A bicicleta torna São Paulo possível!
Ficou claro para mim que quando comprei uma bicicleta, ganhei uma cidade inteira de presente, estava ali, se oferecendo para ser descoberta
Quem mora nos grandes centros urbanos, invariavelmente, repete diariamente, ou mensalmente, um mantra que ecoa pelo concreto e asfalto: essa cidade está impossível!

Ciclovia da Paulista / © Acervo Bike é Legal
Frase proferida no caos do dia-dia, na corrida sem esperança contra o relógio e os compromissos, na tentativa de segurar tudo apenas com as duas mãos, na impotência de efetivamente não ser dono do seu tempo, no barulho das buzinas, sirenes e motores que embaçam nossa visão e tudo aquilo que podia ter de interessante ao nosso redor.
Voltando um pouco no tempo, quando comecei a pedalar fazia com grupos pela noite de São Paulo e o que mais gostava não era o exercício, ou quantos quilômetros e a que velocidade eu ia, mas sim conhecer bairros, lugares tradicionais que já havia ouvido falar, mas que nem imaginava como chegaria. Rodar pela Mooca, Liberdade, Bixiga, o Centrão, com fama de perigoso e inóspito, com toda sua beleza arquitetônica, parar em frente à Igreja da Sé, em silêncio, quando praticamente não havia ninguém.
A imponente Avenida Paulista onde existe a Praça do Ciclista, a Praça dom José Gaspar (nome do meu pai), onde tomei café no Paribar, a Pinacoteca, o Mercadão, a Praça Benedito Calixto, o Pacaembu, o pernil do Estadão, a famosa esquina da Ipiranga com Av. São João.
Ficou claro para mim que quando comprei uma bicicleta, ganhei uma cidade inteira de presente, estava ali, se oferecendo para ser descoberta. Antes uma porção de ferro e vidros nos separava, não me sentia íntimo do lugar que eu morava por 40 anos.
Passei um bom tempo evitando circular, a preocupação de como chegar, onde parar, quanto tempo levaria fez com que eu resolvesse minha vida no bairro, não buscava o que realmente gostaria e sim aquilo que era mais cômodo e me pouparia de enfrentar o stress de se locomover, tudo era muito distante.
A bicicleta alterou completamente meus parâmetros de distância e prazer, passei a gostar do caminho, conhecia coisas novas, me sentia feliz e as distâncias, por incrível que pareça, diminuíram. Eu era orgânico, parte da vida da cidade.
Passei a fazer o que tinha vontade, vou comer o melhor lamen na Liberdade, o chopp que gosto em Pinheiros, o cinema na Rua Augusta, a pizza na Treze de Maio, e as vezes pego a estrada e vou para outra cidade, só para saber o que ela pode oferecer.
A bicicleta me deu a certeza que sim, a Cidade é Possível, depende da sua postura diante dela. Quero mostrar as infinitas formas de interagir com a gigante São Paulo, que tem muito mais a oferecer do que a assustar.