A morte de Claudio Clarindo e as tantas outras que somos obrigados a engolir
Mas a morte de Clarindo não é um fato isolado. Ele faz parte de um problema crônico e infelizmente sem previsão de ser solucionado.
É com muita tristeza que comento a morte de um dos maiores nomes do ciclismo no Brasil. Um dos 10 melhores ciclistas de longa distância do mundo, Claudio Clarindo faleceu na manhã do dia 25 de janeiro, ao ser atropelado por um motorista que dormiu ao volante, atravessou a pista acertando Clarindo e outro ciclista, Jacob Amorin, que teve fraturas múltiplas nas pernas mas seu quadro já é estável. Clarindo e Jacob treinavam na Rio-Santos.
Divulgação
Claudio Clarindo faleceu na manhã do dia 25 de janeiro
Mas a morte de Clarindo não é um fato isolado. Ele faz parte de um problema crônico e infelizmente sem previsão de ser solucionado.
Sabemos que fatalidades podem acontecer e quem pedala na estrada assume certos riscos, é verdade. Mas não acredito que isso deveria ser tratado dessa maneira. Precisamos nos juntar e clamar por mais segurança, infraestrutura e… empatia! Esta não precisaria entrar na conta se não víssemos o festival de ignorância que ganha voz na internet, colocando muitas vezes a vítima como responsável pelo seu próprio óbito. Mais além, não podemos compactuar com tanta negligência e impunidade. Digo isso pois a fatalidade desse caso em questão não pode servir como justificativa para inocentar o autor do atentado, como tem sido recorrente em tantos “acidentes” por aí.
Apenas para relembrar os absurdos que somos obrigados a engolir:
– A absolvição do filho do bilionário Eike Batista, Thor Batista (que nome é esse?) que em março de 2012 atropelou e matou um ciclista que cruzava a Rodovia Washington Luís (BR-040), na altura de Xerém, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Pelos cálculos da perícia, sua velocidade era de 135km/h.
– O SOCIOPATA do Golf preto, Ricardo José Neis, que avançou friamente contra um grupo de ciclistas que participavam da Massa Crítica em Porto Alegre e que pelo menos 15 ciclistas ficaram feridos. “Quatro anos depois, Ricardo Neis, 51 anos, segue em liberdade. Por meio de um recurso, o processo que acusa o bancário de 11 tentativas de homicídio chegou a Brasília, onde está há cerca de um ano à espera da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).” fonte
– O ciclista Jaime Gold de 57 anos, que foi esfaqueado por dois adolescentes na Lagoa, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
– O bêbado motorista Luiz Antonio Conceição Machado que atropelou e matou um atleta dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP).
Casos como esses não seriam encarados de forma tão branda em nenhum lugar do planeta! Porque isso seria fechar os olhos para a barbárie. Seria assinar um atestado de incompetência por parte das autoridades responsáveis. Mas infelizmente essa é uma realidade no país do futebol. Aliás, como um país que não investe em outro esporte que não esse corre-corre-atrás-da-bolinha, um país onde a grande mídia não solta uma linha quando temos a primeira equipe brasileira no Pro Continental, onde alguns poucos que se arriscam são hostilizados nas cidades e brutalmente atropelados nas estradas… Como esse país vai ser palco dos próximos Jogos Olímpicos?
No fim, fica um sentimento de revolta misturado ao medo de viver em uma sociedade que trata sociopatas com essa negligência, mas vota em favor de mais crianças na cadeia. O Brasil poderia ser incrível e as oportunidades muito melhores. Eu costumava ser mais otimista, mas a cada notícia como essa do Clarindo levanta a triste suposição, de que talvez nem os meus netos possam conhecer um Brasil de 1º mundo.