A primeira prova de ciclismo de estrada de um apaixonado por MTB
Essa dinâmica ocorreu pelos 15 km iniciais, em um perde e ganha de posições entre os humanos, enquanto os de outro planeta sumiam de vista.
Nunca é fácil acordar às três da manhã, ainda mais depois de um jantar entre amigos e uma esticada um pouco além do programado. Só que se existe desafio marcado, é preparar o necessário e seguir para a largada.
Ricardo Gaspar
Largada da Prova VO2
Esse último domingo (15) tivemos a volta da Copa Vo2 de ciclismo de estrada e seu desafiador trajeto de 48 km, partindo de Santo Antônio de Pinhal, passando pela temida serra da Estrada Velha de Campos e chegando ao bairro do Capivari (Campos do Jordão), cidades com distâncias de aproximados 170 km da capital paulista.
Essa foi minha primeira prova de ciclismo de estrada. Acostumado com mountain bike, foi perceptível a diferença entre as modalidades. Com a largada lançada, um carro segue alguns metros à frente com os ciclistas partindo em movimento, deixa esse momento elétrico, as bicicletas mais próximas e a velocidade muito maior. Nos faz sentir em alguma briga de equipes das sonhadas provas mundiais.
Essa dinâmica ocorreu pelos 15 km iniciais, em um perde e ganha de posições entre os humanos, enquanto os de outro planeta sumiam de vista. A grande dúvida era o quanto forçar nessa etapa, sabendo que do km 22 para frente seria subida…muita subida.
A disputa entrou em um passo mais calmo, assim que chegamos ao trecho da conquista do rei da montanha, para quem não conhece, é o título concedido a quem faz o segmento em menor tempo. Os competidores ficaram mais longes uns dos outros, a velocidade caiu bruscamente, e era possível conversar e sofrer junto com o companheiro ao lado.
Nos pontos de hidratação, ao invés dos copinhos de água, a organização dava caramanholas cheias, com a frase, “Quanto maior o desafio, maior a conquista.”, mesmo tendo água, peguei uma delas para guardar de recordação.
No próximo ponto a mesma coisa, mas já estávamos mais cansados de tanto escalar, peguei novamente pensando em um pra cada filho, e nesse momento a cabeça começou a racionalizar, – Pra que você vai levar mais um quilo de peso essa subida toda? Tá faltando caramanhola em casa?
Fiquei uns bons minutos e decidi dispensar o supérfluo, meio que aliviado. Quando levanto a cabeça vejo o outro ciclista, ele apenas esvaziou o conteúdo e guardou o objeto praticamente sem peso. Olhei para trás e o meu ainda rolava ladeira abaixo. Senti duas grandes orelhas querendo sair do capacete, abaixei e continuei.
O desafio reuniu quase 1000 participantes, a temperatura estava em torno dos 8 graus na largada, chegando ao 16 durante a prova. O vencedor masculino foi Antônio Garnero, com o tempo de 1:25 minutos. No feminino, a atleta de 49 anos, que já participou de triathlon e faz corridas de aventura, a mineira Tamara Vilela, levou com 1:49 min, eu fui no ritmo que aguentei e cheguei com 2:05 minutos, aliviado de cruzar a risca.
A paisagem da serra é sensacional e durante a dura subida é possível ter prazer nos olhos, enquanto as pernas trabalham duro. Toda organização esteve impecável do início ao fim, na chegada havia painéis para foto, isotônico e alimentos para os atletas.
São esses eventos que promovem e divulgam o ciclismo brasileiro, apesar de tantas dificuldades, é possível fazer uma bela prova. Ano que vem tem mais, já separe espaço na agenda, que essa vale muito.