Memorial-Santos lança calendário sensual para promover equipe feminina. Você acha válido?
Apesar de entender o trabalho e admirar essas mulheres, minha primeira reação ao saber do calendário foi questionar o por quê de ser uma ação exclusiva para a equipe feminina.
Na semana passada, a equipe de ciclismo Memorial-Santos apresentou seu novo time para o ano de 2016. Dentre os destaques, estão o ciclista Rafael Andriato na categoria masculina e Ana Polegatch e Camila Coelho, na categoria feminina. A equipe também já tem dois nomes certos na Paralimpíada: Lauro Chaman e Soelito Ghor.
Durante o evento, a Memorial-Santos também fez o lançamento de um calendário comemorativo para o ano de 2016, com fotos das atletas femininas em poses sensuais. Segundo a assessoria da equipe, a ideia do calendário veio das próprias atletas, que entenderam a ação como uma forma de promover o esporte e a categoria.
Divulgação
Equipe femina no lançamento do calendário 2016
Apesar de entender o trabalho e admirar essas mulheres, minha primeira reação ao saber do calendário foi questionar o por quê de ser uma ação exclusiva para a equipe feminina. E por mais que a resposta oficial tenha sido que a exclusividade do calendário é uma questão de dar mais visibilidade para “as meninas”, meu senso crítico ainda me diz que a razão para isso é o fato do corpo feminino ser mais vendável.
Estamos bastante acostumados com corpos seminus de mulheres estampando capas de revistas e tratamos isso com tanta naturalidade, quando não tratamos com tal naturalidade uma mulher amamento em um ambiente público. O fato é que a relação da nossa sociedade com corpos femininos é bastante problemática e por diversas vezes coloca a mulher como um objeto sexual de livre exploração e apropriação.
Enxergo as diferenças de uma ação como essa e, por exemplo, do desfile promovido pelo Atlético-MG, onde modelos desfilaram só de calcinha a nova camiseta do clube – diga-se de passagem a campanha causou muitas críticas entre os internautas. Mas além das diferenças, enxergo também as semelhanças dessas duas ações e de tantas outras que permeiam nossa publicidade; corpos de mulheres vendem melhor o produto.
A lógica é tão complexa, que não só homens gostam mais de verem mulheres saradas nos outdoors, como muitas mulheres assistem a isso inertes, mais afetadas por um padrão de beleza que ali está sendo imposto, do que pelo fato de a sua frente ter uma mulher com os seios de fora – coisa que nem em casa podemos fazer, frente a pais e irmãos.
Está aí um bom exemplo: como pode nosso sociedade lidar com peitos de subcelebridades nas vitrines de bancas de jornais e achar um desrespeito uma filha que quer ter a liberdade de ficar sem camiseta em casa?
O que posso dizer, como mulher, é que nossos corpos só são aceitos dentro dos padrões e dentro das regras, por mais absurdas que elas sejam. E ai de você querer mudar essa situação, vai comprar muita briga!
Do fundo, acho que nesse texto não cabe uma conclusão, pois o problema é tão enraizado que antes da solução vamos precisar refletir muito. Por isso, uso da reflexão como forma de questionar você leitora ou leitor do papel que está exercendo como consumidor, como familiar e como ser humano. Onde está o seu senso crítico sobre as coisas que o rodeiam, o que é válido e o que é desnecessário do seu ponto de vista? Ou mais, o que faz de fato o mundo mudar?
Para os ainda curiosos, seguem as fotos divulgadas pela Memorial-Santos: