Entenda a polêmica dos freios a disco em bikes de estrada
Diferente das provas de Mountain Bike, onde os pilotos andam a maior parte do tempo separados, no ciclismo de estrada a maioria deles andam a prova toda juntos
Apesar de estar no mercado há pouco mais de 13 anos lidando com produtos e acompanhando algumas das principais competições, eu pratico o ciclismo de estrada há apenas 9 meses e estou apaixonado pela modalidade.
Rio 2016: Evento teste de ciclismo de estrada
Rio 2016/Alex Ferro
Tenho aprendido muito não só como ciclista, mas também no que diz respeito a tecnologias que envolvem as bicicletas dessa modalidade. Ano após ano tenho observado e sido surpreendido pela indústria que não tem limites no desenvolvimento das bicicletas e seus componentes. Quando você acha que toda a equipe de desenvolvimento e produção de uma empresa, matéria prima e pilotos estão próximos de seus limites, todos eles nos surpreendem com uma novidade!
Quem acompanha provas de ciclismo, mesmo que há pouco tempo, já deve ter observado que diferente das provas de Mountain Bike, onde os pilotos andam a maior parte do tempo separados ou em grupos bem menores (nas maratonas), no ciclismo de estrada a maioria deles andam a prova toda juntos e com isso as quedas no pelotão acontecem com uma certa frequência. Fato que sempre me preocupou imaginando o estrago que as laminas quentes e cortantes dos freios a disco seriam capazes de fazer nessas situações. Desde o primeiro rumor que ouvi há tempos sobre freios a disco em bicicletas de ciclismo eu “torci o nariz” e de cara já não gostei e não acreditei que essa moda pegaria. O argumento das empresas que adotaram essa ideia era sempre o mesmo: “melhor potência de frenagem = maior segurança” e minha opinião sempre foi contrária em relação a segurança, vocês entenderão o porque.
Na minha concepção há tecnologias necessárias e que trazem benefícios muito significativos aos ciclistas. No desenvolvimento de todas as peças de uma bicicleta há muito estudo e tecnologia envolvida e eu não estou aqui nem de longe para me sobrepor ou passar por mais inteligente do que os técnicos que optaram pela aplicação dos discos nas Road Bikes. Estou sendo bem pontual na questão dos freios, pois na última edição da clássica prova de ciclismo Paris-Roubaix, dentre algumas quedas tivemos uma envolvendo o ciclista Fran Ventoso da equipe Movistar que sofreu um profundo corte em sua perna esquerda causado por um freio a disco de uma bicicleta de outra equipe e teve que abandonar a prova. O diretor esportivo de sua equipe declarou que o corte foi tão profundo que era possível ver a tíbia e o ciclista passou por cirurgia em um hospital francês.
Desta vez o corte foi na perna, mas quem garante que não pode ocorrer na mão, ou até mesmo no rosto de um ciclista em uma queda com tantos outros? Eu acho que a indústria deveria “colocar na balança” de um lado os benefícios apresentados pela melhora da frenagem da bicicleta e do outro os riscos de mutilação de todo um pelotão. Para finalizar quero dizer que o fato é que na minha opinião o ciclismo está ficando muito high-tech e “enfeitar” de mais as bicicletas vai fazendo com que se perca aquele toque do esporte “clássico”, onde o ciclista precisa ter o feeling para sentir a bicicleta, as sensações em cima dela entre uma corrida e outra, apurando por si só as possibilidades diversas.
Conversei com alguns ciclistas a respeito e por mim mesmo posso afirmar que usando os tradicionais freios ferradura, tudo bem ajustado e de qualidade é capaz sim de fazer com que a bicicleta desacelere muito bem em qualquer situação. Cabe ao ciclista conhecer seu equipamento e também saber seu próprio limite para garantir sua segurança.
Quero ver o esporte evoluir, mas evoluir com segurança.
Agradeço desde já a leitura de todos, deixem suas opiniões e boas pedaladas!