O ‘ciclista zelador’ da Estrada Velha de Santos
Conheça o ciclista Sérgio Coelho, um morador do ABC Paulista que, como muitos ciclistas, usa a Estrada Velha de Santos para treinar, e suas horas vagas para exigir melhorias nesse importante espaço para todos nós.
Essa era para ser uma matéria sobre a falta de diálogo do Departamento de Estradas e Rodagens de SP para com os ciclistas. Mas depois de entrevistar Sérgio Coelho, foi preciso mudar ao menos o título da matéria. Isso porque, por maior que seja o desinteresse da concessionária com as questões de quem pedala na região, o ciclista Sérgio se mostra tão ativo na comunicação com o DER-SP, que melhorias em alguns trechos mais críticos tem sido feitas.

Sérgio Coelho/ © Arquivo pessoal
Uma figura como Sérgio, mais conhecido por Tufo de Algodão nas redes sociais –“é para me encontrarem mais fácil.”- mostra que insistência e embasamento nas leis de trânsito são remédios sem contra indicações na hora de reivindicar nossos direitos.
O caso é antigo. Há mais de dez anos, Sérgio e seus colegas de pedal circulam pela estrada velha para realizar seus treinos, assim como milhares de ciclistas do Estado de São Paulo. A estrada, praticamente desativada com a construção da Rodovia dos Imigrantes, se tornou um local de interesse dos ciclistas, mas não muito do DER, que vira e mexe tenta inventar alguma forma de dificultar o uso do espaço pelos cidadãos. A própria falta de manutenção das pistas é um fator de risco para os ciclistas, e é ai que entra o engajamento de Sérgio Coelho.
Sem deixar as publicações no face de lado – “eu deixou tudo público para que as pessoas possam ter acesso ao que verifico na estrada velha.”- , Sérgio enche a caixa de entrada do email do DER; manda fotos, se baseia em artigos do CTB, apresenta argumentos concisos e exige que melhorias sejam feitas para zelar pela segurança de ciclistas e pedestres que circulam por ali diariamente.

Novas placas de sinalização na Estrada Velha de Santos/ © Sérgio Coelho
O último caso de sucesso do ciclista foi a implantação de seis novas placas de sinalização, em trechos mais críticos da Estrada Velha de Santos, orientando os motoristas que ainda passam por lá sobre a preferência dos modais ativos. Além da promessa de conserto de alguns pedaços de acostamento que oferecem risco aos ciclistas, justamente por estarem aos pedaços. Sérgio só foi bem sucedido após três semanas de diálogo com Ouvidoria do DER/SP, que chegou até mesmo a acusar Sérgio de promover eventos sem autorização e tentar desmerecer suas reivindicações. “Nós pedalamos em grupos por segurança e por lazer. Ninguém ganha dinheiro com isso, não se tratam de eventos e sim do nosso direito de ir e vir.”, argumenta o ciclista.

Trecho de acostamento da Estrada Velha de Santos/ © Sérgio Coelho
Sérgio Coelho conta que essa não foi a primeira vez, tão pouco a mais grave, em que as concessionárias da região tentaram acusá-lo de promover eventos ilegais. No final de 2014 e começo de 2015, centenas de ciclistas se organizaram de forma horizontal para realizar dois protestos na Rodovia dos Imigrantes. O primeiro deles contra os assaltos que só cresciam na região, e o segundo reclamando a morte de ciclistas por atropelamentos. Na época, o mártir desse protesto foi Claudio Clarindo, ultramaratonista morto enquanto treinava na rodovia a caminho da baixada santista por um motorista que dormiu ao volante.
“Eu não cheguei nem mesmo a ser indiciado. Fui buscar meu nome na internet e descobri que existia um processo de mais de 80 páginas, com informações do meu Facebook, me acusando de ser o organizador dos protestos. Graças ao bom senso da juíza que cuidou do caso, eu fui inocentado e o direito a livre manifestação –garantido pela Constituição- prevaleceu.”, conta Sérgio Coelho.
Pelo jeito, O DER percebeu que um ciclista bem engajado pode fazer barulho e exigir melhorias que são de seu direito. “Desde os protestos as coisas tem se apresentado melhores para nós ciclistas. Os roubos diminuíram bastante, melhorias em alguns trechos estão sendo feitas e até escoltas polícias estão acontecendo. É tudo uma questão de seguir cobrando nossos direitos.”, explica o ciclista que estudou afinco o CTB para passar em um concurso da Polícia Rodoviária, mas infelizmente ainda não conseguiu.
A polícia perdeu um grande homem, mas em compensação a Estrada Velha de Santos ganhou um zelador bastante dedicado.