Dos 8 aos 80, a bicicleta como máquina da felicidade
Fui atrás da Cláudia Franco da Ciclofemini que de grande executiva, largou a carreira aos 50 anos, aprendeu a pedalar e hoje é uma das principais responsáveis pela formação de novos ciclistas
Todos nós já escutamos da importância da bicicleta como objeto transformador, dela como opção de mobilidade inteligente e limpa, sem emissão de poluentes, dos desafios de distância, das viagens e dos lugares lindos que conseguimos ver montados nela, mas em duas fases da vida alguns aspectos são muito mais que isso.
Divulgação
Cláudia Franco em ação
Cresci em uma casa, num bairro relativamente calmo, e distante da maioria das coisas, o aprender a andar de bicicleta foi sem dúvida, a primeira grande conquista, ela não só me mostrou que eu era capaz, mas abriu a porta de casa para o mundo, era a forma de desbravar as ruas junto com a turma, ir a lugares que pareciam muito distantes, passar na frente da casa da menininha bonita da escola, aliás numa dessas, resolvi pedalar sem as mãos e a vergonha do ocorrido fez eu riscar essa rua do mapa por um bom tempo, enfim, a tal da bicicleta gerava uma série de possibilidades.
Além dessa inserção natural das crianças no mundo pedalante, hoje temos também os adultos maduros aderindo a essa atividade, que gera inúmeros benefícios, desde a melhoria da saúde, até a parte da socialização que é de grande valia nessa fase, e existem sim, muitos adultos que nunca aprenderam andar de bike, por circunstâncias diversas e que hoje, podem se arriscar a aprender com um agente facilitador, que são as escolas de bicicletas para iniciantes.
Fui atrás da Cláudia Franco da Ciclofemini que de grande executiva, largou a carreira aos 50 anos, aprendeu a pedalar e hoje é uma das principais responsáveis pela formação de novos ciclistas, hoje pela manhã enquanto conversava com a Cláudia, fui presenteado com as histórias das amigas Maria Rita Alves e Rosali Bulhões ambas na casa dos sessenta anos, que estavam na terceira aula, questionei os motivos que as levaram querer aprender a se equilibrar em duas rodas.
Maria Rita contou, “que eram meninas em Minas Gerais, que não era comum o uso da bicicleta, devido a geografia do estado, os grandes e famosos morros de MG, e isso demandava muito esforço físico, e que deixaram de lado, o tempo passou e uma matéria despertou a vontade de pelo menos tentar, nesse primeiro momento não pensam nem nos benefícios, apenas no prazer de pedalar”.
O outro caso é do produtor de videoclipes Maurício Eça, que com 45 anos, explicou “…de pequeno quando fui tirar as rodinhas, cai e me desinteressei sem que houvesse alguém que me conduzisse a uma nova tentativa, durante a juventude escapei de situações que envolviam o assunto, sem querer assumir que não sabia pedalar, cheguei até a ter uma tentativa frustrada na Dinamarca com um amigo, mas que o que me fez buscar auxílio foi a insistência da namorada que teria que pedalar “, pra variar as mulheres nos encaminhando para os acertos da nossa vida, e hoje na segunda aula ele já saiu pedalando fácil e com o sorriso no rosto.
Com as crianças, o envolvimento emocional ainda é maior, elas chegam frustradas, depois de diversas tentativas sem sucesso, a auto estima lá embaixo, os amigos todos pedalam e ela ainda não, a criança chega sem acreditar que conseguirá, o professor Marcelo logo de cara já muda o cenário com palavras positivas e exercícios de equilíbrio, alguns fora da bicicleta, trabalha os reflexos e respostas por impulso, tudo isso com o olhar e torcida de mãe e avó que geralmente estão presentes acompanhando.
Com uns trinta a quarenta minutos da primeira aula, eu vi as primeiras pedaladas, o sorriso da mãe e o ar de vitória da pequena ciclista, final de aula, a criança chorando abraçada com a mãe, e eu com os olhos cheios de lágrimas, entendendo a importância daquela primeira grande conquista dela.
Questionei Cláudia sobre a preocupação da responsabilidade de preparar ciclistas que ocuparão as ciclovias e ruas da cidade, ela sabe desse peso e orienta com o maior carinho e atenção essa formação, definindo fases até que o ciclista ganhe a “carteira de habilitação” para as ruas, como história que a marcou, ela ilustrou um aluno excepcional, que mal falava e tinha uma expressão tensa e carregada, e após as aulas, passou pedalando sereno e gritou o nome dela. Sim a bicicleta também é muito especial, e funciona muito bem dos 8 aos 80.