O Menino do Vale Europeu: O final de uma cicloviagem inesquecível
Segunda e última parte do meu relato cheio de carinho por uma cicloviagem ao lado do meu filho de 11 anos
Na chegada a Pomerode, tínhamos duas preocupações: nos salvarmos do calor esturricante e achar uma bicicletaria para solucionar os furos no pneu. Achamos a Pomociclo, tudo por aqui começa com as iniciais da cidade, trocamos o pneu e descansamos, aguardamos novamente as badaladas da igreja matriz, as seis da manhã em ponto, para seguir a jornada.
O Vale Europeu é dividido em parte alta e parte baixa, a primeira tem como principal característica a gastronomia e as inúmeras opções de micro cervejarias, o relevo também é muito mais suave, com longos trechos planos, que permitem um pedal contemplativo sem muito esforço, a parte não tão boa, é que pegamos alguns trechos de asfalto e cruzamos a rodovia algumas vezes.
Partimos para Indaial, mais 45 km com o mesmo visual do primeiro dia, a chegada é na Ponte dos Arcos, achamos por acaso um restaurante no Clube Link, onde almoçamos a beira do Rio Itajaí Açu, que corta a cidade.
Aproveitamos a tarde para ir a Vila Germânica em Blumenau, a apenas 12 km de onde estávamos, Dudu se empolgou com a loja de canecas e perguntou sobre uma tal de Oktoberfest, decidi que era cedo pra explicar, com medo dele abandonar a bike.
O terceiro dia é para quem quer seguir o protocolo dos 7 dias, mas são apenas 26 km até Rodeio, totalmente plano e com muito asfalto, adentramos a parte italiana do circuito. Ficamos em Ascurra, aliás, Rodeio, Ascurra e Apiuna, são separados por meio bloco de asfalto.
O local tinha sofrido com ventos fortíssimos e boa parte arrumava as telhas arrancadas. Fomos direto a Vinícola Mondini, cortamos cachos de uva no pé para consumir durante a viagem e provamos um licor com frutas, ervas e flores, chamado Bonican, bebida típica do Itajaí que ajuda na digestão; amargo demais.
O quarto dia marca a entrada na parte alta, onde nos distanciamos um pouco da civilização e ganhamos a presença mais forte da natureza, e a caminho de Dr Pedrinho, subimos o famoso Caminho dos Anjos, com mais de 100 estátuas de anjos, espalhadas segurando hortênsias nas mãos, pela primeira vez o Dudu pediu para descer pra pedalar. O tempo estava nublado, com uma névoa grossa, os 8km de subida, com o cheiro fresco da manhã, o som do rio correndo, as imagens, e o filho ao lado, provocaram um sentimento de paz e felicidade, era dia 31 de dezembro, último dia do ano.
Chegamos a Bella Pousada, que fica no alto da cidade de Dr Pedrinho, fomos a Gruta de Fátima, que tem uma linda queda água, cercada de flores ,e a noite ceiamos junto com os donos da pousada, que durante a tarde caprichavam na decoração de ano novo, e mais alguns cicloturistas, Dudu dormiu as 19:30, acordei para ver o nascer de 2017 e foi um dos mais lindos que já vi
Seguimos rumo a Rio dos Cedros, ou parte dos lagos, o preparo diário pré pedal já fazia parte da rotina, nos embrenhamos mais ainda na natureza, 35 km e não vimos carros, apenas moradores trabalhando bem cedo nas suas terras, o visual da chegada na barragem é deslumbrante, nos refrescamos e seguimos até o hotel Paraíso das Ilhas a beira do lago, com stand up, caiaque e pedalinho (lógico que com o strava ligado), Dudu ficou intercalando as atividades até as 20 horas quando o sol descansou, sem antes fazer uma despedida memorável.
Sexto dia, rumo a Palmeiras, a última cidade inédita do circuito, outra barragem, o terreno fica um pouco mais técnico, com mais pedras, e nossa hospedagem seria em cima do Mercado Palmeiras, em um Cama & Café com banheiro compartilhado, Dudu precisava entender que precisamos nos adaptar as situações que vida nos apresenta, reclamou um pouco, mas a Cachoeira Formosa, onde fomos e ele ficou por 2 horas, molhado e maluco embaixo, compensou a acomodação espartana.
Hora de voltar a Timbó, nosso guia foi pedalando conosco, nós três, dividindo o sentimento de nostalgia de fim de viagem, com a vontade completar o desafio, achei delicioso o trecho, um pout pourri de tudo que vimos, cachoeiras, rios, pontes, hortênsias, até a chegada formidável, todos juntos no Thapyoca.
Acordamos no dia seguinte, e rumamos para Piçarras, onde passamos o dia no Beto Carrero como prometido e finalizamos com um merecido banho de mar.
Como pai, me sinto premiado de poder ter compartilhado de forma intensa essa história com meu filho, pensei nas lições, mas acho que o que ficará marcado é o laço afetivo desses dias juntos de convívio e descobertas, vivendo os momentos pela primeira vez, eu e ele. Não sei se ele tem ideia da dimensão do que viveu, percorreu quase 150 km, conheceu 10 cidades e tem um Certificado do Vale Europeu na parede, para quando quiser lembrar de mim.
Assista ao vídeo da nossa chegada: