Contagem inédita revela que mais de 20 mil pessoas andam a pé e de bike nas Marginais de SP
A Ciclocidade realizou duas contagens inéditas nos últimos dias, uma primeira na Marginal Tietê e uma segunda na Marginal Pinheiros, ambos na pista local
Ao longo do ano, a redução de velocidades nas Marginais Tietê e Pinheiros rendeu debates acalorados em São Paulo, mas nem sempre as pessoas se baseavam em dados concretos para defender posições.
Na última semana, a Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo) e a Cidadeapé realizaram as primeiras contagens de ciclistas e pedestres dessas vias expressas da cidade de São Paulo e os números revelaram um grande uso delas por parte de quem opta pelos modais ativos. Mais de 20 mil pessoas foram registradas em apenas dois pontos das duas marginais, que cortam a cidade por quase 40 km.
Da marginal Pinheiros vieram os números mais impressionantes. Ao longo de um dia, foram contados 19.302 pedestres nas calçadas da pista local, além de 159 pessoas se deslocando em bicicleta. O levantamento foi realizado das 6h às 20h no cruzamento da marginal com a avenida João Doria, próximo à ponte Morumbi e à estação de trens da CPTM.
No caso da Marginal Tietê, a ação observou que 668 pedestres e 643 ciclistas utilizam esse importante eixo viário, mesmo não havendo condições favoráveis para tal. O levantamento foi realizado na pista local, altura da ponte Freguesia do Ó, também entre 6h e 20h.
A marca quebra alguns mitos sobre o uso da marginal, especialmente nas pistas locais. O número de ciclistas registrado na Marginal Tietê, por exemplo, equivale a apenas 90 a menos do que o levantado na primeira contagem feita na Avenida Paulista, ainda em 2010. Na mais importante avenida da cidade, a implantação de ciclovia fez esse número saltar para 2.112 ciclistas.
Em ação movida contra a prefeitura no ano passado, a OAB-SP chegou a chamar de “suicidas” os pedestres que se deslocam pelas marginais. “Não é possível que milhões de paulistanos e paulistas sejam responsabilizados pela morte de pedestres irresponsáveis que desafiam o direito e manifestam o desejo de perder a vida voluntariamente. O direito lamenta o suicídio, mas não tem como puni-lo”, dizia a peça.
Um ano após a mudança nas velocidades, as mortes caíram pela metade nas duas vias – foram 31 vítimas fatais de junho de 2015 a julho de 2016, contra 64 nos 12 meses anteriores.
O aumento das velocidades nas marginais foi uma das principais bandeiras de campanha do prefeito eleito João Doria (PSDB). O tucano prometeu mudar os limites na primeira semana de janeiro, mas já indica que pode rever a decisão, especialmente no caso das pistas locais. A ideia inicial era aumentar de 70km/h para 90km/h na pista expressa, 60km/h para 70km/h nas centrais e 50km/h para 60km/h nas faixas locais.
Para Daniel Guth, Diretor da Ciclocidade, as contagens realizadas nas Marginais Pinheiros e Tietê comprovam que essas pistas não podem mais ser consideradas vias expressas: “você tem acesso a lotes lindeiros, mais de 200 vias com ondulações de 90 graus para acessos, pontos de ônibus, supermercados, uma dezena de shoppings centers. Ou seja, você tem todo um contexto de vida e modos ativos de deslocamentos que já não podem considerar as marginais vias expressas.”, declarou Guth em entrevista ao Bike é Legal.
Dados mais detalhados da Marginal Tietê
Tratando-se de uma via sem ciclovia, essa massa de ciclista se distingue na maneira como ocupa a rua para conseguir acessar os quatro pontos de origens e destinos observados: Inajar de Souza (ZN), Casa Verde (ZN), Lapa/Vila Roamana (Centro) e Ponte do Piqueri. Dos 643 ciclistas, 234 pedalam na calçada e 48 na contra mão.
Sobre a ocorrência de muitos ciclistas na contramão, a organização da Ciclocidade declarou: “Praticamente todas as ocorrências de ciclistas na contramão se referem a pessoas que contornavam um trecho de saída da ponte da Freguesia do Ó (via rua Rosas de Ouro, ver no mapa) para conseguir acesso à calçada protegida que possibilita cruzá-la.”
Em comparação com a baixa média de mulheres pedalando na cidade de São Paulo -algo em torno dos 7%-, o número de ciclistas do sexo feminino que usam a Marginal Tietê é ainda menor: 15, pouco mais de 2% do total. Já entre as crianças e adolescentes usando a bike na via, a porcentagem é de 1,5% (10 ciclistas), mantendo a média observada em outros pontos da cidade.
Dados mais detalhados da Marginal Pinheiros
A contagem foi feita na pista local da Marginal Pinheiros, desconsiderando os ciclistas que utilizam a ciclovia administrada pela CPTM. As origens e destinos observados foram Berrini, Ponte João Dias e Shopping Morumbi. Observe nos gráficos a baixa a distribuição dos ciclistas:
Também foram contabilizados 15 ciclistas pedalando na contramão e 18 na calçada.
A porcentagem de mulheres pedalando na pista local da Marginal Pinheiros é mais alta do que na da Marginal Tietê, sendo 3,1% (cinco mulheres). Crianças e adolescentes foram 3,8% dos ciclistas contados, seis no total.
No vídeo abaixo, você confere a reportagem especial de Renata Falzoni e Murilo Azevedo: