História da bike na Alemanha: A fantástica máquina inventada pelos alemães
Para entender a história da bicicleta, não só na Alemanha, mas no mundo, é importante ter algo em mente: a promoção ou não da bicicleta sempre teve uma relação muito próxima com a economia
Minhas primeiras pedaladas na Alemanha me trouxeram vários choques, positivos e negativos, na forma como as cidades são (ou não) planejadas para a bicicleta e como se dá a relação entre as pessoas no trânsito. Por isso, para começar meu processo de aprendizagem por aqui, percebi que a melhor forma seria compreender como tudo começou, ou seja, a história do país com relação a bicicleta e ciclomobilidade. E de fato é uma história peculiar…
Para entender a história da bicicleta, não só na Alemanha, mas no mundo, é importante ter algo em mente: a promoção ou não da bicicleta sempre teve uma relação muito próxima com a economia e desenvolvimento de um país. Isso ditou a sua invenção, a sua cultura no trânsito e muitas vezes a sua rejeição.
A Alemanha teve um papel fundamental para a construção dessa história e um processo raro da promoção da bicicleta, o que com certeza influencia sobre sua cultura de uso, em especial pela ótica da ciclomobilidade, ou seja, do sistema cicloviário nas cidades.
Portanto, confira a seguir a história da bicicleta na Alemanha, do planejamento urbano voltado aos ciclistas e seus movimentos cicloativistas em 3 partes.
Obs.: Vale mencionar que muitos registros sobre a história da bicicleta da Alemanha, em especial pelo aspecto político e de movimentos ativistas, são incertos ou incompletos. Portanto, se tiver alguma informação para complementar ou corrigir, deixe seu comentário.
A fantástica máquina inventada na Alemanha
A história da bicicleta na Alemanha começa desde sua invenção propriamente dita, lá no começo do século 19 e por um motivo muito curioso.
Muitos acreditam que a bicicleta foi inventada por limitações técnicas das carroças, mas o verdadeiro motivo foi a escassez de alimentos na Europa nos anos 1810, o que tornou muito caro alimentar cavalos e causando com que muitos acabassem sendo mortos.
Uma solução chegou em 1817 com o velocipede, inventada na Alemanha e rapidamente disseminada em outros países da Europa por sua praticidade no tamanho e manuseio, além de ser um transporte individual, assim como o cavalo. O nome verdadeiro que surgiu na Alemanha foi “Draisine”, nomeada pelo seu inventor Baron Karl Drais von Sauerbronn. A principal diferença com relação as bicicletas de hoje em dia é que essa não tinha pedais, então para a pessoa “pedalar”, tinha que empurrar com os pés no chão. Ela pesava 15 kg e continha rodas tamanho aro 24, equivalente a uma bike de criança entre 8-14 anos.
JP Amaral
Eu e a réplica da primeira bicicleta inventada – a “Draisine” ou velocipede (1817)
A bicicleta portanto ganhou uma grande fama na Alemanha, trazendo novos modelos e sistemas de pedal e correntes bem diferentes e invenções fascinantes. Veja, por exemplo, a Wanderer No. 15 (foto abaixo), inventada no começo da 1a Guerra Mundial, quando houve uma grande escassez de borracha e as pessoas tinham que entregar forçadamente os pneus de suas bicicletas para o exército. Criativamente, foi inventado um pneu feito de aço com molas. Ótima invenção para não ter nenhum pneu furado, mas praticamente incapaz de absorver o impacto do asfalto ou mesmo de freá-la.
Arquivo público
Wanderer No. 15, a bicicleta com pneu de aço
E então foi com o Eureka (foto abaixo), triciclo criado em 1885, que Carl Benz teve a ideia de colocar um motor e criar o carro. Daí em diante foi apenas uma questão de tempo para os carros dominarem as cidades. Aos poucos, pedestres foram afastados para as calçadas e grandes vias substituíram as antigas ruas onde todos tinham direitos iguais, mesmo considerando que os ciclistas e pedestres ainda eram a grande maioria nas cidades e o carro apenas um instrumento de lazer.
Arquivo público
Eureka, bicicleta que inspirou a criação do carro (1885)
Ainda assim, isso não impediu que a Alemanha continuasse sendo um país de invenções das bicicletas e posteriormente as inserindo em seu planejamento cicloviário, porém com uma história peculiar, guiada pelo regime Nazista.
Confira em seguida a PARTE 2 no Bike é Legal…