento caiu, e passei a pensar de 20 em 20 Kms; o interessante nessa modalidade é que você vai encontrando companheiros na estrada: conversa, troca aflições e um serve de muleta ao outro, foi o que me carregou até PC3.
Almocei e parti. Temperatura de quase 40 graus, fiz quase o trecho todo com o Carneiro, chegamos muito cansados ao penúltimo PC, e troquei de parceiros, o Camilo e o menino Jeferson, que estava de MTB e uma caixinha de som, faltavam 54 km ainda.
O sol se pondo e uma aliviada na altimetri; escurece. Lanternas acesas, mal conseguia beber água, sobrava na subida e eles foram me puxando até o último quilometro, já de lanternas sem bateria e pensando na chegada.
Sim, nos pensamos nas pessoas que torcem, nas mensagens, nas empresas que nos empurram, e isso nos move a frente.
Cada prova dessa é uma espécie de se reconstruir mais forte no próximo dia, e é isso que nos liga a essa modalidade insana da longa distância.