Cicloturismo: No ABC Paulista, Caminho do Sal conta histórias e derrama suor
O Caminho do Sal completo, passa por São Bernardo, Santo André e Mogi das Cruzes, e é dividido em três trechos, Zanzalá, Caminho dos Carvoeiros e Bento Ponteiro.
Aos que querem experimentar uma cicloviagem, mas tem agenda apertada ou se sentem inseguros, o Caminho do Sal é uma ótima opção, para sentir um pouco dessa liberdade de cruzar cidades, terra e asfalto pedalando. Desta vez, subimos em treze na van e fomos. E como a rota não é circular, alguém precisa te aguardar no destino, pra voltar pra casa.

Caminho do Sal, ABC Paulista / © Fábio Saito
Essa rota começa no km 34 da Estrada Velha, para quem já quer pedalar na terra, ou é possível seguir pelo asfalto até Rio Grande da Serra e no Bar do Sujinho iniciar a aventura. Nós preferimos partir do pensamento que quanto menos carro melhor, ou seja, vamos para a trilha o quanto antes.
O Caminho do Sal completo, passa por São Bernardo, Santo André e Mogi das Cruzes, e é dividido em três trechos, Zanzalá, Caminho dos Carvoeiros e Bento Ponteiro.
O primeiro deles, Zanzalá, tem os primeiros registros em 1640, quando era usado para transporte de sal entre os povoados, em 1722 o então Rei de Portugal, D. João V, pediu para interditar o trecho, pois estava sendo usado para desviar ouro e riquezas da coroa. Esse é o pedaço mais duro e técnico, começa com estradão e logo aparecem as boas subidas e muitas pedras, algumas vezes o kit é completo: subidas e pedras, e segue até chegar ao asfalto da rodovia que leva a Paranapiacaba. Após girarmos pela rodovia, nos agrupamos em um pequeno bar na entrada da Estação, uma boa parada para hidratar e comer algo. Seguimos e atravessamos os trilhos e como diz a crença, a cada trilho, levantávamos as pernas e fazíamos pedidos.
A segunda parte, Caminho dos Carvoeiros ou Lenhadores, tem esse nome porque era usado para transportar lenha para as locomotivas e olarias da região, logo no início é possível avistar a Estação de Campo Grande, hoje apenas um esqueleto, e encontramos a estátua do Divino Redentor, na Capela do Bom Jesus. Diz a história, que a estátua do Redentor perdeu uma das mãos, após Angelin Arnoni -revoltado com os vinte e cinco dias de chuva consecutivo, atrapalhando o trabalho dos carvoeiros- ter resolvido dar um tiro na estátua e fez o sol brilhar no dia seguinte.
A última é a mais bela parte, Bento Ponteiro, foi um dos primeiros moradores do Alto da Serra e com talento para construir pontes e estradas de ferro, personagem símbolo do local, está enterrado na Igreja de Nossa Senhora de Paranapiacaba, em um terreno que ele mesmo cedeu. O caminho que leva seu nome, passa pelo Parque Estadual da Serra do Mar e por uma parte intacta da Mata Atlântica, vegetação exuberante e paisagem incrível. Passamos por Taquarussu que já foi uma vila com mais de 40 casas, quando fornecia carvão, hoje a propriedade foi cercada, mas ainda vemos uma bem cuidada igreja e um lindo lago, já faz parte de Mogi das Cruzes.
Seguimos alternando terra e asfalto, em alguns trechos acompanhados pelos oleodutos, quando passamos debaixo de um deles, encontramos o Pesqueiro 11, paramos e fomos surpreendidos por um belo lago e uma senhora japonesa fazendo yakisoba acompanhada de uma arara, revigorados fomos ao destino final, a pequena Taiaçupeba, onde finalizamos aos pés da igreja, localizada na praça. O percurso total tem perto de 54 km com 800 metros de altimetria, sendo a primeira metade mais dura, é possível fazer no modo contemplativo em 4 ou 5 horas.
Um passeio delicioso, que mistura a rica história do Grande ABC, com a beleza natural, o cenário das ferrovias que leva nossa imaginação a remontar aquela época, com as locomotivas cruzando os trilhos carregadas, fazendo seu som característico, nesse paralelo do tempo.